“Noel Rosa e seu grupo viviam em um tempo em que as classes baixa e média da cidade, embora já o suficientemente distanciadas, a ponto de não se confundirem, coexistiam, por assim dizer, em uma mesma área urbana, por efeito da proliferação dos cortiços e das casas de cômodos, que apareciam ao lado das casas das boas famílias”, observa José Ramos Tinhorão, em Música popular, um tema em debate. “Quando os rapazes de Vila Isabel resolveram formar o seu conjunto, esse impulso representava o desejo de criar na sua classe um divertimento equivalente (embora necessariamente estilizado) ao dos conjuntos de batucada e de choro formado pelos componentes das camadas mais baixas”, complementa.
INCREMENTOS DA INDÚSTRIA
O Bando de Tangarás surgiu numa época promissora para a indústria fonográfica do Brasil. Nesse período, as gravadoras passaram a se multiplicar, atendendo ao surgimento de novas tecnologias no país, como o rádio (1922), a gravação elétrica (1927) e o cinema falado (1929). “Ao terminar o ano de 1928, termina também esse período de transição em que as novidades do século 20 passam a ditar os rumos de nossa música popular. Estávamos prontos para entrar em nossa primeira grande fase, a chamada Época de Ouro”, afirma Zuza Homem de Mello, no livro A canção no tempo. No entanto, havia um problema nesse mercado iniciante: achar bons artistas. Por conta dessa demanda, pessoas do meio artístico, como o cantor Francisco Alves, maior ídolo musical do país nos anos 1930, começaram a voltar seus olhos para a periferia em busca de novos compositores e instrumentistas (muitas vezes para comprar a coautoria das canções).
“As gravadoras, engatinhando ainda de estrutura e organização precárias, com dificuldades mesmo para formarem os seus casts, recorreram a cantores, instrumentistas e grupo amadores como o Flor do Tempo para enriquecerem seus ainda modestos catálogos de lançamentos. Rapazes de classe média – muito mais interessados na novidade do disco do que nas incertas vantagens financeiras que podem obter da música – passaram a ser vistos nos estúdios cantando, tocando. Eram artistas baratos, se é que custaram alguma coisa. Eles próprios faziam rigorosamente tudo, compunham, cuidavam dos arranjos, ensaiavam, cantavam e se acompanhavam, de modo que para as gravadoras, a não ser no que dizia respeito aos gastos materiais (estúdio, eletricidade, cera, acetato), um disco saía praticamente de graça. Se acontecesse de fazer sucesso, tudo era ganho. Se não, pouco se perdia”, contextualizam Carlos Didier e João Maximo, em Noel Rosa: uma biografia.
Almirante, o “cabeça” do Flor do Tempo, ao receber proposta do próprio presidente da Odeon para uma gravação, viu-se obrigado a “enxugar” o seu grupo, que era quase uma orquestra, com mais de 10 pessoas. Procurou, então, ficar com os melhores: Alvinho, Henrique Brito e Carlos Alberto Braga, mais conhecido como João de Barro, o Braguinha (único que adotou o apelido de pássaro, sugestão de Almirante, para driblar a vergonha de suas famílias em ter um filho artista). Quando fez o convite a Noel, já o tinha visto pelas ruas, nas serenatas, e o conhecido vagamente em uma ocasião. Sabia do seu potencial como violonista, mas não como compositor, tanto que, no repertório dos Tangarás, poucas criações do Poeta da Vila foram aproveitadas.
O virtuosismo de Noel como instrumentista se deveu às incontáveis horas em que passou tocando bandolim e, depois, violão. “Foi graças ao bandolim que eu experimentei pela primeira vez a sensação de importância. Tocava e logo se reuniam, ao derredor de mim, maravilhados com a minha habilidade, os guris de minhas relações. A menina do lado cravava em mim uns olhos rasgados de assombro. Então eu me sentia completamente importante. Ao bandolim confiava, sem reservas, os meus desencantos e sonhos de garoto que começava a espiar a vida”, afirmou em entrevista a O Globo, em 31 de dezembro de 1932. “Ouvir o violão era como se ouvisse a mim mesmo, como se ouvisse a voz do próprio coração, o lirismo que nasceu comigo. Com o violão veio o período maravilhoso das serenatas.”
