A seleção das peças trouxe um recorte emblemático dos personagens para Ato e efeito. Havia narradores excêntricos, como os dois escritores, a criança, o transexual ou a professora, comungando de um discurso incompatível com a realidade deles. “A gente não pensou em unidade temática de personagens. A minha ideia sempre foi de tentar diversificar. O que a gente pretendia, enquanto projeto, era ter falas. Não existe uma que sintetize a peça, mas não precisa entender tudo. São falas que fazem sentido em si mesmas”, aponta o organizador.
Com poucas visualizações para o parâmetro de sucesso do YouTube, Ato e efeito ganhou o conhecimento da cena cultural pelo esforço coletivo de seus realizadores em espalhar os vídeos, semelhante à ideia de “viralização da internet”. “O Gregório é o primeiro vídeo pelo potencial que ele tem, pela sua inserção no próprio YouTube. Nós não o chamamos para o projeto por isso, mas qualquer pessoa o colocaria na frente. Pra você ter uma ideia, nós estamos nas redes sociais e, quando o Gregório colocou o cartaz do Ato no Instagram dele, nosso número de seguidores quintuplicou”, afirma Rafael.
A gravação da segunda temporada está prevista para o início de 2016, embora a produção dependa da agenda pessoal de cada realizador. “Tenho intenção de colocar um autor brasileiro clássico na história, já estou com um texto do Nelson Rodrigues em mente. Penso num texto desbragadamente cômico, a exemplo de Oscar Wilde. Entre os atores, queremos alguém com 50 anos de carreira, por aí. Ter a Fernanda Montenegro é um sonho dourado. Quando a gente gravá-la lendo até bula de remédio, já pode parar”, brinca.
Afastando-se da ideia de educar o espectador, Teixeira deseja que o projeto leve mais pessoas ao teatro. “Parece uma utopia achar que o número significativo de pessoas vai passar a ir ao teatro devido ao canal. A gente fez de tudo pra que não fosse um projeto de nicho. Por isso que a duração é curta, por isso ele é bonito, agradável de ver, atraente, aliciante. Queríamos que qualquer pessoa visse e achasse legal”, diz. Para ele, o mais importante, além da estética, é a “pegada documental” do projeto, para que o teatro feito hoje seja lembrado pelas futuras gerações.
ULYSSES GADÊLHA, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.