O convite, Olaf conta, surgiu depois que o diretor Luiz Fernando Carvalho comprou sua primeira publicação, a coleção Flowerhead. Na apresentação ao livro, a editora classifica o trabalho de Hajek como realismo mágico. Se assumirmos o gênero como uma expressão do irreal e do maravilhoso enquanto acontecimento cotidiano e ordinário, podemos dizer que ele é, sim, um padrão na obra do autor. No lugar de cabelos, flores e pássaros. No meio de uma sala, um elefante encoleirado. Estranhamente, nada disso parece muito fora de ordem. Os personagens, de expressões sempre muito tranquilas, simulam uma normalidade que contrasta com as cores explosivas que o ilustrador normalmente usa.
Trabalho do alemão é classificado como realismo mágico. Imagem: Reprodução
Nesse aspecto, Olaf Hajek poderia ser comparado a artistas como a jovem romena Aitch, que envolve suas mulheres rotundas de pétalas e penas, ou o italiano Giuseppe Arcimboldo, pintor do século 16, que montava a fisionomia de seus personagens a partir de composições de frutas, verduras, livros e outros objetos. Nenhum deles, porém, traz em sua obra a preocupação cenográfica do alemão. Enquanto, na maior parte do trabalho dos artistas mencionados a título de comparação, os fundos são compostos de padrões ou escuridões completas, muitos dos personagens de Hajek estão localizados em um mundo, ele mesmo inventado e que colabora com o imaginário criado pelo artista.
Em seus trabalhos, há uma preocupação especial com a criação de um ambiente que ocupe todo o quadro. Imagem: Reprodução
“Quando criança, eu era muito interessado nos pintores impressionistas e suas ideias sobre a luz. Mais tarde, fiquei obcecado com o trabalho de Gustav Klimt e Egon Schiele. Quando estudante, o livro American illustration foi a minha bíblia. A abordagem americana da ilustração, naquela época, era muito mais artística do que eu costumava ver na Alemanha”, conta, sobre as influências que ele mesmo enxerga. Na maioria de seus trabalhos, Olaf usa tinta acrílica, grafite e pastel de óleo e aplica em placas de madeira.
É possível perceber que artistas como Gustav Klimt e Egon Schiele
são referências para Olaf Hajek. Imagem: Reprodução
Nascido em 1965, ele começou a carreira de ilustrador há mais de duas décadas, e hoje se firma como um dos contemporâneos mais bem-sucedidos comercialmente, levando o seu trabalho para vários países da Europa e América. Produz com frequência para periódicos, como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker, além de já ter feito papéis de parede circenses para hotéis em Viena, capas de livros, embalagens para os perfumes franceses da Cacharel e uma série de mapas pouco detalhados e incríveis.
Artista cria desenhos para diversas marcas. Imagem: Reprodução
A entrevista de Olaf à Continente foi respondida do deserto, de dentro de um carro que ia de Los Angeles a San Francisco, nas proximidades de um de seus trabalhos mais recentes. É que ele faz parte de uma campanha de conscientização, em Nova York, chamada The Water Tank Project, que associa exibições artísticas a palestras e atividades que discutem problemas relacionados ao uso da água. Segundo ele, seu quadro – que envolve sereias, peixes gigantes e conchas coloridas – pretendia tirar o caráter de banalidade do mundo aquático, a partir dos elementos fantásticos.
Imagem: Reprodução
Questões de raça aparecem em seu trabalho de forma clara. Sua série Antonieta negra foi inspirada em uma vivência que teve quando trabalhou numa galeria da África do Sul. “A ideia era criar imagens de luxo e opulência, a partir de elementos naturais”. Ele brinca com a imagem de Maria Antonieta para criar personagens negras e causar estranhamento.
Ilustração feita para a capa do semanário NY Times Book Review. Imagem: Reprodução
O que ele chama de “imperfeição da beleza” e “poder da simplicidade”, ao falar sobre suas pinturas, veio dos elementos da pintura folk africana e sul-americana. Das miniaturas indianas, seus personagens por vezes mitológicos e o caótico de suas narrativas. Entre os méritos de seu trabalho, a criação de certa unidade através de uma repetição de cores e elementos que, no lugar de tornar o trabalho cansativo, inventa um universo próprio que dialoga dentro de si.
PETHRUS TIBÚRCIO, estudante de Jornalismo e estagiário da Continente.