E assim como a do inglês, a formação do ouvido musical do pernambucano é bem diversificada: começou com a audição da Rádio Tupã, de Goiana, onde ele nasceu. Lá, menino, escutou Luiz Gonzaga, Moreira da Silva, Dilermando Reis e recebeu influências da música da Mata Norte. Ainda na infância, foi morar em Olinda, onde passou a ouvir discos dos anos 1970, como os de Marconi Notaro, Ave Sangria, Cátia de França. Já na adolescência, Juliano começou a gostar e a tocar em bandas de rock. Fora isso, havia o próprio ambiente familiar, com os pais tocando violão em casa. Essas influências podem ser percebidas em A arte de ser invisível, no qual o artista quis extrapolar os limites musicais dos gêneros. “Sou um compositor de canções, minha preocupação é preservar a integridade delas, independentemente do que o meu lado instrumentista estiver pedindo. A paixão pela canção é mais forte, a preocupação com a poesia, isto é centro do meu trabalho”, afirma o músico, que nas gravações tocou guitarra, violão, viola de 10 cordas, baixo elétrico, teclados rhodes. Esse cuidado fica bem evidente em faixas como Ouriço (interpretada por Jam da Silva e Marion Lamonier, instrumentista e produtora francesa), Farol (com participações de Geraldo Maia e Rob Curto), Antes e depois (Jr Black), Domingo no sítio (com voz de Tatiana Parra e piano de Benjamin Taubkin).
Com a intenção de destacar o acabamento das canções, o músico não somente explorou o melhor de suas composições, como mostrou a sensibilidade e o talento de um produtor experiente – o que pode ser percebido em Altas madrugadas, na qual há apenas vozes fazendo as vezes dos instrumentos (você vai jurar que ouviu uma guitarra, um baixo, mas é apenas a voz de Marcelo Pretto...). O disco tem também participações de Siba (voz em Horizontal), Areia (baixo), Carlos Ferrera (Ímãs de geladeira), Laya Lopes (Morada) e Ceumar (Na primeira cadeira, a única das 10 faixas que não é inédita). Mas, claro, ao final, sentimos falta de ouvir mais a voz do “dono do disco”, que o inicia com Karma Sutra, a mesma que permite a nossa entrada num território tratado com muito zelo.
Apesar de ter feito curso de Música da UFPE e estudado violão popular no Conservatório Pernambucano de Música, a escola de Juliano Holanda como produtor foi mesmo a prática. A sua disposição é tanta, que ele já está com novos trabalhos engatilhados como produtor. Inclusive, o segundo disco solo encontra-se gravado (a música A arte de ser invisível estará presente dessa vez), o qual pretende lançar no próximo semestre e mostrar um pouco mais de seu lado rocker, com formação apenas de baixo (Areia), bateria (Tom Rocha), guitarra e voz – ele cantará em todas as faixas, desta vez. Pelo visto, não quer ser “apenas” um George Martin.
DÉBORA NASCIMENTO, repórter especial da revista Continente.