Cobertura

Documenta 14 e o desafio de unir Norte e Sul

Evento que acontece a cada cinco anos em Kassel, na Alemanha, traz em sua agenda a proposta de discutir a polarização do mundo

TEXTO Revista Continente

29 de Maio de 2017

Escultura do artista Manfred Kielnhofer, que está na 'documenta 14'

Escultura do artista Manfred Kielnhofer, que está na 'documenta 14'

Foto Divulgação

A partir do dia 7 de junho, a Continente acompanha a documenta 14, um das exposições mais importantes de arte contemporânea do mundo. Através de uma parceria com o Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA), enviamos a nossa colaboradora Bárbara Buril, jornalista que ficará responsável por acompanhar a primeira semana do evento em Kassel, na Alemanha, de onde enviará à Continente Online uma cobertura exclusiva da mostra, que acontece de cinco em cinco anos.

Para acompanhar os textos, imagens e vídeos da documenta 14, os leitores podem acessar a home do nosso site, onde estarão em destaque as postagens mais recentes, ou uma página especial, que funcionará como um blog da cobertura desta que é conhecida como “as Olimpíadas das artes visuais”, com artistas do mundo inteiro. No endereço, estarão reunidas todas as postagens, incluindo desde as obras que serão expostas nos espaços tradicionalmente reservados para a documenta, como o Museu Fridericianum, até os debates, as performances e as intervenções que acontecem ao ar livre na programação paralela da documenta.

Este ano a documenta 14 acontece pela primeira vez fora de sua cidade-mãe, Kassel, ocupando também Atenas, na Grécia, devido à proposta curatorial desta edição de questionar as fronteiras, principalmente política e econômica, entre Norte e Sul europeu, e globais. O tema de 2017, Learning from Athens, recorre a Atenas não só como símbolo da crise financeira global e migratória na Europa, mas também como ícone representativo da construção da democracia na história ocidental. Além disso, a escolha de levar a exposição para Atenas está ligada a uma das principais intenções desta edição, que é fazer com que a arte crie pontes e supere fronteiras que a economia e a política não são capazes de realizar hoje. Assim, desde o dia 8 de abril, a documenta 14 está em Atenas, onde segue em cartaz até o dia 16 de julho. Em Kassel, a mostra será inaugurada oficialmente no dia 10 de junho e encerra no dia 17 de setembro. Ambas as versões coexistem, então, durante cerca de um mês (junho/julho), com os mesmos artistas participantes, com obras distintas.

CRÍTICAS
Apesar da orientação curatorial da documenta 14, já há uma série de críticas direcionadas ao time do curador polonês Adam Szymczyk, segundo as quais não houve um interesse da documenta em incluir os artistas locais na exposição oficial ou na programação paralela do evento. As críticas principais enfatizaram que o modo pelo qual a instituição se inseriu em Atenas reproduziu o mesmo movimento pelo qual o Norte sempre se introduziu no Sul: através de um posicionamento colonialista e dominador, como se pode ver na crítica do curador Moacir dos Anjos publicada no blog Conexão documenta 14, do Centro Cultural Brasil-Alemanha (ler AQUI). O curador esteve em Atenas, em abril, a convite do CCBA.

Certamente, a presença da documenta 14 em Kassel não será tão conturbada como em Atenas. Não só porque é quando o Norte se encontra consigo mesmo, mas também porque se trata do evento mais esperado pelos moradores de Kassel, uma cidade sem muitos atrativos nos anos em que não há documenta. É claro que se trata de uma exposição muito bem-vinda pelos alemães. Ainda assim, a partir de uma confiança no potencial transformador da obra de arte (ainda que em um nível mais sutil), espera-se uma sensibilização do público eminentemente europeu para as feridas que acometem o Sul político e econômico do mundo, como se podem ver nos trabalhos dos artistas que integram esta edição. Isso é o que iremos conferir.

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