POESIA E HISTÓRIA
O catálogo da Cepe também tem investido em poesia. No primeiro semestre, a editora levou às prateleiras os inéditos O girassol, do jornalista Garibaldi Otávio, e o citado De ruas e inti-nerários, de Alexandre Furtado. Agora, mais dois chegam ao público: A intocável beleza do fogo, do poeta Geraldino Brasil, e Poemas, do padre Daniel Lima.
“Temos tido a sorte de publicar livros de poetas até então inéditos”, comemora Polo. Segundo ele, a exceção é a obra de Geraldino Brasil que, apesar de inédita, não é a primeira do autor. “O livro foi encontrado em uma pasta, datilografado e organizado, graças à sua filha, Beatriz Brenner”, conta. Mantendo a temática anterior do poeta, A intocável beleza do fogo também é um mergulho mais profundo do representante da Geração de 65 nos questionamentos do fazer poético.
Daniel Lima, por sua vez, faz sua estreia em grande estilo. Poemas não só é a sua primeira obra, como é composta por quatro livros, e tem lançamento previsto para 24 de novembro, na Livraria Cultura. A capa, criada a partir de uma pintura de José Cláudio, segue o projeto gráfico da coleção, de autoria do diretor de Produção e Edição da Cepe, Ricardo Melo: em capa dura e ilustrada por trabalhos de artistas plásticos pernambucanos.
Ainda no campo da literatura, a escritora e professora Luzilá Gonçalves Ferreira prepara dois tomos da coletânea crítica Autores pernambucanos do século XIX. Organizadas pela acadêmica, as obras são resultado de uma pesquisa em arquivos e bibliotecas públicas e particulares sobre os escritores da época. “Cada um mereceu um estudo biográfico e crítico, seguido de uma pequena antologia de seus trabalhos”, descreve Marco Polo, ressaltando a importância de tirar nomes importantes do esquecimento. “É um livro que completa lacunas e oferece a estudantes, professores e interessados em literatura e história um rico material para novos estudos, pesquisas e reflexões.”
Neste 2010, foram lançadas também duas obras de análise histórica. Em Nas solidões vastas e assustadoras: a conquista do sertão de Pernambuco pelas vilas açucareiras nos séculos XVII e XVIII, a historiadora Kalina Vanderlei da Silva aponta como os personagens esquecidos pelos relatos oficiais contribuíram para a expansão do território brasileiro sertão nordestino adentro. Enquanto isso, Fernando da Cruz Gouvêa, também historiador, elabora Um diplomata e político do Império – o conselheiro Sérgio Teixeira de Macedo, a partir do diário pessoal do eminente diplomata, resgatando a vida pernambucana do século 18. Para dezembro, a editora ainda planeja a publicação da minienciclopédia Elucidário, de Fernando Cerqueira Lemos, que reúne a definição de termos ligados ao universo das artes, do colecionismo, dos antiquários e dos marchands
Entre os títulos publicados, neste ano, esteve o livro Todos estão dormindo, de Edson Nery da Fonseca. Foto: Divulgação
NOVOS SELOS
Mas nem só de inéditos se pauta o setor editorial da Cepe. A partir de um mapeamento das publicações pernambucanas, a editora criou a Coleção Acervo Pernambuco, que trabalha com obras consideradas fundamentais para a cultura pernambucana que se encontram fora de catálogo ou que já são raridades. “A intenção é reeditá-las, atualizando seus textos para a nova ortografia e com tratamento gráfico apurado, a partir de um projeto especialmente encomendado à premiada designer de livros Moema Cavalcanti”, explica Ricardo Melo.
Por enquanto, a coleção deve englobar três selos: o Letra pernambucana, recuperando obras de poesia, prosa e ensaio; o Palco pernambucano, com textos de peças e ensaios teóricos; e o Arte pernambucana, que traz livros de história da arte e ensaios. “Também está na pauta a reedição de livros sobre história, antropologia, geografia, dentre outros. Além da nova visualidade, esses livros terão apresentações de especialistas, nas quais comentarão sobre seus autores, o contexto histórico em que estão inscritos e a atualidade que mantêm”, aponta o diretor de Produção e Edição da Cepe. Segundo ele, como títulos da Coleção, devem ser lançados ainda este ano Dois Recifes, de Polycarpo Feitosa, A personagem dramática, de Rubem Rocha Filho, e Memória do Atelier Coletivo, de José Cláudio.
Outro segmento de publicações que deve ser explorado pela Cepe em 2011 é o infanto-juvenil, realizando uma proposta antiga da editora. “A maneira que encontramos de atrair novos escritores foi criando um concurso nacional”, conta Marco Polo. O I Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil teve uma procura surpreendente, com a inscrição de 445 obras de diversos estados brasileiros.
“A experiência do concurso foi interessantíssima, pois esse gênero é um dos mais importantes no cenário da literatura brasileira. No entanto, Pernambuco, além da editora Bagaço, que lança obras para o público infanto-juvenil regularmente, não possui produção expressiva nessa área. Além disso, o aspecto gráfico dessas publicações também foram priorizados pela editora e isto é muito importante, porque esses livros precisam ter um tipo de acabamento não convencional. É uma grande iniciativa. O concurso merece ainda mais elogios, porque é uma experiência muito democrática”, comemora Mário Hélio.
A princípio, os três primeiros colocados no concurso terão suas obras publicadas – além de receberem até R$ 8 mil –, mas já se prevê a inclusão de obras inscritas no Concurso no catálogo da editora. “A ideia é criar uma coleção e, posteriormente, promover palestras com os autores em escolas públicas e eventos literários”, projeta Marco Polo.
Fazendo um balanço positivo dos dois primeiros anos em que está à frente dos projetos editoriais da Cepe, o editor destaca como principal dificuldade mercadológica a distribuição dos livros para além do limites do Estado. “Estamos tentando superar o problema através das redes nacionais de livrarias, distribuidoras regionais e, principalmente, através da divulgação e das vendas online”, expõe. A recém-inaugurada loja virtual da Cepe, com entrega para todo o Brasil, é o principal esforço na área.
O editor acrescenta também a vontade de investir em formatos de livros que ainda não puderam ser contemplados. “Seria muito bom lançar um romance de qualidade, mas até agora não surgiu nenhum. Também temos interesse em publicar histórias em quadrinhos. Há ainda o projeto de publicação de audiolivros e livros para deficientes visuais, o que devemos efetivar no próximo ano”, adianta.
DIOGO GUEDES, repórter especial da revista Continente.