Portfólio

Bruno Faria

Pitadas de ironia e criticidade

TEXTO Luciana Veras

03 de Abril de 2018

'Introdução à história da arte brasileira 1960-1990', instalação, 2015

'Introdução à história da arte brasileira 1960-1990', instalação, 2015

Foto Bruno Faria/Divulgação

O artista é a própria máquina do mundo”, observa a psicanalista e crítica Tania Rivera, em O avesso do imaginário – Arte contemporânea e psicanálise (Cosac Naify, 2013), “e, para assim revirar o mundo, é necessário ao mesmo tempo construir uma narrativa e ir além de qualquer narrativa, subvertendo-a”. É da subversão da própria noção do que pode ser percebido como arte e da reapropriação dos episódios históricos que nos pertencem, apagados ou não, que se cinzela a obra do artista visual pernambucano Bruno Faria. Num conjunto de trabalhos que se espraia por múltiplos suportes, ele testa a nossa capacidade de apreender a história a partir de infinitas camadas de significados, pois, como lembra Rivera, “já que não há uma história, mas muitas histórias, variadas e sempre parciais, toda história, em vez de narrar fatos, ao se desdobrar, revela sua própria potência de gerar mundo.

No epicentro de sua conceituação artística para gerar mil mundos, residem a ironia e a criticidade. Na série Lembranças de paisagem (2016), por exemplo, um work in progress composto por cerca de 150 pinturas sobre flâmulas antigas, angariadas em feiras e mercados em todo o país, há uma crítica sutil à recorrente prática nacional do apagamento da memória. “Essas imagens eram reproduzidas e vendidas como cartões-postais, numa época em que o Brasil era o país do futuro. Mas, hoje, como lidamos com o fracasso dessa utopia?”, indaga o artista. Nas bandeirolas, croquis de metrópoles que, como o Rio de Janeiro do Pão de Açúcar tingido num bucólico verde-bandeira, hoje chafurdam em desorganização urbana, caos social e violência endêmica – ou seja, na “massa falida em forma de nação”, como lembra o artista pernambucano, que se autodefine como “brincalhão”. “Quem me conhece, sabe que sou irônico, faço greia, mas esse olhar sarcástico sobre situações que vejo e vivencio permite que a crítica esteja sempre presente no meu trabalho”, diz. 


           
 
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