As ilustrações principais mais recorrentes nas cédulas do papel-moeda são as personagens da história do Brasil. Também as deusas da mitologia grega, sabedoria, justiça. Governantes, mártires, políticos, escritores, pintores e músicos. Fatos históricos, paisagens nacionais, reproduções de obras de arte, etnias e animais. Quanto às ilustrações secundárias, existe uma grande variedade de temas e, geralmente, são integradas a vários ornamentos – moirés e guilhochés – e elementos esquemáticos (brasões, fitas, arcos, listéis etc.).
A partir de 1942, inicia-se um período de emissões de muitas séries de papel-moeda, decorrentes dos altos índices de inflação, que não correspondiam aos valores presentes nas cédulas. Em 40 anos, foram cerca de oito emissões: Cruzeiro (1942/1967), Cruzeiro Novo (1967/1970), Cruzeiro (1970/1986), Cruzado (1986/1989), Cruzado Novo (1989/1990), Cruzeiro (1990/1993), Cruzeiro Real (1993/1994) e Real (1994/2013).
Dadas todas essas emissões, o número de ilustrações usadas nas cédulas ganhou em diversidade, como também na qualidade da reprodução das ilustrações, graças ao avanço da tecnologia gráfica e do design da informação, que evoluiu com o tempo, situando adequadamente a ilustração na hierarquia das informações das cédulas.
Nesse período, pinturas que registraram fatos importantes do Brasil, como “Lei Áurea”, “Grito do Ipiranga” e “Primeira Missa do Brasil” foram reproduzidas nos anversos das cédulas. Tiradentes e seu enforcamento e Santos Dumont e o 14 Bis também foram ilustrados nas notas, referendando o status das personagens que fazem a história do Brasil.
Em 1966, Aloisio Magalhães (1927-1982) vence o concurso das novas cédulas para o padrão monetário Cruzeiro e, em março de 1970, inicia-se uma nova fase de utilização de imagens no papel-moeda. As ilustrações são inseridas em medalhões e retratam desde personalidades, como Dom PedroI e II, Deodoro da Fonseca, a obras de Portinari e Aleijadinho.
Uma das emissões mais criativas entre as realizadas nas quatro últimas décadas do século passado foi a série denominada “Carta de baralho”, de autoria do designer pernambucano Aloisio Magalhães, que propiciava a mesma imagem da cédula para quem a oferecia e para quem a recebia, através do rebatimento vertical das imagens e dos valores.
As notas do padrão monetário Real, que circulam na atualidade, foram criadas em 1994 e têm como temática principal, para as ilustrações do verso das cédulas, as espécies de fauna brasileira em extinção (tartaruga-marinha, garça, arara, mico-leão-dourado, onça pintada e garoupa), em sintonia com viés da sustentabilidade. Elas chamam a atenção para um dos grandes problemas ambientais, que é o desaparecimento de vários animais em todo o mundo.
Em todas as cédulas do Real, a imagem da face principal é a efígie da República, a informação de maior tamanho, que ocupa o seu lado direito. Poucas pessoas reconhecem a imagem que representa a República e, curiosamente, as do verso têm direção de leitura vertical, diferente da frente, que é horizontal. Na mais recente emissão do Real, a partir de 2012, as imagens do verso das cédulas voltam ao sentido horizontal.
Se juntarmos em forma de bloco todas as cédulas emitidas no Brasil, de forma cronológica, teremos como resultado um livro de história do Brasil ilustrado. Tudo que mais se destacou na história da política, economia, turismo, música, literatura, artes plásticas, bem como as datas mais importantes para o país estão retratados ali. Frutos de uma economia pobre, mas rica na qualidade iconográfica, as cédulas constituem uma legítima memória brasileira.
HANS DA NÓBREGA WAECHTER, designer, mestre e doutor em Comunicação Audiovisual, pesquisador e professor da graduação e pós-graduação em Design da UFPE.