A história de Tereza é baseada em fatos. Uma das versões conta que ela conheceu um turco, no cais, que lhe disse que voltaria pra buscá-la. Diante de sua espera, a população começa a tachá-la de louca. Até que, quatro anos depois, o estrangeiro volta. Os dois se casam, têm filhos. Na versão de Cláudia Barral, não há final feliz. A peça transita do riso, no início do texto, para uma tristeza lúgubre, da angústia da espera, da loucura. “Essa história é bem antiga. Aconteceu na década de 1940. Ao mesmo tempo, é algo atávico. O feminino enquanto passividade, espera. Investigar a força que existe por trás desse arquétipo tem tudo a ver com o texto e é o diálogo que a montagem do Samuel propõe”, define a dramaturga.
A versão de Claudia talvez combine mais com uma segunda versão dessa história popular, em que os senhores de idade de Carinhanha contam até hoje. Dizem que Tereza foi filha do prefeito da época e se apaixonou por um índio. O pai, com vergonha, mantém a moça trancada e ela enlouquece.
Em termos da dramaturgia, a peça mistura referências bastante próprias do Nordeste, como a presença de cordelistas, narradores, contadores de histórias, violeiros, que eram vistos antigamente nas feiras da região. “A peça tem a característica desse tipo de história que passa de boca em boca, comum ao nordestino. Por isso, também, que a palavra cordel vai no título da peça”, explica a dramaturga, que lembra que as apresentações contarão com versão em libras.
Teresa enlouquece ao longo do espetáculo. A plateia acompanha a espera e a loucura dela por amor. “O público acha que é tudo ilusão da cabeça dela, que esse amor nunca existiu, que essa pessoa é irreal, mas ele não é. E Teresa continua no cais do rio São Francisco, até virar uma pedra”, comenta Samuel.
ENCENAÇÃO
O Poste tem uma relação com o teatro físico, em que o trabalho corporal é bastante acentuado. Trabalha essa referência dentro do Expressionismo, da distorção do “eu”, representada na fisicalidade dos atores, emergindo daí o grotesco. A pesquisa vocal acompanha o trabalho corporal, fugindo completamente do registro naturalista.
“A intenção é, justamente, fugir do clichê, do tradicional. Quando se fala em cordel, em teatro popular, existe esse estereótipo dos figurinos com sandálias de couro, roupa de chita, o violeiro cantando. Montamos esse espetáculo em outra dimensão”, ressalta o diretor.
O texto norteou as pesquisas do grupo. “A partir do Cordel do amor sem fim, enveredamos pela pesquisa do corpo ancestral, primitivo, aquele que se deforma, vem de outra dimensão e invade a nossa, transformando a relação tempo-espaço”, conclui Samuel Santos.
GUILHERME NOVELLI, jornalista.