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'Synonymes' leva o Urso de Ouro

Produção israelense dirigida por Nadav Lapid venceu a láurea máxima da 69ª Berlinale; François Ozon ficou com o Grande Prêmio do Júri por 'Grâce à Dieu'

POR LUCIANA VERAS, DE BERLIM*

17 de Fevereiro de 2019

Nadav Lapid, diretor de 'Synonymes', celebra seu Urso de Ouro diante dos jornalistas

Nadav Lapid, diretor de 'Synonymes', celebra seu Urso de Ouro diante dos jornalistas

Foto Luciana Veras

Um homem decide sair do seu país, adota outra metrópole como sua e tenta se livrar dos traços étnicos, afetivos e subjetivos que carrega da sua pátria mãe. Em poucas frases, eis a trama de Synonymes, filme de Nadav Lapid que levou o Urso de Ouro na noite deste sábado (16), no encerramento da 69ª edição da Berlinale. A cerimônia de premiação foi marcada por surpresas (a própria láurea máxima deixou os jornalistas divididos entre vibração e espanto na sala de imprensa), por extensas homenagens a Dieter Kosslick, que, após duas décadas, deixou seu posto de diretor-geral do festival, e também por afetuosas lembranças a Bruno Ganz, ator alemão falecido poucas horas antes.

Synonymes foi mostrado nos últimos dias da competição. Visivelmente surpreso, Lapid subiu ao palco do Berlinale Palast para receber o Urso de Ouro, dado pelo júri presidido por Juliette Binoche e composto por Justin Chang, Sandra Hüller, Sebastián Lelio, Rajendra Roy e Trudie Styler, e assim descreveu sua obra: "Esse é um filme que pode ser considerando um escândalo em Israel e um escândalo também na França, mas é também uma celebração ao cinema. Espero que as pessoas compreendam a fúria, o ódio e a possibilidade de criar laços fortes entre irmãos e irmãs através de emoções poderosas".


Cena de Synonymes. Foto: Divulgação

O realizador francês François Ozon recebeu o segundo maior troféu, o Grande Prêmio do Júri, por Grâce à Dieu, em que reconta a história de quatro homens que, décadas após serem abusados por um padre católico, unem-se para demandar justiça. "Não sei se o cinema pode mudar o mundo, mas tenho certeza de que é importante romper com a cortina de silêncio e falar sobre o que ocorre dentro da igreja. Precisamos proteger as nossas crianças", afirmou o diretor.

A obra chinesa Di jiu tian chang recebeu os dois troféus de interpretação – Urso de Prata para Wang Jingchun e Yong Mei. Foi bonito presenciar a emoção da dupla ao chegar ao salão das entrevistas coletivas para falar com a imprensa. "Uma atriz chinesa nunca recebeu esse prêmio", constatou Mei. "Nosso país tem atravessado muitas mudanças nas últimas décadas, o filme tenta falar disso a partir da história desse casal", completou Wang. No longa de Wang Shiaoshuai, eles vivem marido e mulher que, ao perder o filho em um acidente, decidem se mudar e iniciar uma vida nova. Como pano de fundo, a China em constante transformação. 

Uma outra surpresa, ou talvez uma ousada afirmação do júri por mais filmes com liberdade criativa, foi a premiação de melhor direção para Angela Schanelec, cineasta alemã por trás de Ich war zuhause, aber. O longa – que parte da premissa de um garoto que passa uma semana desaparecido e volta para a casa onde mora com a mãe e a irmã caçula – é desconcertante, arriscado, por vezes hermético, e ainda por cima entremeado com o texto de Hamlet, na trama a ser encenado pór um grupo de crianças.

Na coletiva de imprensa, Angela foi tão inclassificável como seu filme, deixando claro que o troféu não era mais importante do que "ter a possibilidade de poder ter dinheiro para fazer os filmes". "Eu não escolho fazer o que faço, eu faço porque é o que sei fazer, então é bom poder ser reconhecida se isso pode significar que eu vá conseguir fazer novos filmes". 

OS PREMIADOS DA 69ª BERLINALE

Urso de Ouro de melhor filme
Synonymes, de Nadav Lapid (Israel)

Urso de Prata prêmio especial do júri
Grâce à Dieu, de François Ozon (França)

Urso de Prata prêmio Alfred Bauer para filmes que abrem novas perspectivas artísticas –
Systemsprenger (System crasher), de Nora Fingsheidt (Alemanha)

Urso de Prata melhor direção
– Angela Schanelec por Ich war zuhause, aber (I was at home, but, da Alemanha)

Urso de Prata melhor roteiro
– Maurizio Braucci, Claudio Giovannesi e Roberto Saviano por La paranza dei bambini (Itália)

Urso de Prata melhor ator – Wang Jingchun por Di jiu tian chang (So long, my son), de Wang Xiaoshuai (China)

Urso de Prata melhor atriz – Yong Mei por Di jiu tian chang (So long, my son), de Wang Xiaoshuai (China)

Urso de Prata de melhor contribuição artística – Rasmus Videbaek, fotografia em Ut og stjaele hester, de Hans Petter Moland (Noruega)

GWFF Prêmio de melhor primeiro longa-metragem - Oray, de Mehmet Akif Büyükatalay (Alemanha)

Glashütte original documentary award – Prêmio de melhor Documentário – Suhaib Gasmelbari por Talking about trees (Sudão)

CURTAS-METRAGENS

Urso de Ouro –
Umbra, de Florian Fischer and Johannes Krell the wall (Alemanha)

Urso de Prata prêmio do júri  Blue boy, de Manuel Abramovich (Argentina)

Prêmio AudiRise, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (Brasil)

LUCIANA VERAS é repórter especial e crítica da Continente.

* A jornalista viajou a Berlim por meio de uma parceria entre a Continente e o Centro Cultural Brasil-Alemanha – CCBA.

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