De fevereiro a fevereiro
Ações realizadas em instituições como o Paço do Frevo, e por diversos músicos, vêm conseguindo levar o gênero musical, que completa 110 anos, para além do Carnaval
TEXTO Débora Nascimento
01 de Fevereiro de 2017
Apresentação de dança e música em frente ao Paço do Frevo movimenta o Bairro do Recife
Foto Bruna Monteiro/divulgação
[conteúdo na íntegra | ed. 194 fevereiro 2017]
“Clóvis vem comer um bolo de chocolate, que ele adora. Ele sai de casa para vir pra cá, fora toda uma geração de músicos que está produzindo aqui dentro. Edson Rodrigues, quando vai resolver alguma coisa no centro da cidade, deixa o sax dele com a gente, no centro de documentação”. Esse “aqui” ao qual o músico André Freitas refere-se é o Paço do Frevo, mistura de museu, ambiente de salvaguarda, formação, pesquisa, experimentação, propagação, criação e, sim, renovação, que, em três anos de intenso funcionamento na Rua da Guia, em frente à Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, tornou-se um espaço de convivência, colaboração e crescimento profissional para compositores, instrumentistas, intérpretes, produtores, ouvintes e demais amantes do gênero pernambucano, que, neste 2017, completa 110 anos.
Coordenador de música da instituição, inaugurada em 9 de fevereiro de 2014, André Freitas confessa que, ao ocupar o cargo, via o gênero musical de uma forma totalmente diferente. “Quando cheguei, achava que o frevo estava em crise. Eu tinha uma visão restrita a partir de seis cordas, sou guitarrista, já tinha tocado com alguns maestros e artistas. O repertório era sempre recorrente, algumas coisas de Capiba, de Michiles, mas sempre frevo-canção. Achava que frevo era isso mesmo, que não tinha novos autores, novas composições. O que acontece é que isso não tem visibilidade – mas não tem crise. A crise é do mercado fonográfico, que vai ter que se reencontrar”, afirma. “O que existe hoje é essa necessidade de ocupar as lacunas dessa cadeia produtiva.”
Essa ocupação vem sendo promovida através de diversas ações do Paço em sua coordenação de música. Nesses três anos de atuação, foram realizadas mais de 200 apresentações artísticas, 70 delas na Hora do Frevo, que acontece ao meio-dia das sextas, com releituras do gênero musical – o que seria, em princípio, uma saída para o oneroso valor de contratação de uma orquestra de frevo, acabou se tornando uma forma de promover experiências em torno do estilo. “Uma formação em orquestra é caríssima, então a Hora do Frevo foi um projeto pensado para novas formações, possibilidades estéticas, trio, quarteto, quinteto. Umas coisas surgem naturalmente, outras a gente provoca, tipo duas guitarras e dois contrabaixos, que foi Luciano Magno, Renato Bandeira, Bráulio Araújo e Hélio Silva”, conta André, acrescentando que o Paço do Frevo pretende, até o final deste ano, contar com uma orquestra de pau e corda, a partir da formação do regional de choro.
Com um ano e meio de atividades do espaço, foi criada a Orquestra Frevo Essência, desde o 1º Programa de Qualificação Musical. Dirigida pelo Maestro Spok (que participou ativamente das discussões iniciais sobre como seria o Paço do Frevo), ela funciona como uma incubadora de talentos. “Foi feita uma escolha estratégica para atender o aluno do nível intermediário para o avançado, porque a iniciação musical já existe na rede pública ou privada, mesmo com toda as questões. Não é a melhor do mundo, mas isso já é feito. Então, surgem muitos músicos sempre, todo ano. A gente viu que estava faltando a esse músico uma outra qualificação profissional, que fosse uma chave de acesso para outra fatia do mercado. Dominar o conhecimento técnico para orquestração e arranjo era algo não comumente oferecido na cidade, e foi aí que preferimos focar e investir. Isso tem um desdobramento, por exemplo, no repertório, no surgimento de uma geração de compositores; é o que está acontecendo, agora”, aponta o coordenador, complementando que esses músicos também recebem noções de gestão de carreira artística – área que é um “calo” na música independente em Pernambuco.
Fora a Frevo Essência, mais três orquestras surgiram no Paço do Frevo: a Leão do Norte, que, regida por Alexsandro Orques, realiza pesquisa de repertório e interpretação de cada período histórico do frevo; a Orquestra Acadêmica do Paço do Frevo, que, também com direção Musical de Spok, foi montada a partir de seleção em um edital público e apresenta frevos autorais de seus integrantes, e a Orquestra da Luz, que, regida por Henrique Albino, executa composições originais.