À época, Noel já sabia que queria viver de música e almejava ser bem-sucedido, só não tinha a proporção exata de como seria ter sucesso. Sonhava com a aclamação, tendo apenas o Rio de Janeiro como o topo. “O que eu objetivara era ver a minha música difundida por toda a cidade, propagada pelas diferentes vozes, florescendo dos assovios anônimos, dos pianos dos bairros, das vitrolas. Imaginava o meu prestígio quando as minhas produções obtivessem essa projeção. Eu entraria nas festas e as meninas me apontariam: ‘Aquele é o Noel!’ No bonde, alguém, do banco de trás, diria: ‘Olha o Noel!’”. Embora morto aos 26 anos, o artista atingiu, de certa forma, o seu desejo.
ENTRE A GALHOFA E O LIRISMO
Como costuma acontecer na música popular, letras são totalmente autobiográficas ou guardam em algum trecho um quê da vida pessoal do artista. No caso de Noel Rosa, as canções tendem a revelar traços de sua personalidade ímpar (“O meu destino/ foi traçado no baralho/ Não fui feito pro trabalho/ eu nasci pra batucar”, Felicidade). Peralta, rebelde, fuzarqueiro, sarcástico e cínico, mas, acima de tudo, perspicaz desde garoto, o músico exibia a cada música características que o definiram como “cronista”.
Com o Bando de Tangarás, no estúdio da Odeon, na cúpula do Teatro Phoenix, em 1930.
Foto: Reprodução
Uma das qualidades que o fizeram se destacar entre os contemporâneos era que abordava qualquer assunto. “Antes, a palavra samba tinha um único sinônimo: mulher. Agora, já não é assim. Há também o dinheiro, a crise. O nosso pensamento se desvia para esses gravíssimos temas”, declarou o próprio compositor em entrevista, no início da carreira. “Noel foi o grande inovador de nossa lírica, o primeiro a mostrar que tudo (fome, miséria, mentira, futebol, jogo do bicho, assassinato, roubo, prostituição, homossexualismo, bebida, política, corrupção) podia ser convertido em letra de música”, observa João Máximo, biógrafo do compositor, no texto de abertura do livreto de 160 páginas que integra a caixa Noel pela primeira vez (Velas/Universal), o mais completo acervo da obra do compositor, lançado em 2002, a partir dos esforços do pesquisador Omar Jubran.
Do início da carreira se destaca a citada Com que roupa?, que caiu perfeitamente no contexto da crise que o país atravessava, pelos reflexos da Queda da Bolsa de Nova York, em 1929. “Essa gíria nasceu em Vila Isabel, ali na esquina no Ponto dos Cem Réis, negócio de pôquer. Foi a primeira vez que surgiu ‘Com que roupa eu vou ver o teu jogo?’, que quer dizer com que dinheiro? E depois ela se espraia de uma maneira terrível e foi sendo, vamos dizer, adaptada e aceita de outra forma”, lembrou o compositor e caricaturista Antônio Nássara, em entrevista ao programa Ensaio, da TV Cultura, em 16 de maio 1975.
Nas diversas entrevistas que Noel deu a partir de então, sempre retrucava as perguntas dos jornalistas com falsas respostas. “A inspiração surgiu da minha mãe que escondia as minhas roupas para eu não sair à noite”, afirmou, aproveitando o fato de Dona Martha realmente ter escondido seus trajes para que o filho não saísse para as farras noturnas. Mas, às pessoas mais próximas, o músico revelou que se tratava mesmo de uma crítica à situação econômica do país.
Por conta da influência dos Tangarás, o autor passou a usar, por um curto período, elementos da música nordestina em suas composições, a exemplo da canção sertaneja Sinhá Ritinha e da toada Festa no céu. Então, a partir de 1932, migrou para o samba carioca, inspirado no ídolo Sinhô (1888–1930), considerado o compositor que estruturou o gênero musical e um dos “três maiores do samba carioca” (definição de Vinícius de Moraes) ao lado de Noel e Ismael Silva (1905–1978).
Desde o começo da carreira, o Poeta da Vila compôs muitas marchinhas, cantadas pelos foliões do Faz Vergonha, bloco ao qual pertencia e no qual quase foi preso, em 1931, por mostrar a cueca ao “plantar bananeira” vestido de mulher. Em parceria com Lamartine Babo, foi autor da primeira música nonsense do país, antecipando o estilo dos Mutantes, com A.B.Surdo (“...é futurismo, menina/ pois não é marcha/ nem aqui nem lá na China”).
