“Tentei por diversas vezes encontrar uma voz narrativa convincente para escrever esse livro, mas só a infantil é que se mostrou concreta para o que eu desejava”, explicou Villalobos, em conversa com a Continente, por telefone. O mexicano – casado com uma brasileira, atualmente residente em Campinas, interior de São Paulo – não esconde a perplexidade diante do impacto de Festa no covil. O romance já foi vendido para mais de 14 idiomas, com críticas positivas em publicações como The Telegraph e The Independent. Seu espanto ganhou proporções maiores porque ele conhece bem o jogo das editoras europeias, que (ainda) insistem em buscar a América Latina de possíveis e anacrônicos imitadores de Gabriel García Márquez. “Eu não posso deliberadamente dizer que quero me afastar da tradição do boom literário latino-americano, porque, dessa forma, estaria confirmando ainda mais suas premissas. Prefiro fazer a minha própria literatura”, destaca.
O crítico que se propõe a descrever os trâmites de Festa no covil deve evitar possíveis spoilers no seu texto: o livro assusta justamente porque tateamos no imaginário dos seus animais sem compreender muito bem o que está prestes a acontecer. E, como se trata da narração de um filhote, a violência e os respingos de sangue pululam na cara do leitor, travestidos de uma inocência perturbadora. Seria possível cair no clichê de tratar esse romance como uma obra de formação, mas, no fundo, toda a história literária é também a saga de personagens fraturados, que se formam e se decompõem com o passar das páginas.
A versão inicial de Festa no covil teria 70 páginas. Mas o autor conseguiu esticar a narrativa para não menos sucintas 88. Seu próximo livro, que será entregue à editora espanhola Anagrama, no final do ano, já tem o dobro disso. “Um dos meus autores favoritos é Roberto Bolaño, que ficou famoso por livros enormes, como 2666 e Detetives selvagens. Até pouco tempo, nunca havia pensado em fazer um romance com essas dimensões, porque seus livros com tamanho reduzido, como Noturno do Chile e Estrela distante, já dizem tudo, num espaço de tempo tão curto. Mas penso que, no futuro, irei me entregar à liberdade de fazer um grande romance, no qual nem todas as páginas são necessárias. Essa liberdade é um exercício importante para um escritor”, afirma Villalobos, que escreveu uma crônica para o blog da sua editora brasileira, Companhia das Letras, contemporizando o fato de que “lemos Bolaño porque precisamos acreditar”. Pelo visto, Villalobos já está acreditando.
SCHNEIDER CARPEGGIANI, jornalista, editor do suplemento Pernambuco e doutor em Teoria da Literatura.