Outros pontos fundamentais na poética do artista servem como norte para a reflexão. Montejo Navas trabalha conceitos caros ao pensamento contemporâneo, tais como local e global, erudito e popular, situando a obra de Bruscky num espaço intermediário, que transita por entre todas essas discussões de forma criativa e muitas vezes bem-humorada. O autor pontua como esse jogo entre dois polos é algo que se destaca no trabalho do inventor. A oposição memória x presente é ideia fundante. Ao mesmo tempo que nos postamos diante de um artista inserido na atualidade, dialogando com as novas tecnologias, temos um grande arquivador e catalogador que há anos guarda em seu ateliê um acervo vastíssimo.
MULTIMEIOS E MOSTRAS
Arte e multimeios, também lançada em novembro, traz uma compilação de textos escritos por Bruscky. Segundo ele, boa parte desse material foi publicado originalmente no Suplemento Cultural do Diário Oficial (hoje Pernambuco), na década de 1990. “Há textos sobre xerografia e fax, por exemplo, que contam a história desses equipamentos e falam um pouco de como se dá seu uso na arte. Trago também um texto sobre a história das artes gráficas em Pernambuco”, detalha o autor. No material, há textos inéditos, como os que fazem um histórico do Festival de Inverno da Unicap e do de Garanhuns, projetos que ele ajudou a criar, e outros sobre artistas locais e internacionais. A obra, organizada pela curadora Cristiana Tejo, será ilustrada e traduzida para o inglês e espanhol.
Além dos livros, o pernambucano tem se destacado na cena internacional desde que a exposição Paulo Bruscky: art is our last hope foi inaugurada em Nova York, no fim de setembro. A retrospectiva com 150 obras, inédita no Brasil, tem curadoria de Sérgio Bessa, diretor do Bronx Museum, onde fica em cartaz até março de 2014, quando segue para outras cidades americanas até, finalmente, seguir para o México, em 2015. Essa, que é a maior exposição individual de Paulo Bruscky no âmbito internacional, garantiu elogios do New York Times e matéria na revista de arte Bomb.
Neste início de novembro, Bruscky estará em Nova York para prestigiar a mostra e participar da Performa 13 – única bienal dedicada à nova performance. Os nova-iorquinos vão poder conhecer a performance Jogo, realizada por Paulo pela primeira vez em 1971, no Recife, e depois, já recentemente, em Belo Horizonte. Nessa ação, ele coloca 22 jogadores uns contra os outros, com camisas de times aleatórios. No fim do mês, será inaugurada, na Galeria Amparo 60, no Recife, a exposição Foto/linguagem, com mais de 100 fotografias, a maioria inédita. Segundo o artista, essa é uma faceta pouco conhecida de seu trabalho, ainda que ele já tenha sido premiado na área. Com curadoria de Dária Jaremtchuk, a seleção percorre várias etapas da produção de Bruscky com imagens do início da carreira e outras mais recentes, algumas de 2013. Nos seus experimentos, há fotos analógicas, polaroides e digitais. A exposição, que ficará em cartaz até março, será registrada num catálogo.
MARIANA OLIVEIRA, editora-assistente da revista Continente.