Olhando para suas raízes, Gonzaga também arquitetou a sonoridade do disco, elegendo, em meio a uma instrumentação pequena, a viola como principal condutor das melodias. “A viola brasileira tem várias afinações. Por isso quis reunir alguns amigos meus violeiros que representassem essa diversidade.” Para isso, convidou Jaime Além, representante da viola de 10 cordas do interior paulista, além de nomes da geração mais nova, como Juliano Holanda, com quem divide os vocais na mesma faixa, e Hugo Lins, correspondendo à viola dinâmica, de cantador de feira. A viola nordestina ficou a cargo de Cláudio Moura, produtor, diretor musical e regente do disco, que trabalha com Gonzaga há 15 anos. Moura também assinou o arranjo da faixa Arco do tempo, mas a função foi designada, na maior parte do disco, a Marcos FM e Nilson Lopes.
“De mim é um disco que valoriza o silêncio, as pausas que, por sua vez, são tão musicais quanto o som. Trabalhar com poucos instrumentos é difícil. A sorte é que temos grandes músicos para dar conta do recado. Acho que esse disco reflete bem a maturidade musical de Gonzaga e de nós, músicos”, disse Mauricio Cezar, pianista e arranjador de uma única faixa, Show. Fiel à sua equipe, Gonzaga não abriu mão de trabalhar com os músicos que o acompanham nos últimos anos. São eles: Mauricio Cezar (piano), Tomás Melo (percussão), George Rocha (percussão), Adilson Bandeira (clarinete, sax e clarone), Alex Sobreira (violão de sete cordas) e Cláudio Moura (viola nordestina). O sexteto revezou-se nas faixas com outros músicos convidados, entre eles Lucas dos Prazeres (percussão), Ricardo Fraga (bateria) e Julio Cesar (acordeon).
“O resultado do álbum vai na direção das pessoas que se identificam com o meu trabalho. Gravar canções é diferente de gravar um disco. Este último requer pessoas especiais que tenham o dom da contemplação. Eu quis trabalhar com calma, no tempo de cada músico, caso contrário, seria um trabalho sem alma”, explica Gonzaga, que se recusa a trabalhar com pessoas “sem potência criativa, sem histórias para contar e sem intimidade com o silêncio”.
De mim nasce depois de um jejum de gravação que durou quatro anos. “É um disco de respiração do meu fazer artístico, no qual me indago como pessoa e como artista.” O último trabalho de Gonzaga foi E o que mais aflore (2010). Desde então, não viu sentido em entrar no estúdio apenas para gravar canções e, com isso, justificar mais um disco. “Não dá para brincar, ser irresponsável e negligente com a música. A música é da ordem do sagrado, é um dos grandes senhores.” Para não deixar dúvidas sobre as suas motivações, ele recorreu a Déa Trancoso como sua porta-voz no texto de apresentação do disco: “De mim é de dentro pra fora, é o auge do rigor gonzaguiano. Uma disciplina que ele traz de rigoroso convívio com a música, sua segunda expressão. A primeira foi e continua sendo a contemplação”.
MARINA SUASSUNA, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.