Arquivo

Raul Luna

Movimento em preto e branco

TEXTO Duda Gueiros

01 de Julho de 2012

Imagem Reprodução

O que esperar de um designer autodidata, formado em Arquitetura, que já foi DJ e cultiva o trabalho em cinema e vídeo como primeira fonte de inspiração gráfica? E acredita que trabalhar sozinho, isolado e imerso é a chave para um bom resultado? Experimentação e quebra da formalidade são palavras essenciais para Raul Luna.

Colagens e referências históricas à aviação integram o trabalho para a Banda Joseph Tourton. Imagens: Reprodução

Quando ingressou na universidade, ele já tinha um pé (e o coração) no design, por isso tratou de canalizar os aprendizados arquitetônicos para o desenho experimental. Custou para se formar, já que muito do curso estava em total desacordo com suas expectativas, como hoje ele afirma estar do seu trabalho. Na agitação da vida universitária e numa tentativa de fuga dos formalismos acadêmicos, montou com amigos um coletivo de vídeo chamado TV Primavera, que explorava as possibilidades visuais das artes plásticas em movimento. “Aquilo foi a sementinha de tudo o que eu colho hoje. Devo bastante a esse período bastante criativo e fértil”, comenta.


Projetos para músicos é o enfoque do trabalho de Luna. A exemplo
destes, para Niedermeier & Whitehead, M. Takara, China, Thavius
Beck e The Wink's. Imagens: Reprodução

O coletivo acabou, mas a dinâmica de estar sempre envolvido com outro tipo de expressão artística permaneceu. Raul começou com aquela iniciativa um ciclo de trabalho que dura até hoje – a produção gráfica para músicos. Aninhou-se na cena indie da música pernambucana e daí surgiram parcerias com China, Tibério Azul, os integrantes d’A Banda de Joseph Tourton e da Bande Dessinée. “O trabalho gráfico com os músicos é especial porque, quando surge essa demanda, já existe certa sinergia com o artista e, depois, ela só aumenta. São muitas conversas e estudos daquele som, para que o resultado seja uma identidade visual, sem nenhum tipo de dissociação conceitual da música”, diz.

O universo artístico de Raul é em preto e branco. Apenas uma parcela pequena de suas obras ganha cor e, quando isso acontece, é de forma monocromática e minimalista. Ele vê o mundo em extremos: linhas vertiginosamente sinuosas ou extremamente retas, escatologia ou sobriedade, elementos dissonantes ou simétricos, quietude ou inquietação.


Lava, primeira exposição solo de Raul, reúne gravuras que remetem à biogênese.
Imagens: Reprodução

“Todo o sentimento envolvido no meu trabalho está refletido na minha primeira exposição, a Lava”, explica Raul, que já mostrou esse conjunto de desenhos no Recife e o levou a São Paulo e Rio de Janeiro, e que, agora, deve alçar voos mais longos, com exibição em Tóquio. A exposição traz o conceito de fluxo, a partir de elementos orgânicos e das ciências exatas. É um remix de criações de formatos diferentes entre si, mas iguais no conceito, que exploram a biogênese e geram um discurso marcado pela ideia de que tudo está em movimento e que a significação é um processo lento.


Luna está entre os idealizadores da revista bimestral
sobre música
MI, que não tem projeto gráfico fixo.
Imagem: Reprodução

Para ele, atuar como designer que atende ao mercado permite o desenvolvimento da expressão artística. Raul, que já desenhou sites, fez encartes de CDs, cartazes e variados tipos de material gráfico, impõe uma condição a ele mesmo: que todo o seu trabalho – dos autorais aos comerciais –mostre artisticamente a sua visão de mundo. 

DUDA GUEIROS, estudante de Jornalismo e estagiária da Continente.

veja também

Peleja: Guilherme Bauer x Ricardo Tacuchian

O protagonismo da Direção de Arte

O ativismo político na música erudita