É sobre esse universo que Custódio Coimbra lançou seu olhar arguto, afiado em mais de três décadas de batalha diária nos principais jornais cariocas. Ao longo de dois meses, passou por estádios em São Paulo, Porto Alegre, e, claro, pelo Maracanã, para produzir este ensaio. Como um bom torcedor, encarou chuvas torrenciais e calores senegalescos, espremeu-se entre multidões ou esparramou-se em cadeiras vazias, ouviu gritos e cantos, elogios e ofensas, dúvidas e certezas – um jogo à parte, em que a bola é mero detalhe.
Foto: Reprodução
De costas para o campo, defrontou-se com uma multidão de personagens anônimos que contam, pela simples expressão do olhar ou pela firmeza do gesto, o que acontece naquele momento. Mãos servem para saudar, desenhar uma coreografia, ofender o adversário ou simplesmente esconder o choro. Nos rostos, a angústia com o jogo que não acaba nunca e a decepção pelo que não deveria ter acabado daquela forma estão claros, assim como o desespero com o ataque inimigo e o alívio do gol salvador.
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Proeza de um fotógrafo acostumado, no dia a dia, a resumir sentimento e informação num único fotograma. Sempre com beleza e olhar crítico, desenvolvidos desde os 11 anos, quando passou a frequentar um clube de fotografia no Bairro de Quintino, no subúrbio carioca, e aprimorados ao longo dos anos; primeiro, na imprensa alternativa e sindical, depois, em jornais como Última Hora, Jornal do Brasil e O Globo, onde fotografa basicamente para as matérias especiais, publicadas aos domingos. Suas inspiradas imagens já lhe renderam prêmios, livros e exposições, além de estar presentes em galerias de arte.
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Desnecessário falar de linhas, grafismos, enquadramentos. Sim, é tudo bem composto, equilibrado, elegante, mas poderíamos, dele, esperar o contrário? Vale, porém, destacar a capacidade de entrar, literal ou metaforicamente, na torcida. Seja do campo, armado de uma potente teleobjetiva, ou da própria arquibancada, com uma discreta lente curta, Custódio se insere na plateia sem interferir em suas ações ou reações, e as captura não apenas como um espelho do que rola no gramado – o que já não seria pouco –, mas como retratos do drama humano. Jogada de craque.
ANDRÉ TEIXEIRA, editor assistente de fotografia do jornal O Globo e correspondente no Rio de Janeiro da revista Photo Magazine.