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Arquitetura remodelando o mundo

TEXTO Luciana Veras

01 de Maio de 2015

Pliny Fisk III e Gail Vittori nomeiam assim a cidade ideal com

Pliny Fisk III e Gail Vittori nomeiam assim a cidade ideal com "novos níveis de equilíbrio"

Imagem CMPBS/Divulgação

[conteúdo vinculado à reportagem de capa | ed. 173 | mai 2015]

Fundado em 1975, em Austin,
no estado norte-americano do Texas, o Center for Maximum Potential Building Systems – CMPBS é mais do que uma ONG. A instituição é pioneira na pesquisa e na implementação de técnicas construtivas que transcendem o significado atribuído corriqueiramente à sustentabilidade. O que eles exercem é um novo modo de encarar a arquitetura e seu papel fundamental na remodelação do mundo. “A nossa missão nasceu a partir de uma noção premonitória do quão essenciais os edifícios e a arquitetura são para a sustentabilidade ecológica”, escrevem, em entrevista por e-mail à Continente, os codiretores Pliny Fisk III e Gail Vittori.

À luz de cidades inchadas/favelizadas/compartimentadas pelo capitalismo, o que fazer? A pergunta é atacada com coerência e lucidez pelos gestores da ONG norte-americana: “A arquitetura precisa responder de imediato às realidades cambiantes. Os edifícios se beneficiam do uso de uma nova dinâmica de sistemas que facilita suas evoluções, enquanto eles se modificam com o passar do tempo para se tornar mais vivos socialmente, economicamente e ambientalmente. Temos que pensar um caminho que reconheça esses edifícios como servidos por uma espinha dorsal flexível de infraestrutura, e avançando intrinsecamente rumo a um metabolismo urbano saudável. A arquitetura e o design urbano devem permitir padrões de uso para influenciar, de modo recíproco, a performance dessa espinha dorsal. É apenas por essa via que uma cidade pode evoluir verdadeiramente resiliente e saudável”.

O que eles promovem é também uma recuperação do protagonismo do arquiteto. Advogam, por exemplo, que ele esteja presente na obra não apenas como um consultor, mas na labuta diária: da conceituação à execução, e ao longo de todas as etapas, o arquiteto é o responsável. Só dessa forma, concordam Pliny Fisk III e Gail Vittori, será capaz de praticar a arquitetura necessária ao mundo de hoje. “Nós precisamos de casas e prédios que conversem conosco, que se tornem uma extensão de quem somos, e assim nos conectem com as funções essenciais que suportam as atividades humanas, à medida que elas estão associadas com o ambiente construído”, identificam os codiretores do CMPBS.

Essa abordagem ressoa os princípios do Design+Build, movimento surgido nos Estados Unidos e que, embora propagado lá fora, ainda é pouco conhecido – e aplicado – no Brasil. “O princípio é quebrar a hierarquia social na qual o arquiteto é apenas o dono das ideias brilhantes. Ele participa da cadeia inteira”, ensina o professor da Unicap Lula Marcondes. “Numa escala vertical, ao chegar numa obra, o arquiteto vê que uma decisão foi tomada por outra pessoa. Nesse processo, não: diante das adversidades, o arquiteto tem poder de modificar o que inicialmente tinha sido pensado”, emenda Bruno Lima, sócio de O Norte – Oficina de Criação

A convite desse escritório, o arquiteto australiano Michael Phillips passará o ano de 2015 difundindo o Design+Build em Pernambuco. “O papel de um arquiteto-padrão é só lidar com o design. Meu interesse é assumir mais responsabilidade com a construção e, com esse controle, levar adiante o compromisso com a sustentabilidade”, anota Phillips.

Além das legislações – a exemplo da recém-aprovada lei municipal 18.112/15, que institui, no Recife, a obrigatoriedade dos “telhados verdes” nos edifícios –, para se chegar ao que Pliny Fisk III e Gail Vittori chamam de “plenitude” (uma cidade ideal com “novos níveis de equilíbrio”) é preciso, de fato, que o arquiteto se transforme “em um pensador de sistemas”. “Novos resultados econômicos e um novo modo de entender o papel do indivíduo com relação ao todo precisam funcionar juntos como um sistema dinâmico, orgânico e autossuficiente, no qual o indivíduo é um recurso tão importante quanto a cidade em si”, defendem os codiretores do Center for Maximum Potential Building Systems. 

LUCIANA VERAS, repórter especial da revista Continente.

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