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Memória do teatro para o início da vida

Em "Teatro para crianças no Recife – 60 anos de história no século XX", Leidson Ferraz reúne a historiografia do teatro infantojuvenil

TEXTO Alef Pontes

01 de Outubro de 2016

O jornalista, ator e pesquisador Leidson Ferraz é autor de obras que focam a memória do teatro pernambucano

O jornalista, ator e pesquisador Leidson Ferraz é autor de obras que focam a memória do teatro pernambucano

Foto Roberto Moreira Dias/divulgação

[conteúdo da ed. 190 | outubro de 2016]

Apesar de uma intensa produção no campo do teatro, a cultura brasileira – e a pernambucana, em especial – ainda não preserva com rigor a sua historiografia, perdendo importantes capítulos de sua memória em páginas empoeiradas de arquivos esquecidos. Com poucos registros de sua trajetória, o teatro se torna uma arte efêmera, que acontece e morre pouco tempo depois do apagar das luzes no palco. Em alguns setores, seja por falta de interesse dos realizadores, produtores e mesmo da imprensa, essa situação se agrava.

Foi com essa realidade em mente que o jornalista, pesquisador e ator Leidson Ferraz imergiu no universo do teatro infantojuvenil para trazer à tona sua história e legado no livro-pesquisa que lança agora: Teatro para crianças no Recife – 60 anos de história no século XX. Divulgada inicialmente em formato multimídia – em DVD –, no ano de 2013, a obra ganha as prateleiras em forma de livro, lançando luz sobre a história recente da dramaturgia voltada para as crianças e adolescentes, na qual, aliás, Leidson fez sua estreia nos palcos.

Em seu argumento de pesquisa, um dos fatores agravantes para o embotamento da historiografia do teatro do gênero é que, devido ao grande número de montagens de baixa qualidade, produzidas a cada ano – muitas realizadas em série, reproduzindo elementos e personagens da televisão com o único objetivo de atrair a atenção dos pequenos e de seus pais, e, claro, fazer dinheiro –, o teatro para a infância se tornou alvo de preconceito por partes dos artistas e da imprensa.

Em Teatro para crianças no Recife, Leidson vai contra essa corrente e coloca como objetivo salvaguardar – através de raros registros fotográficos, programas de espetáculos, anúncios publicitários e recortes de críticas de jornais da época –, além de relatos e histórias de personalidades importantes, a memória do teatro feito por e para crianças.

Nesse primeiro volume, o pesquisador traz um recorte da produção teatral entre os anos 1939 e 1970, período em que começaram a surgir montagens específicas para esse público. Antes disso, entretanto, volta ainda um pouco no tempo para falar sobre o surgimento do teatro no Brasil, no período colonial, através da catequização dos padres jesuítas, que já utilizavam elementos lúdicos para atrair a atenção dos pequenos nativos.

Desde sua chegada às terras brasileiras, trazido pelos portugueses, o teatro não fazia distinções entre as plateias adultas ou infantis, a começar pelas apresentações de caráter missionário realizadas pelo teatro jesuítico no século XVI. Foi apenas em 1939, segundo o pesquisador, que surgiram as matinais dominicais com dramaturgia específica para as crianças, e elenco de meninos e meninas como intérpretes, e não mais atores adultos. A mudança no cenário do teatro pernambucano veio pelas mãos do médico, jornalista, músico e teatrólogo Valdemar de Oliveira, ao assumir a direção do Teatro de Santa Isabel, substituindo o também teatrólogo Samuel Campelo.

A ideia de promover o teatro com dramaturgia específica para a “petizada”, como se falava na época, surgiu para Valdemar ao ver os dois filhos, Reinaldo e Fernando de Oliveira, brincando de “interpretar”, após uma sessão de cinema. Em coluna assinada no Jornal do Commercio, Valdemar de Oliveira reclamava, desde 1934, que o teatro para crianças deveria existir no país com um grupo dedicado a esse gênero, seguindo o exemplo de países como Rússia, França e Argentina, referências da época.

Exatamente um dia após assumir a função administrativa no Teatro de Santa Isabel, Valdemar de Oliveira deu início ao seu projeto que abriu espaço para a diversão da criançada: a 1ª Grande Matinal Infantil do Grupo Gente Nossa, com a peça Branca de Neve e os 7 anões, na manhã do domingo 5 de março de 1939.

A partir daí, Leidson resgata, em detalhes, a história do teatro, registrando nomes, datas, créditos e demais minúcias, que, juntos, buscam referenciar a história com fidelidade. Foram mais de dois anos dedicados ao projeto, tendo como principais fontes de dados os acervos do Arquivo Público do Estado e da Fundação Joaquim Nabuco.

No segundo volume da obra, a ser publicado, o jornalista dará continuidade ao percurso cronológico e historiográfico nas décadas de 1980 e 1990, quando acontece o boom do teatro pernambucano, com uma produção muito mais intensa na área.

Da mesma forma que em suas obras anteriores, o livro Teatro para crianças no Recife – 60 anos de história no século XX (vol. 1) está sendo distribuído nacionalmente e pode ser consultado gratuitamente no Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude, nas bibliotecas do Sesc, no Centro de Memória da Funarte, arquivos públicos e bibliotecas das universidades que contam com cursos de teatro pelo país. 

 

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