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Francisco Brennand
Artista prepara livro em que reúne sua obra em pintura. A organização é de Fernando Monteiro
Para que serve uma efeméride? Entre outras possibilidades, constitui-se numa oportunidade de (re)encontrar temas, pessoas, situações. Quando retomamos alguns assuntos atentos ao calendário, abraçamos a História, ciência para a qual a passagem do tempo é condição de existência, em que o passado verte-se em presente. As efemérides, também, são eficazes em dois sentidos: em lembrar aos mais velhos fatos de que foram testemunhas e trazer aos mais novos notícias de um tempo/lugar distante e, tantas vezes, desconhecido.
A Continente deste mês ressalta duas datas, embora, como o leitor constatará, haja outros acontecimentos marcantes sublinhados nesta edição. Um, são os 60 anos de criação da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Outro, o centenário de nascimento do ceramista Vitalino (foto), nossa matéria de capa.
Para os pernambucanos, sobretudo aqueles mais assenhoreados da própria história, estes são assuntos já conhecidos, que podem provocar a agradável sensação de reencontro ou a desagradável de déjà vu. Para os leitores de outras geografias e mesmo aqueles nascidos no Estado, porém mais jovens, as duas datas podem significar revelação. Evidentemente, nossa aposta é no agradável reencontro e na revelação.
Neste sentido, para ambos os assuntos históricos buscamos uma angulação atual, vieses que pudessem promover interesse. No que diz respeito à Fundaj, nosso enfoque recai sobre o investimento que a instituição tem feito em projetos que enfatizam o binômio arte-educação, por acreditar que é na formação que se conquista público para a arte.
A atenção que dedicamos ao mestre Vitalino vai no sentido de rememorar o prosaico – sua vida simples de “artista de feira” –, pelo depoimento de filhos, amigos e colegas de ofício; ao mesmo tempo em que destacamos o valor de sua obra, que não se restringe à categoria de “arte popular” (alcunha que, às vezes, escamoteia preconceitos), porque foi transformadora à sua época e na sua técnica, como se constata no artigo escrito por Maria Alice Amorim para esta edição.
E como se conta da prodigalidade de Vitalino, artista que repassava conhecimento e não era sovina em compartilhar méritos, também trazemos uma matéria sobre mestres que lhe foram contemporâneos – e dizem com ele ter aprendido a arte de esculpir no barro – e aqueles que são considerados seus herdeiros, usufruindo do prestígio que a arte cerâmica de Caruaru conquistou, por conta do trabalho pioneiro de Vitalino.
Diga o amigo leitor se de encontro agradável ou de déjà vu são feitas essas páginas que, um dia, esperamos, se encontrem amareladas pelo tempo, guardadas em estantes, por afeto e memória.
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