“Com a turma que acabou em dezembro, do curso de orquestração e arranjo com o professor Marcos FM, saíram dois frevos novos. Artisticamente, ainda precisam de muita coisa. Porém, já está acontecendo essa renovação. E como tudo está ligado como uma grande incubadora, os alunos de orquestração e arranjo testam o arranjo na orquestra. A gente manda uma semana antes o repertório, todo mundo estuda. Na semana seguinte, se o autor for de fora, ele é convidado, vem e assiste ao ensaio, corrige, melhora e reformula”, destrincha André Freitas, complementando que algumas dessas músicas podem ser ouvidas na Rádio Paço do Frevo (na web), que traz programação com as composições das bandas, orquestras e demais artistas que já se apresentaram na instituição.
Nesses três anos, também foram produzidos eventos como o Guitarra Brasileira, que teve a procura de 500 músicos; o (Com)Passos – encontros de improviso entre bailarinos e músicos – e quatro Conexões Frevo – intercâmbio do frevo com outros estilos, como o bluegrass, fado e tango (que originou a formação de um grupo com o bandolinista Marco César, o acordeonista Beto Ortiz, o baixista Bráulio Araújo e o guitarrista Renato Bandeira). Outro modelo de parceria é o Paço em Criação, que oferece residência a artistas em processo de formação, com o objetivo de desenvolver projetos junto aos pesquisadores e professores da instituição.
Esses intercâmbios culturais vêm possibilitando ao frevo estender suas fronteiras, a exemplo da palestra de Spok e Wynton Marsalis, que aconteceu em 1o de abril de 2015, no último andar do Paço, com perguntas e observações de diversos músicos (inclusive de alguns maestros do frevo que estavam na plateia), e da apresentação conjunta da Orquestra Frevo Essência e da Luther College Jazz Orchestra, em 6 de agosto de 2016.
No ano passado, o Paço investiu R$ 280 mil em sua agenda. “Quando se pensa que isso é o valor de um headliner no Carnaval…Falamos de quase 10 meses de programação, tudo, não é só música não, os encontros de pesquisadores, os seminários. Não se faz nada de graça aqui, cada palestrante tem uma rubrica de R$ 600”, informa.
Com todas essas ações, o Paço do Frevo vem marcando sua presença como espaço cultural imprescindível hoje em Pernambuco, contribuindo para que o gênero consiga ultrapassar a barreira da Quarta-feira de Cinzas. “Faltava o espaço físico, que era o que a Rozenblit ocupava, que a Rádio Clube ocupava. Sem a infraestrutura, não adianta se é frevo, se é caboclinho, não adianta. Como é que eu vou imaginar a Lincoln Center Orchestra sem o seu centro de cultura?”, arremata André, informando que a instituição local formou 800 alunos, oriundos de diversas escolas e municípios pernambucanos, e deve ampliar mais seu alcance com os DVDs de aulas que pretende realizar.
O ANO INTEIRO
Se o Paço do Frevo se tornou o símbolo e a prova do que sempre desejaram os veteranos maestros, a real possibilidade dessa música ser trabalhada o ano inteiro, hoje, alguns artistas também atestam que isso é possível. O Maestro Forró, com sua Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, é um deles. “Tocamos no interior de Aracaju em pleno mês de junho. O frevo é uma música aberta, de grandeza técnica, que se comunica fácil. A gente não pode ficar pensando só no Recife, é preciso investir também em outros estados”, diz o trompetista, que indica como a única dificuldade para isso o quantitativo de seu grupo: 27 pessoas (21 músicos e seis técnicos). “Faço tudo para não abrir mão dessa formação e viajar com a orquestra completa.”
Para Forró (Francisco Amâncio da Silva), a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, formada em 2002, “meio que criou um mercado”. “Não tinha um mercado de orquestra com esse formato. Com menos de um ano, tínhamos um produto diferenciado na cidade. Mas a gente teve que sempre se reinventar”, conta o músico, que já lançou dois discos (o segundo, #CabecanoMundo, ganhou o Prêmio da Música Brasileira na categoria Regional, em 2013) e um DVD gravado no Teatro de Santa Isabel; apresenta o programa Andante (Canal Brasil) e dá aulas gratuitas de música aos moradores de seu bairro e redondezas.
