No entanto, Raoni não tem intenção de persuadir o interlocutor. Seu universo artístico é autorreferente, funciona como um porta-bandeira de si mesmo. É através de personagens, todos com uma história fictícia, que ele expressa sua visão de mundo. Sensível ao cotidiano, compõe seus protagonistas inspirado na cultura urbana. Seja reproduzindo o gestual de alguém que encontra na padaria, detalhes da roupa de um transeunte ou cenas prosaicas que de alguma forma o cativam.
Tons vibrantes reincidem no seu trabalho. Imagem: Reprodução
As técnicas variam de acordo com a proposta. Nanquim, aquarela, grafite, lápis de cor, hidrocor, acrílica e carvão sobre papel, madeira e pedra são as mais exploradas. Não há restrições para o uso das cores. Munido de uma paleta eclética e vibrante, o artista enxerga a variedade de tons como sinônimo de possibilidades criativas, e não como necessidade de transmitir alegria e vivacidade.
Aqui, artista usou várias técnicas: aquarela, lápis de cor, nanquim e esferográfica sobre papel. Imagem: Reprodução
Alguns elementos são recorrentes em suas obras, como as figuras do negro, da mulher, e objetos, como o capuz preto dos zapatistas. Se, na infância, Raoni tinha dificuldade em desenhá-la, hoje, a figura feminina é um dos ícones de seu trabalho. Nada mais natural, para quem tem como referência obras de artistas como Gustav Klimt e Egon Schiele, cujas obras, ainda que sob perspectivas diferentes, apresentam culto ao feminino.“Mulher é um negócio muito difícil pra mim. À medida que vou desenhando, vou tentando entendê-la. Ela tem umas sutilezas... Homem é uma mulher maldesenhada”, brinca.
Ideias inacabadas servem de estudo e deixam brechas que interessam ao ilustrador. Imagem: Reprodução
A estética visual e a narrativa das histórias em quadrinhos está intimamente ligada à identidade artística de Raoni. “Quadrinho é a linguagem que mais me cativa. Acho bem completa. Gosto do jeito que você é conduzido de uma imagem para outra. Mudando o tamanho dos quadros, o vácuo entre eles.” Seu estilo também flerta com a psicodelia, sinalizada pela desordem, delírio e “conexões desconexas”.
Desordem e delírio indicam psicodelismo. Imagem: Reprodução
É da natureza do artista criar imagens sugeridas pelas músicas que ouve, além de cenas que “rouba” de filmes. O diálogo com a linguagem musical também está presente nas ilustrações dos cartazes que produz para divulgar as festas d’A Casa do Cachorro Preto, em Olinda, espaço cultural que coordena há pouco mais de um ano, onde também se localiza seu ateliê. Muitos desses anúncios integram a decoração do espaço e refletem a influência, no trabalho do artista, dos cartazes no estilo art noveau e do pintor Toulouse-Lautrec.
Dentre sua produção gráfica, há ilustrações para divulgação
de festas e eventos. Imagem: Reprodução
Adepto do rascunho, ele diz que a transição para a arte final é algo que gosta de deixar em aberto em seus trabalhos, como maneira de interagir com o interlocutor. “Muitas vezes, risco os desenhos depois de finalizados, na intenção de criar lacunas para que as pessoas possam preenchê-las.”
Imagem: Reprodução
Raoni realizou cinco exposições individuais e participou de várias coletivas. É de sua autoria a ilustração do pôster oficial da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 – Sede Recife. Suas obras também estão em livros, publicações jornalísticas e já ocuparam espaços públicos, através de intervenções urbanas.
Raoni afirma a influência exercida nele pelas HQs. Imagem: Reprodução
Nos últimos anos, tem sido responsável por movimentar a cena das artes plásticas em Olinda, utilizando A Casa do Cachorro Preto para dar visibilidade ao trabalho de uma nova geração de artistas, entre eles o paraibano Shiko, que ele considera uma de suas referências mais próximas.
MARINA SUASSUNA, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.