Passada uma semana, Pedro Álvares continuou sua viagem com destino à Índia, seguindo as recomendações de Vasco da Gama, navegando, no sentido sudeste, em busca do Cabo da Boa Esperança (África do Sul), denominado então pelos marinheiros de Cabo das Tormentas.
A sorte, porém, que o acompanhara até então, parece tê-lo abandonado: logo no dia 23 de maio, quando uma forte tempestade, já nas proximidades do Cabo, veio a provocar fortes baixas na esquadra. Na ocasião, naufragaram as naus de Aires Gomes da Silva, Luís Pires e Simão Dias, levando consigo mais de 300 homens, seguindo-se da caravela de Bartolomeu Dias, o mesmo que houvera descoberto o dito Cabo da Boa Esperança, com 80 homens. Somente a 16 de julho, os cinco navios restantes da esquadra se reencontraram, completamente avariados e com as suas tripulações em pânico, na ilha de Quiloa, na costa do atual Quênia.
A viagem se seguiu com o que restou da primitiva frota, atingindo Sofala (Moçambique), em julho, e Melinde (Quênia), a 2 de agosto, onde, com o apoio do xeque Omar, conseguiu os serviços de um piloto hindu que a conduziu até a Índia. Em 13 de setembro, aportaram em Calicute (Índia) a capitânia de Pedro Álvares, a sota-capitânia de Sancho Tovar, e a Anunciada, de Nuno Leitão da Cunha, além de duas outras comandadas por Nicolau Coelho e Simão de Miranda.
No final de setembro, o capitão-mor teve o esperado encontro com o Samorim de Calicute – ou Samudri-Raj, o Senhor do Mar –, quando lhe fez entrega da carta do D. Manuel I, escrita em árabe, e presenteou-o com moedas de ouro e prata, sedas e brocados, recebendo em troca autorização para instalação de uma feitoria naquele movimentado centro comercial.
Mas o pior estava por vir. Enquanto os portugueses carregavam suas naus de especiarias, enfrentando a concorrência dos comerciantes árabes, que os viam como uma ameaça aos seus negócios, a esquadra veio a ser atacada, a 16 de dezembro de 1500, por cerca de 300 árabes e hindus.
No embate, perdeu a vida o escrivão Pero Vaz de Caminha, juntamente com o feitor Aires Corrêa, seis frades franciscanos e 50 outros portugueses. Em represália, segundo relato do Piloto Anônimo, foi Calicute bombardeada durante dois dias pelos portugueses, “matando infinita gente e causando muito dano à cidade”.
Em seguida, Pedro Álvares buscou abrigo no reino de Cochim (hoje a maior cidade do estado de Kerala, na costa do Malabar), distante 200 km de Calicute, para onde se dirigiu no dia 20 de dezembro. O rajá local, rival de Calicute, permitiu a instalação de uma feitoria e o carregamento das naus de pimenta, gengibre, canela e outras especiarias.
Em 16 de janeiro de 1501, com uma cabeça de ponte instalada em Cochim, os navios que restaram da esquadra de Pedro Álvares iniciaram sua viagem de retorno a Lisboa. No seu regresso, foi encontrar em Bezeguiche, hoje Dakar, a nau desgarrada de Diogo Dias, com uma tripulação de apenas sete homens, e, numa feliz coincidência, com a expedição de Gonçalo Coelho que seguia em busca do Brasil.
Dos 13 navios, somente regressaram a Lisboa a nau Anunciada, sob o comando de Nuno Leitão da Cunha, em 23 de junho de 1501, seguindo-se a nau capitânia de Pedro Álvares, que veio aportar no Tejo, a 21 de julho de 1501, unindo pela primeira vez os quatro continentes: Europa, América, África e Ásia.
O restante dos navios e suas tripulações perderam-se no mar, bem de acordo com a descrição do poeta Fernando Pessoa: “Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena/ Quem quer passar além do Bojador/ Tem que passar além da dor/ Deus ao mar o perigo e o abismo deu,/ Mas nele é que espelhou o céu”.
LEONARDO DANTAS SILVA, escritor e historiador.