O estabelecimento foi montado pelo pernambucano com o dinheiro arrecadado com seu último show, realizado no Tijuca Tênis Clube, no Rio, em 1954, quando reuniu mais de 15 mil pessoas para sua despedida dos palcos. Ali, o artista encerrava precocemente a bem-sucedida carreira musical de 20 anos, na qual foi, também, autor de músicas gravadas por grandes nomes da música popular brasileira, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dircinha Batista, Cyro Monteiro, Dalva de Oliveira, Carmélia Alves e Aracy de Almeida.
O sucesso de Manezinho no Sudeste era tão grande, que ele tinha programa de rádio, aparecia na TV e no cinema; foi um dos primeiros garotos-propaganda do Brasil, cantando jingles do sabonete Lifebuoy e do Óleo de Peroba, além de ser o elogiado intérprete das próprias composições – a sua performance cheia de vigor, ritmo, simpatia, gestos e expressões faciais cômicas, aliadas ao pleno domínio da plateia, levou-o a ser denominado de O Rei da Embolada.
O talento para cantar músicas de versos rimados, cadenciados e ininterruptos foi desenvolvido a partir da convivência com o cantor e compositor Minona Carneiro, um dos maiores mestres da embolada, que morava em Casa Amarela – bairro da Zona Norte do Recife, onde Manezinho residiu após sua família sair da sua cidade natal Cabo de Santo Agostinho.
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O caminho para a vida artística surgiu de forma inesperada. “Deixei Pernambuco porque entrei em incompatibilidade com meu pai. Eu era muito boêmio e meu pai me empregava e eu perdia o emprego. Aliás, só tive um. Perdi esse emprego por causa da boemia”, lembrou, no programa Ensaio.
Triste com as repreensões paternas, decidiu dar um rumo à vida, engajando-se na revolução de 1930. Mas, quando o pelotão chegou de navio à Bahia, já tinham sido encerrados os eventos no Sul. Mesmo assim, como compensação, os soldados conseguiram embarcar para o Rio de Janeiro. Na viagem marítima, da volta ao Nordeste, conheceu Carmen Miranda, Almirante (este, na época, detinha o título de Rei da Embolada) e os violonistas Josué de Barros e Betinho.
Convidado a cantar uma “música do norte”, o promissor rapaz recebeu elogios de Carmen e Josué de Barros – que prometeu ajudá-lo, se resolvesse morar na então capital federal. Manezinho regressou a Pernambuco, voltando, pouco tempo depois, ao Rio, onde se hospedou na casa de Barros, em abril de 1933. O amigo violonista conseguiu uma apresentação na Rádio Mayrink Veiga e, logo em seguida, o jovem seria contratado pelo Programa Casé, do radialista Adhemar Casé, na Rádio Philips. Nesse período, gravou também o primeiro disco pela Odeon, e passou a atuar no cinema como cantor. No Youtube, é possível assistir a uma preciosidade, sua participação no filme Amor para três (1960), cantando Pra onde vai, valente?
De 1933 a 1956, o artista gravou diversos discos de frevos, cocos, sambas e emboladas. Dentre os seus sucessos estão Segura o gato, Sá turbina, Como tem Zé na Paraíba (com Catulo de Paula), Cuma é o nome dele?, O carrité do coroné, Tadinho do Manezinho e Quando eu vejo a Margarida, todas de sua autoria.
Apesar de ser um homem ponderado, Manezinho também tinha suas idiossincrasias. Por exemplo, resolveu deixar o rádio sob o seguinte argumento: “(...) a idade pesa, porque, quando aparece um velho, dizem: ‘Ih, lá vem esse velho. Lá vem ele’. O sujeito já perde o nome”. Faleceu em 23 de maio de 1993, aos 83 anos, “muito bem-vividos”, como dizia.
DÉBORA NASCIMENTO, repórter especial da revista Continente.