Arquivo

CAu Gomez

Traço inteiramente pessoal

TEXTO Ricardo Melo

01 de Outubro de 2013

Ilustração para o livro 'Pastinha: o menino que virou mestre de capoeira', de José de Jesus Barreto

Ilustração para o livro 'Pastinha: o menino que virou mestre de capoeira', de José de Jesus Barreto

Imagem Reprodução

Cláudio Antônio Gomes, ou Cau Gomez (assim mesmo, como ele assina), é de Belo Horizonte, Minas Gerais, o estado mais mineiro do Brasil, segundo Millôr Fernandes. O esclarecimento prévio é oportuno, para que desavisados não pensem que ele nasceu (ou estreou) baiano, pois jeitão, comprovante de residência e título de cidadão soteropolitano ele já tem.


Carlos Drummond de Andrade junto com os Beatles, no traço de Cau Gomez.
Imagem: Reprodução

Esclarecida a origem, foi entre montanhas, final dos anos 1980, que ele estreou (ou nasceu) pronto e acabado para o desenho. O ainda adolescente Cauh (ele assinava assim) já exibia à época o traço solto, maduro e inteiramente pessoal que o distinguia de outros novos cartunistas, a maioria educada na escolinha do Pasquim. O Brasil vivia o renascimento da charge e da caricatura, com a abertura política e o fim da censura à imprensa.


Torcedor do Atlético Mineiro, usa seu talento para representar, sob
encomenda, craques do time, a exemplo de Ronaldinho Gaúcho.
Imagem: Reprodução

Cau é, de fato, um talento precoce. Aos quatro anos, já produzia suas primeiras calunguinhas; aos seis, participou de um concurso infantil de TV e, por pouco, não foi acusado de falsidade ideológica por assinar um desenho “feito por um adulto!”. Aos nove, ganhou uma bicicleta, o primeiro dos mais de 50 prêmios nacionais e internacionais que já conquistou. Salário mesmo, que é “bão” também, ele passou a receber aos 15, como chargista titular do extinto Diário de Minas. O espaço deste texto é pequeno para relacionar as honrarias que recebeu e publicações (jornais, revistas e livros) das quais participou e com que colaborou.


Em ilustração feita para o A Tarde, de Salvador, ele aborda
problemas dos planos de saúde. Imagem: Reprodução

Mesmo com passaporte carimbado para o sucesso profissional, frequentou os bancos da escola de arte Guignard, onde ganhou intimidade com outras técnicas, além da tinta nanquim empregada nas charges. Suas criações ultrapassaram o espaço limitado e descartável das páginas de opinião para alcançar a perenidade dos grandes formatos, em traços largos, expressivos, sem parcimônia no uso da cor.


Ilustração selecionada para o catálogo do I Festival de Humor do
Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução

Torcedor fervoroso do Galo, Cau Gomez joga em qualquer posição: aquarela ou acrílica, lápis ou pincel, hidrocor ou esferográfica, com os pés nas costas. Desenha como quem brinca, feito criança, feito Garrincha. Em outro portfólio, dessa vez publicado pela prestigiosa revista Gráfica, editada por Miran, também um grande nome do traço brasileiro, ele faz companhia a craques do nível de Saul Steinberg e do uruguaio Alfredo Sábat.


Além de ilustrações, Cau Gomez tem explorado a pintura, como nessas
obras de médio e grande porte, utilizando tinta acrílica. Imagem: Reprodução

Os trabalhos selecionados aqui são uma pequena amostra da exuberância artística de Cau Gomez, hoje quarentão, que há 13 anos dá expediente diário no jornal A Tarde, em Salvador, quando não está fora, a convite, para exposições e salões nacionais e internacionais de humor. E de lá volta com mais um prêmio para sua inesgotável coleção. Mineiramente ou ‘baianamente’, como lhe convém. 

RICARDO MELO, jornalista e ilustrador.

veja também

Pop: Como uma onda no mar

Iconografia do papel-moeda brasileiro

Aloisio Magalhães: Vida dedicada à visualidade