“Trabalho com frevo todos os dias do ano”, afirmou Spok, antes de entrar no estúdio para gravar um frevo no disco de forró de João Lacerda, filho de Genival. Assim como a Orquestra da Bomba, sua SpokFrevo Orquestra, fundada em 2001, com influências do jazz, vem conseguindo conquistar outros territórios, mesmo com o obstáculo financeiro de levar uma orquestra ao Exterior. “Um dia fora do Brasil, um dia que não toque, são quase dois mil euros de manutenção. Não é fácil manter uma big band viajando”, admite.
“O trabalho da orquestra, de lá pra cá, contribuiu para que muita gente começasse a compor frevo instrumental. É incrível o interesse dos músicos em compor frevo. As pessoas me mandam frevos, até músicos de Los Angeles”, destaca. Spok (Inaldo Cavalcante de Albuquerque), hoje um dos maiores expoentes do gênero, é cedido da Orquestra Sinfônica do Recife, e dá expediente no Paço do Frevo às terças, e todo ano sai do país para ministrar aulas de frevo. “Esta geração está vivendo esse momento de ver realizado o sonho dos mestres”, observa o músico e autor do argumento de Sete corações (2014), para ele, seu maior projeto realizado, o documentário, dirigido por Déa Ferraz, sobre os então principais maestros do frevo: Duda, Nunes (falecido em 2016), José Menezes (morto em 2013), Guedes Peixoto, Ademir Araújo, Clóvis Pereira e Edson Rodrigues.
Edson, que neste ano completa 60 carnavais, afirma que, “desde aquela época (em que começou), o frevo evoluiu melódica, harmônica, e ritmicamente, mas hoje, mesmo Patrimônio da Humanidade, não tem o devido respaldo das pessoas que cuidam das coisas da nossa cultura”. O maestro é uma das pessoas que foram a Paris, em 2012, participar da ação junto a Unesco para conquistar o título para o frevo. “Não foi fácil”, conta o saxofonista, compositor e maestro, que trabalhou como arranjador de discos de frevo na mítica gravadora Rozenblit, responsável pelos lançamentos do gênero no Recife, entre as décadas de 1950 e 1970.
“Dos três frevos, o canção é o que está melhor, o pessoal dos blocos produz discos particulares. Isso tem feito com que o frevo de bloco tenha resistido bravamente. Mas faz pena ver as fantasias velhas de alguns desses blocos. Não há uma renovação, são clubes associativos, as pessoas não pagam mensalidade, mas têm um certo direito, elegem uma diretoria, que muitas vezes não tem uma prática de gestão. Batutas passou um tempo sem sair. Madeira do Rosarinho está aos pedaços. O frevo está bem, mas poderia estar melhor”, diz Edson, que ultimamente vem sendo convidado para duas ou três apresentações no Carnaval. “Tento ensinar para as pessoas o verdadeiro valor do frevo, cumprindo minha obrigação.”
Para ele, o problema do mercado do frevo entrou numa outra esfera, a educacional. “A música não é vista como forma de educação na escola, assim como acontece em outros países, nos quais ela está presente desde a infância até a faculdade. Aqui não temos nada disso. É obrigatório, mas não se cumpre a obrigatoriedade. Os músicos não têm o devido conhecimento técnico para fazer o novo frevo. É por isso que Spok consegue se dar tão bem, ele tem os melhores músicos de Pernambuco.”
Maestro Duda, que também atuou como arranjador na Rozenblit, por onde saiu o best-seller do gênero Capiba: 25 anos de frevo (1959), comenta que o mercado está pior do que na época em que existia a gravadora. “Não sei dizer se o povo está fazendo frevo, porque disco não tem. Inclusive o concurso de frevo, que é lei municipal, não se realiza há três anos. Havia o lançamento de novos compositores, novos frevos, não se apresenta música nova e não se grava. A lei diz o seguinte: tem que ser realizado o festival de música entre os meses de novembro e dezembro, para, a partir de janeiro, tomar-se conhecimento das músicas novas do festival”, reclama.
“Então, o Carnaval sempre está com as mesmas músicas. E, quando aparece alguma produção independente, que banque financeiramente a gravação, as rádios e TVs não divulgam. Só se divulgam baboseira da Bahia e a música sertaneja. Não que eu seja contra a música baiana ou a sertaneja, mas a música pernambucana não tem espaço em canto nenhum. Antes, as TVs e rádios divulgavam. Com o fim da Rozenblit, não tem como fazer. É muito caro bancar um disco de frevo”, lamenta Duda, que, aos 80 anos, vai ganhar um ensaio biográfico e musical dentro da coleção Frevo Memória Viva, da Cepe Editora, que publicará, ao longo do ano, livros sobre Getúlio Cavalcanti, Jota Michiles e Ademir Araújo (o primeiro a ser lançado, neste mês), todos escritos pelo jornalista Carlos Eduardo Amaral.
