Artigo

TOMÁS SEIXAS: MARGINAL, ANÔNIMO E INCLASSIFICÁVEL

TEXTO FÁBIO ANDRADE 

26 de Junho de 2018

Da esquerda para a direita, Cesar Leal, Ariano Suassuna, Tomás Seixas e Francisco Brennand, em 1960

Da esquerda para a direita, Cesar Leal, Ariano Suassuna, Tomás Seixas e Francisco Brennand, em 1960

ILUSTRAÇÃO Ilustração a partir de foto de arquivo

Ficou famosa a afirmação de Oliveira Lima de que publicar na província é permanecer inédito. Há, porém, situações ainda mais profundas de esquecimento. É o caso de Tomás Seixas, nascido em 1916, inédito e esquecido mesmo por cá, mesmo na Recife que tanta presença marcou em sua obra. Uma outra Recife, é bem verdade – menos venerável e mais venérea… Tomás Seixas cantou o lado obscuro e underground da cidade. Dono de uma obra exígua, desencontrada, não reunida ainda, cheia de lacunas e hiatos; mas dotada de muito valor e certa originalidade.

Não há nem mesmo como ter certeza dos livros que publicou. Tudo indica que foram quatro, além de um volume extenso e disperso de artigos, crônicas e poemas em jornais e suplementos literários. Um longo hiato separaria os dois primeiros, publicados na década de 1940, e os dois últimos entre os anos 1980 e 1990. Não é possível – insisto nisso – ter certeza de que durante esse longo período não tenha publicado nenhum livro, pois Tomás Seixas preferia as plaquetes, publicações independentes, compondo volumes reduzidos, refletindo uma inclinação marginal que expressaria o seu deslocado dandismo.

O primeiro livro, datando de 1942 e intitulado Os mortos, foi marcado por grande influência do Surrealismo. Provavelmente, essa influência chegou à sua obra através de uma de suas paixões fundamentais: Rimbaud. São de Rimbaud os versos que compõem a epígrafe de Os mortos.

Os poucos poemas que integram esse primeiro livro, nunca reeditado – um total de 10 composições –, apresentam alguns dos elementos essenciais de sua poética: a memória, o indivíduo sem lugar, a imagem mutilada do poeta, o submundo recifense de boêmios e prostitutas, o valor residual da arte e da poesia, fantasmas, aparições, pesadelos, alucinação e onirismo. Menos na utilização das técnicas propriamente surrealistas de composição (escrita automática, cadavre exquis); os poemas de Os mortos produzem uma atmosfera de alucinação urbana e pesadelo. Versos muito longos se alternam com versos curtíssimos, sugerindo um ritmo ditado muito mais pela imagem e pelos solavancos do pensamento do que pela busca de regularidade e musicalidade convencional.



           
 
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