Salve o anti-herói!
TEXTO Petrônio de Lorena
01 de Julho de 2011
Petrônio de Lorena
Foto Divulgação
Ao assistir ao filme X-Men, first class, que revela a origem dos mutantes, alguns questionamentos sobre o imaginário do herói no cinema americano e brasileiro ficaram me arranhando as ideias.
O herói é uma representação humana que reúne os atributos necessários para superar um problema de dimensão épica. É guiado por ideais nobres e altruístas: liberdade, sacrifício, coragem, justiça e paz. Abriga sentimentos humanos junto a qualidades e/ou poderes de um humano elevado ou mesmo de um deus ou semideusdeus.
O cinema pop americano sempre se apropriou do imaginário dos heróis. Além de filmes de guerra e de aventura, existem aqueles oriundos das histórias em quadrinhos: Super-homem, Homem-aranha, Batman, Homem de Ferro, Surfista Prateado, Quarteto fantástico, entre outros. Todos eles seguem a linha de defensores da humanidade e, às vezes, trabalham em conjunto com a CIA, o exército ou a polícia norte-americana. Tentam transmitir uma sensação de confiança sobre as instituições de vigília social, o que afirma o direcionamento para temas institucionais de seu próprio governo, sobretudo a “segurança”. Com o novo X-Men não é diferente. A história passa na primeira metade dos anos 1960 e os mutantes estão divididos entre o governo americano e o governo soviético, no cenário da Guerra Fria.
Já o herói cinematográfico brasileiro é bem diferente. Embora muitos filmes exaltem nossos grandes nomes pátrios, instituições, cidades, os heróis que marcaram nossa cinematografia no imaginário popular são picarescos ou de índole duvidosa. Macunaíma, João Grilo, Oscarito, Teixeirinha, Mazzaropi, Grande Otelo, os Trapalhões, o Bandido da Luz Vermelha, Vadinho (de Dona Flor e seus dois maridos), a Dama do lotação, Lampião, Lúcio Flávio, entre muitos outros. Esses personagens pertencem a filmes que obtiveram estrondosa bilheteria no Brasil, segundo o site Filme B.
Enquanto os heróis americanos executam missões de teor militar a serviço de sua pátria ou da manutenção da ordem mundial, os heróis brasileiros ultrapassam obstáculos apenas para garantir sua sobrevivência.
Como somos engraçados e pícaros em nosso heroísmo, talvez o melhor seja realizar filmes que satirizem o modelo do herói americano, já que não dá para levá-lo a sério no Brasil. A única coisa séria é que esses semideuses da indústria cinematográfica ocupam nossas telas, faturam muito, divertem os brasileiros com uma mensagem da época da Guerra Fria e ainda se colocam como salvadores da humanidade. Portanto, salve o anti-herói brasileiro!
PETRÔNIO DE LORENA, roteirista e diretor de audiovisual.