Com 33 anos de frevo, responsável por uma orquestra que, nessas três décadas de Carnaval, acompanha diversos blocos tradicionais, como o Ceroula e Vassourinhas, Maestro Oséas disse que, para ele, não dá para viver de frevo. “Falta aumentar o valor do cachê, é muito baixo, está barato demais. Durante o resto do ano, toco no Boi da Macuca, lá em Correntes, faço São João. De vez em quando, aparece algo fora isso. Mas é muito pouco, pra mim não dá. Eu me viro, trabalho com talha, com artesanato também. Os meus músicos todos têm outro trabalho, não vivem de música, não. Todos eles trabalham em outra profissão, tem advogado, engenheiro. Não dependem de música, é muito pouco o cachê. Está pior agora, antigamente era bem melhor. Deve ser porque tem muita orquestra. Hoje, a turma não quer qualidade, quer saber o valor do frevo. Isso é questão de quem cobra mais barato”, critica.
À frente do cinquentenário O Tema é Frevo, o mais longevo programa de rádio dedicado ao gênero, Hugo Martins é uma das vozes mais atentas e críticas. “O frevo é música única no mundo, mas, infelizmente, os pernambucanos não dão muita bola. Recebeu o título de Patrimônio em Paris, em 2012, e ninguém deu bola pra isso. Se fosse na Bahia, seria diferente. Sou paraibano, tenho esse programa há 50 anos. Claro que existe a exceção, mas a maioria não quer saber de frevo. Mandam chamar gente do Sudeste pra abrir o Carnaval, tinha que ser as bandas de música daqui.”
Martins lembra que, quando começou o programa, o frevo tocava em diversas rádios, como a Tamandaré e a Clube. “Vejo isso com pesar. Só tocam no período do Carnaval, tem outras que só tocam o frevo baiano. O frevo é pernambucano. Só consigo fazer o programa porque é uma rádio educativa. Houve um tempo em que um vereador veio com uma lei para obrigar a tocar frevo. Isso é um absurdo, uma vergonha, obrigar um estado, através de uma lei, a tocar sua própria música. Lugar nenhum do mundo deve obrigar a tocar música da sua terra. Evidentemente, as rádios não obedeceram e ficou por isso mesmo.”
O radialista, que vem acompanhando com afinco o frevo nesse meio século, observa que a música passou por transformações. “A qualidade das músicas vai mudando com o tempo, o próprio tempo vai mudando, ouvir um frevo dos anos 1930 é completamente diferente do de hoje. O tempo vai mudando as coisas. Quando se ouve a música erudita, nota-se também a diferença. Isso é normal. A produção de discos é que diminuiu. Naquela época, havia mais lançamentos, RCA, Odeon, Rozenblit, muitos discos no comércio. Hoje em dia, há também pouquíssimas lojas de discos.”
Numa das últimas lojas de discos que resistem no mercado musical do Recife, a Passadisco, situada no Parnamirim, zona norte da cidade, o proprietário Fábio Passadisco faz uma espécie de catalogação dos lançamentos da música pernambucana, pois todos os artistas locais dispõem seus álbuns nas suas prateleiras. Segundo ele, até o final de janeiro, só chegaram dois CDs: o de André Rio, Meu carnaval é frevo, e do grupo Som da Terra, Som da terra em bloco. “O ano passado também foi ruim: Ameba de Olinda (É frevo pra torar), Don Tronxo (Folias de carnavais), Freveribe (Freveribe) e O Homem da Meia-Noite (Vários intérpretes).
NOVIDADES
Embora não haja muitos lançamentos, o frevo está passando por uma transformação importante, encampada por músicos que não necessariamente estão compondo a forma clássica do gênero, mas fazendo mesclas com outros estilos, como se ouve no álbum Frevo do mundo, com releituras de clássicos feitas por diversos artistas (João Donato, Edu Lobo, Céu, Mundo Livre S/A, Isaar França, Siba, entre outros), no projeto Frevotron (de Spok, DJ Dolores e Yuri Queiroga), nas incursões da banda Eddie pelo gênero, no primeiro disco do pianista Amaro Freitas, o inspirado Sangre negro, e no trabalho da Orquestra Quebramar, do músico, professor e maestro da Banda
Sinfônica do Conservatório de Música Pernambucana, Marcos FM.
