Os empreendedores – e também os arquitetos – descobriram que o marketing em torno do “consumo sustentável” poderia ser aplicado também à Arquitetura, e que os “selos verdes” seriam uma forma de orientar o “consumidor”. Como consequência, tem-se observado nesse campo artístico o início de um processo que nasceu no marketing em meados dos anos 1980: o greenwash. O termo se refere à estratégia de marketing com o objetivo de aumentar a venda e a visibilidade de um produto, baseadas em uma falsa imagem ecológica do mesmo. Uma prática questionável, portanto, que tem conduzido os arquitetos por caminhos pouco éticos, em que a propaganda ou imagem publicitária associada ao aspecto “verde” do projeto oculta problemas intrínsecos de qualidade arquitetônica.
Seriam os “selos ecológicos”, por exemplo, mais uma forma de greenwash na Arquitetura? A grande referência internacional, no que diz respeito à certificação ambiental de edificações e empreendimentos, é o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). Os críticos acusam-no de greenwash, por se fundamentar prioritariamente na utilização de novas tecnologias e produtos, pela orientação ao consumo e ao mercado, pela pouca ênfase no projeto e pela ausência de uma contextualização local. Se seguirmos a “cartilha da certificação”, proposta pelo Leed, projetos que simplesmente seguem os princípios lançados por Armando de Holanda, em seu Roteiro para construir no Nordeste (que já ensinava a construir de maneira sustentável antes mesmo da onda verde), não obteriam as classificações máximas propostas pelo selo.
O mesmo ocorreria com boa parte da arquitetura moderna brasileira, como é o caso das obras dos arquitetos Luís Nunes, Delfim Amorim, Acácio Gil Borsoi, entre outros. Da mesma forma, não teria lugar, na classificação do selo, a “arquitetura do povo”, como “as casas sobre palafitas do Amazonas”, descritas por Joaquim Cardozo, em 1955, como “uma arte de construir que, atendendo às contingências de acidentes topográficos diversos e às dificuldades econômicas das populações mais humildes, é quase sempre realizada com espontaneidade singular, caracterizando-se, sobretudo, pelo emprego de materiais de fácil aquisição e mais adequados à aplicação local”.
Enfim, os projetos podem até se utilizar da certificação ambiental como instrumento de referência, mas nunca devem se limitar a ela. Caso contrário, a Arquitetura – como no greenwash – será apenas um instrumento para a promoção de empreendimentos e iniciativas que já nascem insustentáveis, camuflados pela retórica da onda verde.