Nessa mesma safra, demonstrou sua capacidade para criar composições originais, como o Gago apaixonado, que causou furor por sua inventividade – apesar do fato de os gagos não gaguejarem ao cantar. Outra criação que surpreendeu a crítica e o público foi o “monólogo” Conversa de botequim.
Como tratava de temas usando a linguagem das ruas, muitas de suas músicas atualmente precisam de “legenda” para dirimir possíveis mal-entendidos. Quem dá mais?, por exemplo, poderia indicar um Noel antissemita (“Ninguém dá mais que 50 mil réis?/ Quem arremata o lote é um judeu/ Quem garante sou eu/ Para vendê-lo pelo dobro do museu”). Nessa letra, o músico faz referência aos estrangeiros, mais conhecidos como “judeus” (sendo ou não), que emprestavam dinheiro a juros às famílias pobres.
BOSSA FRENOLÓGICA
Noel conseguiu chegar às massas, pois utilizava com eficiência o palavreado popular (“Durma-se com esse barulho”, em Não me deixam comer), gírias (“Passear no tintureiro”, que significa carro de polícia, emMulato bamba) e expressões de duplo sentido (“mão no remo”, em Iça vela, uma das três parcerias com Ary Barroso). Fora isso, também ajudou a popularizar termos como “bossa”, presente na música Coisas nossas (“o samba, a prontidão e outras bossas são nossas coisas, são coisas nossas”), feita após ter assistido ao filme Coisas nossas (1931), de Wallace Downey. O rapaz conheceu a palavra na aula de frenologia, durante o curso de Medicina, que sugeria que as bossas frontais e as occipitais do crânio é que determinariam a aptidão.
Músico que sistematizou o samba, Sinhô era o maior ídolo de Noel. Eles se
conheceram em 1925, quando Noel, aos 15 anos, foi à sua casa. Foto: Reprodução
O termo também aparece na composição Riso de criança, que fez para uma das paixões de sua vida, Josefina “Fina” Telles: “Eu nascendo pobre e feio/ ia ser triste o meu fim/ mas crescendo a bossa veio/ Deus teve pena de mim”. Para ela, também compôs uma de suas mais belas canções, Três apitos, que narra o período em que descobriu que a namorada trabalhava numa fábrica de tecidos (“Mas você não sabe/ que enquanto você faz pano/ faço junto do piano/ estes versos pra você”).
Uma das motivações mais inusitadas para a criação de músicas foi a histórica batalha de sambas entre Noel e Wilson Batista. Este, em 1932, ainda um iniciante, resolveu pegar carona no sucesso de Noel e atacou com Lenço no pescoço. Há o revide com Rapaz folgado. Wilson faz O mocinho da vila, e Noel compõe o clássico Feitiço da vila. Wilson contra-ataca com Conversa fiada (“É conversa fiada/ dizerem que os sambas/ na Vila tem feitiço...”). Noel arrasou o rival com Palpite infeliz, que inicia com uma provocação (“Quem é você que não sabe o que diz?) e torna-se sucesso do Carnaval de 1936. O outro, sabendo que estava perdendo a disputa, fez Frankstein da Vila e Terra de cego. Noel encerra o assunto com Deixa de ser convencido.
No início de sua carreira, o músico interpretava a maioria de suas canções, com canto miúdo, irônico, quase falado. Depois, elas passaram a ficar bem mais encorpadas com o acréscimo das vozes de nomes de peso da música popular brasileira, como Francisco Alves, Mário Reis, Marília Batista, Orlando Silva, Carmem e Aurora Miranda, Sílvio Caldas e Aracy de Almeida.
Ao passar dos anos, também vai crescendo o número de parceiros, Francisco Alves e Ismael Silva (Uma jura que fiz), Braguinha (a marcha Linda pequena ou As pastorinhas), Vadico (o samba Pra que mentir), Heitor dos Prazeres (a marcha Pierrot apaixonado) e Cartola, que revelou nos anos 1970 a coautoria de algumas composições.
