“Para a exposição recifense, serão destacadas 15 obras produzidas em técnica pastel sobre a figura humana na paisagem pernambucana, em bairros e localidades da cidade, no ano de 1932. Nessa série, ele criou desenhos em aquarelas sobre as figuras do povo em ambientes locais, como Casa Amarela e Peixinhos”, detalha Yanara, que selecionou essas peças especialmente para a temporada no Recife. A exposição também traz um conjunto de imagens de bar, com cenas entre homens e mulheres boêmios, contendo mesas e copos em primeiro plano. “São as chamadas cenas de bar”, explica a especialista.
No dia 16 de março, às 16h, um plus para os que desejam conhecer mais essa faceta pouco conhecida da obra de Burle Marx: nessa data, haverá lançamento do catálogo e visita guiada pela curadora, que explicará ao público os detalhes dos 121 trabalhos mostrados na cidade.
EXPOENTE
Principal expoente do paisagismo brasileiro, Roberto Burle Marx nasceu em 4 de agosto de 1909. Ele foi o que se pode chamar de um homem plural: alem do paisagismo e das artes plásticas, trabalhou também como cantor, criador de joias, ceramista, escultor, pesquisador e tapeceiro.
Paulista de nascimento, em 1913, ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde produziu alguns dos seus principais trabalhos e projetos. No final da década de 1920, estudou pintura na Alemanha, e lá descobriu a flora brasileira cultivada em estufas, após frequentar assiduamente o Jardim Botânico de Berlim. Em 1932, depois do primeiro projeto paisagístico criado para uma obra arquitetônica de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, passou a se dedicar à área, juntamente com a pintura e o desenho.
Em 1934, veio morar no Recife, trabalhando sob a coordenação do arquiteto carioca Luiz Nunes. Aqui, projetou quatro praças públicas: a de Casa Forte, a Euclides da Cunha, na Madalena, a Dezessete, em São José, e a Artur Oscar, em frente à Torre Malakoff, hoje totalmente desvirtuada.
As obras foram produzidas utilizando aquarela, creiom e guache, entre outros materiais. Imagem: Reprodução
Burle Marx fez, ainda, pequenas intervenções em praças construídas no século 19 e no início do 20, como as do Derby, da República, da Maciel Pinheiro e da Chora Menino. Também são dele as modificações realizadas nos jardins internos do Palácio do Campo das Princesas, sede oficial do governo pernambucano. Seu trabalho se pautava em três eixos: o ecológico, o educativo e o artístico.
O convite para que viesse morar em Pernambuco foi feito pelo governador Carlos de Lima Cavalcanti, que pretendia mudar a paisagem recifense, dotando-a de ares modernos. Sua saída se deveu a motivos políticos, a partir da instauração do Estado Novo, que via com suspeição os artistas modernistas. Mas a ligação com a cidade continuaria. Em 1950, seria convidado a construir mais duas praças: a que fica em frente ao Aeroporto dos Guararapes e a do Jardim Zoobotânico de Dois Irmãos. Suas últimas obras recifenses foram realizadas na década de 1980, quando construiu a Praça Burle Marx, instalada e aberta à visitação na Oficina Francisco Brennand; o Cemitério Parque das Flores, no Sancho; e o Parque Memorial Arcoverde, na divisa entre o Recife e Olinda, que não chegou a ser totalmente concretizado.
Depois da passagem pela capital pernambucana, sua fama ganhou o mundo. Em 1955, o paisagista fundou a Burle Marx & Cia. Ltda. e passou a elaborar projetos de paisagismo, realizando a execução e manutenção de jardins residenciais e públicos em todo país. Entre suas obras de destaque, estão os jardins do Itamaraty e o paisagismo do Eixo Monumental, em Brasília e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) e os jardins do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, em Belo Horizonte. No exterior, assinou o paisagismo da Embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos.
Em 1949, Burle Marx adquiriu um sítio de 365 mil m², em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, onde organizou uma grande coleção de plantas, muitas delas fontes de inspiração para seus trabalhos. Esse sítio foi doado, em 1985, à Fundação Nacional Pró-Memória (atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN). Aos 84 anos, após ter projetado mais de 2 mil jardins, Roberto faleceu no dia 4 de junho de 1994, no Rio de Janeiro. Um homem, sem dúvida, que deixou o Brasil mais verde e mais bonito.
DANIELLE ROMANI, repórter especial da revista Continente.