O médico e escritor Rostand Paraíso, estudioso da história dos ingleses no estado, lembra que, na primeira década do século 19, já havia cemitérios exclusivos para os britânicos em Salvador e no Rio. Por isso, não demorou para que o governo central atendesse à embaixada. Foi determinado às autoridades pernambucanas que escolhessem um local para dar uma última morada aos finados britânicos. Em 1814, foi desapropriado um terreno na localidade de Santo Amaro das Salinas – próximo de onde seria fundado o cemitério dos católicos – e a área foi entregue ao cônsul inglês. O citado surto de febre amarela levou à morte muitos estrangeiros residentes na capital, em 1850, e surgiu a necessidade de ampliar o cemitério britânico. Isso foi feito com a doação de terrenos vizinhos, pertencentes ao Barão Francisco do Rego Barros – que viria a ser o Conde da Boa Vista.
Ainda no século 19, o Cemitério dos Ingleses se tornou o derradeiro destino de um pernambucano ilustre: o general José Inácio Abreu e Lima. O militar, que se envolvera numa polêmica teológica, quando faleceu, em 8 de março de 1869, teve negado o sepultamento no Cemitério de Santo Amaro por ordem do bispo diocesano Dom Francisco Cardoso Aires. Em desagravo, o general foi enterrado no cemitério britânico.
Rostand Paraíso ressalta que o Cemitério dos Ingleses é uma legítima possessão da Coroa Britânica. “Tanto que, no final da década de 1960, o então prefeito da capital, Augusto Lucena, teve que pedir a permissão à rainha da Inglaterra, para usar parte do terreno do cemitério na obra de ampliação da Avenida Cruz Cabugá”, conta Paraíso.
A princípio, o entendimento foi complicado e a rainha Elizabeth II determinou que os túmulos não fossem violados. Para compensar a desapropriação, a prefeitura ofereceu um terreno vizinho, para a expansão do cemitério. A soberana mandou um representante para acompanhar o serviço e o asfalto finalmente avançou sobre onde antes ficava a área frontal da necrópole. Por isso, hoje, a capela está localizada bem próxima ao portão principal. Atualmente, esse cemitério é administrado por descendentes dos britânicos e fica fechado a maior parte do tempo.
ROBERTO BELTRÃO, Editor do NE TV, 1ª edição, da Rede Globo, e criador do site O Recife assombrado.
CHICO LUDERMIR, fotógrafo, estagiário da Continente.
Leia também:
Fé na menina sem nome
O que encerra o epitáfio?
Em Charleville-Mezières, em busca do morto inquieto