Os indivíduos e suas relações com o entorno, com a coletividade e com as instâncias do poder, da arte e da sociedade sempre habitaram as suas obras. Daí o fato de ele considerar seu trabalho como “um tipo de antropologia do sujeito e do entorno”. Para explorar essas questões, Gonper aposta em narrativas e códigos específicos que, em alguns momentos, pedem uma simples contemplação dos espectadores ou sua ativa participação.
Em Cuidado animais em você, o artista faz de um espelho a base
da obra. Foto: Fabiano Gonper/Divulgação
Na série O manipulador (2008), por exemplo, o público contempla, seja na rua (como aconteceu durante a Street Bienal, em 2010, em São Paulo), seja em alguma instituição, traços que criam sujeitos sem rostos com atitudes autoritárias, numa provocação aos altos escalões do poder. O primeiro desenho da série tratava da manipulação entre os sujeitos. Num segundo momento, Gonper começou a trabalhar com imagens de referência política, como homens engravatados, retirados de revistas e jornais. Em Pinturas variáveis, o público tem um papel mais ativo. As pinturas são feitas em espelhos foscos que refletem o ambiente e passam a variar de acordo com o posicionamento do espectador em relação à obra.
Ao longo de sua trajetória artística, Gonper abandonou o modelo clássico
de escultura e passou a trabalhar com outros suportes.
Foto: Fabiano Gonper/Divulgação
Nesse constante flerte com as relações de poder, o artista também critica o campo da arte, do qual é sujeito atuante. Ao criar a obra Gonper Museum (2002), insere um novo espaço expositivo dentro da própria instituição. Só que nesse “espaço/obra” é ele quem possui o poder sobre o que será e o que não será exibido. Inicialmente, o Gonper Museum abrigou apenas seus trabalhos, mas em outras mostras passou a receber também obras de artistas e instituições diversas, como em 2005, no Panorama da Arte Brasileira, quando o recebeu o acervo do MAM-SP.
Feitas em espelhos foscos, as pinturas variam de acordo com o posicionamento do espectador em relação à obra. Foto: Ricardo Alves/Divulgação
A sua produção escultórica começou com influências clássicas, era o que ele tinha como referência principal. Com o tempo, contextualizando sua pesquisa, passou a desconstruir esses ideais, chegando às suas Esculturas planas em mármore branco.
Com a obra Gonper Museum, ele cria outro espaço expositivo, que recebe trabalhos seus e também de outros artistas. Foto: Rodrigo Braga/Divulgação
Em seus trabalhos, Gonper redefine e reafirma a potência do desenho e da escultura. “Um desenho minúsculo pode ser mais arrebatador que uma grande pintura, assim como uma pequena escultura pode gerar questões mais pertinentes e fortes que um desenho em grande escala, em um campo ampliado. Não importa o meio, mas, sim, o que propõe o trabalho”, pontua.
MARIANA OLIVEIRA, repórter especial da revista Continente.