Esse é o tempo em que a pernambucana Amanda Melo, 32, vem se inserindo no circuito de artes visuais, a partir de criações cujo ponto de partida (ou chegada) geralmente é o corpo; ou melhor, a ação e o movimento (e a resistência) decorrentes de seu deslocamento no espaço. Uma poética que se constrói ora com a presença declarada da artista em performances ou fotografias, ora sorrateira em desenhos ou objetos.
Nos trabalhos de Amanda Melo, o corpo tem papel central, seja o da
própria artista ou de outras pessoas, como em Tópico naval
Nascida no município de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, Amanda já desenvolveu e expôs seu trabalho em diferentes cidades – do Brasil e do exterior. A seleção que aqui se apresenta é um dos possíveis olhares em torno de sua obra. É como captar o frame de um processo em ebulição, com a ajuda da própria artista, que contribuiu bastante para traçar uma leitura sobre suas criações ao longo desses anos.
Na obra Round 4, apresentada na feira SP Arte, Amanda Melo é fotografada em cima de um touro
Há desde trabalhos inéditos, como a fotografia de Round 4 (2010), em que ela se expõe deitada como modelo sobre um boi arredio, a obras do início da carreira – é o caso de Notícias de isolamento, um registro fotográfico realizado em 2003, com bonecas que “tentam” se mover enroladas numa fita isolante preta. O trabalho é um desdobramento da performance Isolante, à qual a artista ficou associada durante muitos anos – haja vista o impacto da ação em que ela se lançou no caos urbano com o corpo nu coberto de fita isolante preta até os cabelos.
A série Sal é mar, com desenhos feitos dentro da água salgada
com lápis aquarelável, foi criada para o Salão de Artes Plásticas
de Pernambuco
Cada vez mais “diluído”, como ela mesma diz, o corpo também está presente de forma indireta na série de desenhos Sal é mar (2009), feitos por ela dentro da água salgada com lápis aquarelável. Resultante do balanço das ondas, a partir de um percurso litorâneo feito em nove praias da costa brasileira, o trabalho foi desenvolvido para o 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco e trouxe vários outros a reboque, como as fotos de Em paragem e Tópico naval (2009/2010).
De uma forma ou de outra, a trajetória de Amanda Melo situa o corpo numa espécie de limbo, entre sua negação e exaltação. Mas, relembrando o que o artista Artur Barrio já disse em relação à body art brasileira, é um suporte em que está muito mais o corpo que transpira do que o que padece.
OLÍVIA MINDÊLO, jornalista, mestranda em Sociologia.