Herança de Nova Orleans no Nordeste do Brasil
Recife Jazz Festival consolida-se como propulsor de intercâmbio entre músicos internacionais e apresenta novas ações, como concurso e palestra
TEXTO Thiago Lins
01 de Outubro de 2010
Todos os membros do coletivo Paris Jazz Underground têm carreira solo
Foto Divulgação
Depois de três anos na Torre de Malakoff, e outros três no Pátio de São Pedro, o Recife Jazz Festival ocorre, pela primeira vez, no Teatro de Santa Isabel (cujos 160 anos serão celebrados na ocasião). Trata-se de “um ambiente mais propício para o evento”, afirma Alex Corezzi, idealizador e produtor do RJF, para quem “os ruídos externos e até conversas paralelas” dos outros locais interferiram na qualidade dos espetáculos. Ao contrário da gratuidade das edições anteriores, agora, o evento terá entrada paga.
Nesta edição, também, o festival contará com um concurso de bandas, o Tremplin Recife Jazz, que ocorre até novembro. O grupo vencedor ganhará 24 horas de gravação em estúdio no Recife, mixagem e masterização na Argentina, e prensagem de mil cópias em SMD (Semi Metallic Disc, alternativa ao CD, barata e eficiente). O Tremplin (trampolim) ratifica a importância do RJF como vitrine para bandas menos experientes.
A “rodada de negócios” do festival vai ser a palestra do argentino Jorge Sadí, vice-presidente do portal de música latina Farolatino, sobre a possível criação do acesso pago ao You Tube, um assunto cujo interesse transcende a apreciação do jazz.
A sétima edição do RJF continua apostando no intercâmbio entre o Brasil e a França, trazendo atrações do país, como Paris Jazz Underground e X’Tet Bruno Regnier. O primeiro é um coletivo que, apesar de formado recentemente, reúne seis músicos experientes. São eles: David Prez, Robin Nicaise e Amy Galen (saxofones), Romain Pilon e Sandro Zerafa (guitarras) e Karl Jannuzka (bateria). Antes da formação do Paris Jazz Underground, seus integrantes já somavam 10 títulos em discografias individuais, e foi pensando na expansão desse público disperso que os músicos criaram o novo grupo, conforme atestam no MySpace.
Já o X’Tet Bruno Regnier é uma big band, capitaneada pelo maestro que empresta o nome ao grupo. Regnier foi premiado em 1999 no concurso de composições de La Defense, o maior “trampolim” do jazz naquele país, segundo o saxofonista Alex Corezzi. Ele lembra que, entre os nove membros, do X’Tet, “há um espaço grande para a individualidade”; cada um dos integrantes, que também são detentores de carreiras-solo, possui um momento reservado no show. Além de Regnier, o grupo é completado por Sébastien Texier e Rémi Dumoulin (saxofones e clarinetes), Olivier Themines (clarinetes), Alain Vankenhove (trompete), Matthias Mahler e Jean-Louis Pemmier (trombones), Alexis Therain (viola), Frédéric Chiffoleuau (baixo) e Guillaume Dommartin (bateria).
Os franceses formam o grupo de frente do festival, que ainda conta com atrações da Argentina (o saxofonista Ricardo Cavalli, considerado o melhor do seu país), Cuba (o pianista Alejandro Vargas) e Chile (o guitarrista Raimundo Santander, também premiado em sua terra natal), além das atrações locais, como o próprio Corezzi.
Ele conta que o embrião do festival foi o Quintas da Boa Música, o extinto evento que começou a coordenar em 2000, reunindo bandas de jazz com ingressos a preços populares no Teatro da UFPE (Zona Oeste do Recife). Dois anos depois, o produtor partiu para a França, onde se especializou em jazz na American School, em Paris. Foi lá que ele conheceu o Paris Jazz Festival (que no ano passado reuniu 140 mil pessoas).
A França detém o segundo maior mercado do gênero no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (o polo, Nova Orleans, ainda se recupera do furacão Katrina, que arrasou a cidade em 2005). “Os franceses tem rádio-jazz 24 horas por dia, tanto para os contemporâneos quanto para os tradicionais”, afirma Corezzi. A França também publica, exclusivamente, a maior revista dedicada ao estilo no mundo, a Jazz Magazine, que enviou correspondente ao Recife no ano passado, para cobrir o RJF.
O produtor sublinha que o simples fato de “existir” constitui uma das realizações do RJF, que, já na primeira edição, em 2003, lotou o Pátio de São Pedro, no centro do Recife. Corezzi sustenta que o festival ainda é jovem, com muito para crescer. Ele adianta que pretende estender o calendário para as edições posteriores, com mais shows (a programação deste ano conta com oito atrações) e palestras.
THIAGO LINS, repórter especial da revista Continente.