Responsável pela criação e aplicação da disciplina Estética do Frevo no Conservatório Pernambucano de Música, Marcos vem inspirando uma nova geração de músicos a compor frevo. “Nas aulas, os alunos aprendem sobre a história do frevo, as características, as diversas transformações, a partir de vídeos, LPs antigos, apreciação musical em geral, estilo de cada maestro, o jeito de compor, os instrumentos, sonoridades do frevo.”
O professor vem dando valiosa contribuição ao Paço do Frevo. “Tem sido um importante espaço para fomentar a pesquisar e as experimentações no gênero, não poderia dimensionar a importância desse órgão. Realizei dois cursos, no ano passado. No primeiro semestre, Harmonia Funcional; no segundo semestre, Orquestração e Arranjo, direcionado para o frevo de rua. Este ano, vou ensinar nova disciplina, Improvisação no Frevo, mostrando aos músicos como criar os seus próprios solos.”
O grupo liderado por Marcos FM, Quebramar, utiliza técnicas composicionais da música de vanguarda, erudita e jazz para compor frevo, maracatu e afoxé, entre outros ritmos brasileiros. O quarteto, que tem influência do estilo de Moacir Santos, está em processo de finalização de seu primeiro disco.
Também colaborador do Paço do Frevo, Henrique Albino conseguiu uma façanha em 2013: ganhou, com apenas 20 anos, o terceiro lugar e a categoria Melhor Arranjo do último Concurso de Música Carnavalesca, com a música Atravessando a rua. “Inicialmente, não acreditava que meu frevo seria classificado, quanto mais receber prêmios. O que mais me emocionou foi o de Melhor Arranjo. Competir com Clóvis Pereira, que é minha principal influência em arranjo de frevo, foi uma coisa, pra mim, inacreditável. Fiquei muito feliz. Naturalmente, quando componho, sempre quero fazer algo diferente e que seja uma surpresa para o público. Às vezes, o tradicionalismo se torna uma barreira pra que a música continue surpreendendo, e foi isso que me deixou mais feliz em ter ganhado, saber que, no futuro, outros compositores que querem surpreender também terão sua vez de mostrar seu trabalho e serem reconhecidos por isso.”
O músico começou, aos 14 nos, tocando flauta nos blocos líricos Inocentes, Seresteiros de Salgadinho e Batutas de São José. Depois, aos 16, ingressou no Grêmio Musical Henrique Dias. “Foi quando conheci o grande saxofonista e arranjador Ivan do Espírito Santo e as orquestras de frevo de Olinda, que foram meus professores de frevo, me fizeram, além de tudo, amar essa estética tão profunda e querer participar sempre dela.”
Ao mesmo tempo em que praticava a música nas ruas de Olinda, Albino escrevia arranjos para algumas orquestras. “Estudei muito transcrição de frevos, estudei frevo todos os dias por mais ou menos dois anos, analisei todos os instrumentos da orquestra, procurei arranjos dos grandes maestros pra analisar e toquei bastante pelas ladeiras, que é como se fossem as provas nessa escola olindense de frevo.”
O músico ainda não gravou um disco, algumas de suas composições estão no SoundCloud, onde se pode constatar seu talento como compositor e arranjador. “Todos os meus trabalhos contêm frevos, nada mais pernambucano, e eu amo a música da gente. Tenho interesse em gravar um álbum só de frevos, mas isso é um projeto que vai precisar de patrocínio, e até agora todos os meus trabalhos foram independentes. Quando for a hora dessa articulação chegar, com certeza vai vir um álbum com muitos frevos bem tronchos em várias formações diferentes!”, brinca.
Henrique Albino integra uma “juventude dourada”, ansiada por Capiba, “fazendo o que seus avós (mestres do frevo) fizeram em tempos passados”, mas que precisa do apoio do contexto ideal: “É uma pena que o concurso parou de ser feito. O fato de ser uma competição não me agrada, mesmo ficando feliz por ter ganhado. Mas ela não pode parar, porque acaba servindo de combustível para que se continue compondo e surpreendendo. Eu mesmo compus Atravessando a rua apenas para o concurso. Sonho com o dia em que não haja apenas um festival de frevo, mas muitos, o ano inteiro, que fomentem novas composições. Não apenas um concurso, mas algo que faça o publico mais jovem sentir vontade de viver esse som tão pernambucano, algo que nos faça viver experiências jamais vividas antes com ele, que não serve só pra dançar, mas também pra ouvir e pensar, surpreender e ser surpreendido, essa coisa tão abrangente que é o frevo”.