Comentário

Uma cidade tomada pelos quadrinhos

A pequena Angoulême, na França, costuma abrigar, durante o mês de janeiro, o maior e mais popular festival internacional de HQs do mundo

TEXTO Paulo Floro

05 de Abril de 2018

Recorte do cartaz do festival francês em 2018

Recorte do cartaz do festival francês em 2018

Imagem Reprodução

Um ônibus todo decorado com desenhos de Corto Maltese, personagem criado por Hugo Pratt que é um dos ícones dos quadrinhos franceses, cruza a esquina. Mais adiante, num salão de beleza para mulheres, a Smurfette – dama solitária da HQ Smurfs, criada por Peyo – anuncia uma promoção do dia. Até marcas de luxo como Dior e Prada, além de restaurantes, cafés e livrarias, utilizam temas e motivos ligados aos quadrinhos para chamar a atenção do público. A paisagem também se recobre dessa atmosfera de adoração às HQs (ou BD, como dizem na França): há dezenas de muros com histórias em quadrinhos pintadas, de Tintim a Lucky Luke. Estamos em Angoulême, cidade medieval de cerca de 40 mil habitantes, distante 500 km de Paris. E é aqui que acontece o maior e mais popular festival internacional de quadrinhos do mundo, sempre no mês de janeiro.

Mesmo outros eventos de dimensões avantajadas ficam pequenos em comparação a este. A Comic-Con de San Diego, nos EUA, além de se concentrar em um único espaço tem, como proposta uma atenção cada vez maior ao cinema e às TVs do que às HQs. Já Lucca, na Itália, outro megaevento do gênero, agora também engloba games, além dos fumetti (gibis, para os italianos). Angoulême tem como sua maior inspiração o amor dos franceses pelos quadrinhos. O mercado editorial do país é gigante e os quadrinhos são o gênero mais lido, segundo o Syndicat National de L’Edition (SNE). Descolada de uma lógica capitalista que atrela HQs a um mercado de nicho infantojuvenil, a França se destaca pela diversidade, com editoras grandes, médias e pequenas e milhares de títulos a cada ano, para todos os públicos, idades e gêneros. Não à toa, o festival tem como maior destaque a produção autoral e não os produtos massivos da indústria, como DC, Marvel e Disney, que aqui surgem tímidos.


           
 
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