Noel, que era mais festejado por suas letras irreverentes, foi também bom melodista, com ou sem parceiro. É o que comprovam as diversas músicas que fez sozinho, entre elas as obras-primas Fita amarela eÚltimo desejo, e o choro instrumental Choro (ou Baianinha). Composto em 1929, não fora gravado por ele nem possuía partitura, mas por sorte não se perdeu no tempo, pois no dia em que Noel o tocou na Rádio Guanabara, em 1934, estava lá o músico Jacob do Bandolim, que anotou os acordes. A música foi gravada, em 1983, pelo grupo “noelista” Coisas Nossas.
“Noel Rosa pode não ter sido o melhor compositor popular de seu tempo, mas foi decerto o mais importante. Nele, ou em sua obra, estão mais marcadas do que nas de qualquer outro as transformações profundas pelas quais a música brasileira passou ao longo dos anos 30. Na música, ao trocar o samba amaxixado da Cidade Nova pelo samba menos dançante e mais melódico do bairro Estácio. Na letra, ao substituir a poesia pernóstica, preciosística, dos seresteiros românticos dos tempos de Catulo da Paixão Cearense, por versos que alguns estudiosos associam à Semana de Arte Moderna. Exageros à parte, Noel Rosa simboliza as duas transformações, na música e na letra. Não as fez sozinho, claro, mas foi seu mais eloquente representante”, avaliou João Máximo, no encarte do box Noel pela primeira vez.
Máximo é autor, junto com o músico e pesquisador Carlos Didier, de Noel Rosa – uma biografia (Editora UNB), considerado um dos livros mais importantes sobre a história da música popular brasileira, mas que se encontra, desde 1994, fora de catálogo, por um embargo das filhas do irmão de Noel, Hélio Rosa, que hoje se responsabilizam pelo legado do compositor desde a morte de sua esposa, Lindaura, em 2001. Artigo raro, o calhamaço chega a ser leiloado na internet por até R$ 400,00.
Em Vila Isabel, bairro em que Noel Rosa nasceu e viveu foi erguido
monumento em sua memória. Foto: Fábio Guimarães/Agência O Globo
Em 2008, passados 70 anos da morte do compositor, 120 de suas composições tornaram-se obras de domínio público. De acordo com as regras do direito autoral no Brasil, as criações são protegidas por toda a vida do autor e mais 70 anos após a sua morte. Já nas obras produzidas em coautoria, o prazo de proteção é contado a partir do falecimento do último dos coautores. A partir de então, ela se torna parte do patrimônio coletivo e qualquer pessoa pode utilizá-la. Sendo assim, pode ser regravada e executada de diversas formas, incluindo recursos como remixagem e sampling.
VIDA QUE VALE UM FILME
Noel Rosa já foi tema de diversas produções cinematográficas nacionais, principalmente curtas-metragens, como Isto é Noel Rosa (1991), de Rogério Sganzerla. No entanto, nenhuma delas, nem a mais recentePoeta da Vila (2006), de Ricardo Van Steen, está à altura da importância do artista. Uma coisa é certa: sua vida, cheia de travessuras, tragédias, aventuras e amores, vale e merece um filme, um ótimo filme.
Um dos pontos que mais se destacam na sua trajetória é o defeito na face, que se tornou sua marca. O afundamento na mandíbula foi consequência do difícil parto que sua mãe enfrentou, tendo o médico que usar o fórceps, que fraturou o maxilar do recém-nascido. Por conta desse problema, só percebido pela família quando o bebê gorducho deixou a mamadeira para os alimentos sólidos, Noel teria dificuldade para mastigar, motivo pelo qual preferia ingerir comidas pastosas (purês, papas, mingaus) feitas pela mãe, e não gostava de comer nos restaurantes e bares. A dificuldade em se alimentar tornou a criança um rapaz franzino, ao contrário do irmão Hélio, quatro anos mais novo, bonito e vistoso.
O contraste entre os dois viria a se tornar mais evidente no passar dos anos. Enquanto Noel era bem-humorado e diplomático, Hélio era sério e arredio. Enquanto o primeiro gostava das ruas, o segundo optava por ficar em casa lendo livros. O caçula era considerado o superdotado pela família, pois aprendera a ler sozinho aos quatro anos, e já lia em francês, aos nove; além disso, gostava de se aprofundar na leitura dos mais diversos assuntos. O afinco nos estudos era tanto, que a avó costumava dizer que ainda haveria de ter uma inscrição no chalé onde moravam: “Nessa casa morou Hélio de Medeiros Rosa”. Dona Bella só errou de neto.
