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Amanda Melo

Movimento e resistência

TEXTO Olívia Mindêlo

01 de Dezembro de 2010

A fotografia de ação foi realizada na praia de Brasília Teimosa, no Recife

A fotografia de ação foi realizada na praia de Brasília Teimosa, no Recife

Foto Reprodução

Eleger imagens que ajudem a colocar o leitor-espectador na trajetória de uma artista contemporânea é uma tarefa tão espinhosa quanto instigante. Toda escolha traz uma exclusão implícita. E isso parece mais evidente quando se tem que mostrar alguns dos trabalhos realizados em diferentes linguagens, num período de quase 10 anos.


Durante sua estada em Belo Horizonte, em parceria com o artista cearense Yuri Firmeza, desenvolveu o trabalho Álbum 21.10.2008





Esse é o tempo em que a pernambucana Amanda Melo, 32, vem se inserindo no circuito de artes visuais, a partir de criações cujo ponto de partida (ou chegada) geralmente é o corpo; ou melhor, a ação e o movimento (e a resistência) decorrentes de seu deslocamento no espaço. Uma poética que se constrói ora com a presença declarada da artista em performances ou fotografias, ora sorrateira em desenhos ou objetos.


Nos trabalhos de Amanda Melo, o corpo tem papel central, seja o da
própria artista ou de outras pessoas, como em
Tópico naval

Nascida no município de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, Amanda já desenvolveu e expôs seu trabalho em diferentes cidades – do Brasil e do exterior. A seleção que aqui se apresenta é um dos possíveis olhares em torno de sua obra. É como captar o frame de um processo em ebulição, com a ajuda da própria artista, que contribuiu bastante para traçar uma leitura sobre suas criações ao longo desses anos.


Na obra Round 4, apresentada na feira SP Arte, Amanda Melo é fotografada em cima de um touro 

Há desde trabalhos inéditos, como a fotografia de Round 4 (2010), em que ela se expõe deitada como modelo sobre um boi arredio, a obras do início da carreira – é o caso de Notícias de isolamento, um registro fotográfico realizado em 2003, com bonecas que “tentam” se mover enroladas numa fita isolante preta. O trabalho é um desdobramento da performance Isolante, à qual a artista ficou associada durante muitos anos – haja vista o impacto da ação em que ela se lançou no caos urbano com o corpo nu coberto de fita isolante preta até os cabelos.


A série Sal é mar, com desenhos feitos dentro da água salgada
com lápis aquarelável, foi criada para o
Salão de Artes Plásticas
de Pernambuco





Cada vez mais “diluído”, como ela mesma diz, o corpo também está presente de forma indireta na série de desenhos Sal é mar (2009), feitos por ela dentro da água salgada com lápis aquarelável. Resultante do balanço das ondas, a partir de um percurso litorâneo feito em nove praias da costa brasileira, o trabalho foi desenvolvido para o 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco e trouxe vários outros a reboque, como as fotos de Em paragem Tópico naval (2009/2010).

De uma forma ou de outra, a trajetória de Amanda Melo situa o corpo numa espécie de limbo, entre sua negação e exaltação. Mas, relembrando o que o artista Artur Barrio já disse em relação à body art brasileira, é um suporte em que está muito mais o corpo que transpira do que o que padece. 

OLÍVIA MINDÊLO, jornalista, mestranda em Sociologia.

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