Esculturas de pedregulhos empilhados são fotografadas, contrastando com uma cidade de prédios. A partir dos registros, tangencia o abstrato e, sutilmente, abre espaço para discussões urbanísticas. Muros espalhados pela cidade, decadentes pelo passar dos anos, tornam-se, no recorte do olhar, belas imagens abstratas. Alguns são apropriados pelo artista, que interfere ora descascando, ora fazendo colagens nas paredes. Numa delas, colocou uma foto rasgada, restando um par de olhos. Voltou após três meses e registrou: o muro havia incorporado a colagem. A imagem foi selecionada para o catálogo do 47º Salão Jauense Internacional de Arte Fotográfica e, curiosamente, anexado na seção de obras manipuladas. Ou seja, deduziram que Iezu construíra a fotografia com ajuda virtual de softwares.
Nas fotos que tem tornado públicas, Iezu aponta interesse pelo retrato.
Foto: Iezu Kaeru/Divulgação
Menos meditativo, mas igualmente sensível, Iezu Kaeru criou, em 2011, uma série de retratos das feiras livres ao redor de Pernambuco. Entre composições coloridas e em preto e branco, a série Feira da quinta “foi um momento de buscar o encontro com o outro”, em ritmo de crônica, contando a história do burburinho cotidiano de pequenos comerciantes. As protagonistas do ensaio, as feiras livres do quinto dia da semana, em Garanhuns, e de Beberibe, no Recife, hoje estão extintas e recebem do artista a denominação de “feiras mortas”. As imagens carimbam a interação entre fotógrafo e fotografados, personagens chamados pelos nomes de Seu João, Marcelo De La Poica, Zeca do Peixe, entre outros. Frutas, verduras e aparelhos eletrônicos são coprotagonistas dos retratados, para quem a feira, durante todo o dia, sob neblina, chuva ou sol, é a vida.
Boa parte do registro em feiras públicas foi feito sem uso de cor.
Foto: Iezu Kaeru/Divulgação
Com outros trabalhos realizados, como os ensaios O sonhador (2011) e Outro Rio (2012), este, uma leitura pessoal do Rio de Janeiro, Iezu Kaeru utiliza em seu trabalho máquinas analógicas e digitais. As fotos passam por eventuais tratamentos de imagem, que intensificam sua dramaticidade. Ele diz que o desfoque involuntário é bem-vindo. Câmeras velhas, filmes antigos e lentes com fungos são suas aliadas. A qualidade que importa a esse artista é a da memória afetiva em todo o seu ritual.
CLARISSA MACAU, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.