Os atores Rafael Raposo e Camila Pitanga interpretam os amantes Noel e Ceci, no filme Poeta da Vila, de 2006. Foto: Divulgação
Mas não havia como a família prever que o filho mais velho se tornaria alguém importante, visto que Noel vivia sendo reprovado. Chegou a passar oito anos no ginasial, só sendo “libertado” quando Getúlio Vargas assinou um decreto anunciando que todos os estudantes do país seriam aprovados no final do ano, devido à interrupção das aulas a partir do mês de outubro, por conta da Revolução de 1930. Foi a salvação do garoto, que era o terror dos professores. Como uma espécie de Juquinha, famoso personagem das piadas pornográficas, Noel, da última fila da sala de aula, vivia importunando os mestres, sempre garantindo a diversão dos colegas. No tradicional colégio São Bento, fazia e distribuía um jornalzinho arremedando a publicação oficial da escola.
Já o violão ganhou de presente do Tio Fábio, que se cansou de ver o rapaz chegando de madrugada carregando o instrumento furtado do pai – o gosto pela boemia começou na puberdade, quando, aos 13 anos, perdeu a virgindade, e aos 14, começou a fumar e a beber.
Os vizinhos consideravam a família Medeiros Rosa “esquisita”, por ter um filho boêmio, outro que falava em almas de outro mundo (Hélio) e um pai (Manuel) que vivia recluso, absorto nos projetos de invenções, como a bicicleta aquática, e que se suicidaria anos depois da mãe, a citada Dona Bella.
Em 1932, Noel abandonou a Medicina de vez, e começou a trabalhar no Programa Casé (de Adhemar Casé, avô de Regina Casé). Em 1934, conheceu sua última grande paixão, Ceci, a Dama do cabaré. Naquele ano, casou-se obrigado com Lindaura Martins, de apenas 13 anos, e começou a apresentar os problemas da tuberculose. A pedido médico, viajou com a esposa para Belo Horizonte. Porém, o tratamento durou poucos dias, pois passou a frequentar os bares locais.
Em 1935, volta a se internar e, em seguida, a cair na boemia. No decorrer do ano, o pai se suicidou. Em 1936, teve nova recaída da doença, vindo a falecer em 4 de maio de 1937, na casa onde morou por toda a vida, na rua Teodoro Silva, onde hoje se encontra um prédio residencial que leva seu nome. O enterro arrastou pelo bairro uma multidão, entre amigos, vizinhos, amantes, parentes, fãs, artistas, imprensa e curiosos. Noel tornara-se uma lenda.
NÁSSARA, OUTRA CRIA DE VILA ISABEL
Berço de Noel Rosa, o bairro carioca de Vila Isabel gerou também várias outras estrelas. Entre elas, Antônio Gabriel Nássara, mais conhecido como Nássara, o caricaturista e cartunista de desenhos simples, porém marcantes. O artista atuou, no início de sua carreira, como habilidoso compositor de marchas e sambas, deixando seu nome registrado na música popular brasileira.
Imagem: Reprodução
Nascido em 11 de novembro de 1910, no Rio de Janeiro, Nássara frequentou o curso de Belas Artes, mas não se formou. A partir de 1928, começou a trabalhar em jornais, quando se empregou no Crítica, dirigido pelo jornalista Mário Filho, irmão de Nelson Rodrigues. Depois, passou por vários periódicos, inclusive O Pasquim, com o qual colaborou na década de 1970.
O músico começou a compor marchinhas carnavalescas nos anos 1930, quando venceu concursos em que disputava com feras como Lamartine Babo, Ary Barroso e o seu vizinho Noel Rosa. De suas criações, destaca-se a marcha de 1941, Ala-la-ô (com Haroldo Lobo), Formosa (com Jota Ruy), Balzaquiana e Mundo de zinco (com Wilson Batista), e Retiro da saudade (com Noel Rosa). Nássara também é reconhecido como o primeiro autor de um jingle comercial do Brasil, criado em 1932, para uma padaria, quando trabalhava na Rádio Philips, no Programa Casé.
DÉBORA NASCIMENTO, repórter especial da revista Continente.