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Usos da memória - Janete Costa

TEXTO Joana D'Arc de Sousa Lima

01 de Março de 2013

Joana D'Arc de Sousa Lima

Joana D'Arc de Sousa Lima

Foto Luiz Santos/Divulgação

A trajetória de vida de Janete Costa, pernambucana nascida em Garanhuns (1932), radicada por alguns anos em Niterói/RJ, depois, no Recife, e finalmente em Olinda, onde faleceu (2008), é como um oceano vasto, revelador de geografias brasileiras e mundo afora, fruto de uma vida rica em criatividade, inovação, solidariedade e justiça. Seu olhar generoso a fez reconhecer as distintas maneiras de praticar a arte brasileira, seja em viés popular, modernista ou contemporâneo.

Para Janete Costa, toda classificação hermética produzia cegueira e impossibilitava trocas entre os artistas e seus apreciadores. Apostava na circulação dos artistas, dos trabalhos, das culturas. Como curadora, teceu narrativas em que o diálogo dos fazeres artísticos popular, erudito e contemporâneo se plasmavam em horizontalidade, revelando tradições, vocações, valores e características próprias de artistas e lugares. Dessa maneira, legitimou os mestres e os artesãos dos mais recônditos “sertões”.

Foi com essa aposta certeira que Janete Costa realizou projetos éticos e estéticos nas mais amplas redes do sistema da arte, do design, da arquitetura e da cultura popular. Janete concretizou projetos arquitetônicos, de ambientação e museográficos em bibliotecas, cinemas, auditórios, edifícios públicos, galerias, hotéis, praças, teatros e museus. Tornou-se, ao longo de sua carreira, uma das principais colecionadoras brasileiras de arte popular.

Nesses últimos anos, e ainda em vida, Janete Costa recebeu homenagens das mais variadas instituições públicas e privadas, em reconhecimento ao seu trabalho. A construção de sua memória está em pleno processo e em disputa. No Recife há, por exemplo, a Sala Janete Costa, no Instituto Ricardo Brennand, que acolhe parte de sua coleção de vidros de farmácia e objetos René Lalique e Charles Shneider; a Galeria, no Parque Dona Lindu, que leva o nome da arquiteta; e o Museu do Homem do Nordeste reserva um espaço comercial de arte popular denominado Espaço Cultural Janete Costa.

O exemplo mais recente dessa construção se materializou no projeto do Museu Janete Costa de Arte Popular, na cidade de Niterói, inaugurado em dezembro de 2012, de autoria de seu filho, o arquiteto Mário Costa Santos, também curador da primeira exposição. Segundo ele, a maioria das obras expostas faz parte da coleção reunida ao longo de anos por Vilma Eid, proprietária da Galeria Estação, em São Paulo, além de peças cedidas pelo Museu Histórico e de Arte do Estado do Rio de Janeiro, Coleção Janete Costa, e algumas de sua coleção pessoal.

Dadas as iniciativas citadas, oxalá possamos desdobrar camadas da multifacetada experiência de vida de Janete Costa e, assim, aprofundar as pesquisas nos mais variados aspectos de sua trajetória, buscando no tempo presente construir outros sentidos e usos de sua memória.m 

JOANA D'ARC DE SOUSA LIMA, doutora em História e atualmente diretora da Galeria Janete Costa.

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