A programação do Festival de Inverno de Bonito, que acompanharemos entre os dias 26 e 29 de julho, é potente no tocante à diversidade de gêneros musicais, manifestações culturais e de várias origens, o que reitera a proposta já apresentada no Fasp, em maio deste ano. A seleção das atrações contempla artes visuais, música, artes cênicas, cinema, artesanato, gastronomia e literatura e acontece mediante edital. No entanto, segundo o secretário de Cultura e Cidadania do estado Athayde Nery, as contribuições populares se deram a partir do contato com os fóruns culturais.
A Serra da Bodoquena (região onde se localiza o município de Bonito), apesar de ser uma região um pouco menos fronteiriça que a do Pantanal, não deixa a desejar em relação à tamanha multiplicidade étnica, tampouco quanto ao intercâmbio cultural com outros povos das divisas. “Neste estado, a diversidade é a sua identidade, uma identidade plural”, defende Athayde, falando deste Mato Grosso do Sul, terra de, pelo menos, sete etnias de povos originários – guarani-kaiowá, terena, kadiwéu, guató, ofayé, kinikinawa e atikum.
Nesse cenário, num ínterim considerado como baixa estação pelo ecoturismo, devido ao inverno, algumas atrações naturais encontram-se impossibilitadas de receberem visitas. Com o festival, é possível manter o fluxo de turistas interessados em curtir o evento, que aqui parece ter mais um sentido de cidadania cultural do que de entretenimento.
A sustentabilidade, que norteia o FIB, direciona o evento para questões acerca da escassez de água, tema bastante caro à contemporaneidade e a uma cidade como Bonito. Seus recursos hídricos, aliás, elevam o turismo como um dos pontos mais fortes da economia local. “Além das atrações, o festival tem que trazer valores. ‘O contrário de insegurança é a convivência’, disse o colombiano Jorge Melguizo lá em Corumbá, este ano. Então, quanto mais convivência, mais a gente vai construir. Ocupar os espaços públicos é também se encontrar”, afirma Athayde, lembrando da Praça da Liberdade, um dos pontos turísticos da cidade, onde se localiza o palco principal.
Entre as atrações da praça, está o mestre Milton Nascimento, que vai apresentar ao público bonitense seu show Semente da Terra, no sábado (28/7), a partir das 21h30. São canções clássicas deste artista nascido carioca, criado em Minas, que trazem um posicionamento político contundente acerca do racismo, de questões trabalhistas e das lutas indígenas, o que dialoga com reivindicações da população local. Desde o ano passado, segundo a Secretaria de Cultura e Cidadania, duas importantes mostras têm tido bastante destaque para os habitantes de Bonito no festival. Uma é a Canta Bonito, no qual os artistas locais se apresentam na quinta (26/7), às 21h30, no palco principal. A segunda é a mostra gastronômica em que vários restaurantes participam com comidas tradicionais da região.
Nesta mesma época do ano, o agreste pernambucano está recebendo o Festival de Inverno de Garanhuns(FIG). É possível perceber algumas semelhanças com o FIB, a exemplo do friozinho, a distribuição em palcos descentralizados, as inscrições via edital. Em Bonito, mediante tanta beleza que esse estado proporciona, seguiremos na travessia, através das artes e do encontro que um festival como este exalta. Afinal, (re)descobrir o outro, aprender mais sobre o Brasil e sua diversidade, é, na verdade, nos alargar e aprender mais sobre nós mesmos.
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