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À procura da onda perfeita

Várias regiões, inclusive algumas inóspitas, entraram no mapa do turismo mundial a partir da busca dos esportistas por locais ideais para surfar

TEXTO Marcelo Sá Barreto

01 de Setembro de 2012

Praia de Puerto Escondido é point mexicano

Praia de Puerto Escondido é point mexicano

Foto Divulgação

[conteúdo vinculado ao especial | ed. 141 | setembro 2012]

O surfista é um viajante compulsivo.
E faz qualquer coisa para se refugiar do que chama de crowd, ou mar lotado, em português. O paulista Allois Malfitani, de 50 anos, é um exemplo. Sempre sonhou com um paraíso particular para praticar em paz o esporte do coração. Já tinha 13 anos de Havaí, quando, em 2000, folheou uma revista especializada e apaixonou-se por uma imagem sem qualquer referência. Naquela hora, decidiu dedicar o tempo disponível à descoberta do lugar. E encontrou. Não foi fácil. Após uma série de coincidências – numa delas, esbarrou com um médico nascido naquele pedaço de terra cercado por água salgada, perdido no Pacífico Sul –, ligou para a administração das Ilhas Carolinas e escutou da telefonista algo animador: “Sim, existe um norte-americano que reside e que surfa aqui”. Conseguiu o número telefônico do cidadão e entrou em contato. Pouco depois estava lá.

“Da primeira vez, achei tudo caro. Além disso, fui sem conhecer as ondulações. Resultado: passei oito dias e surfei uma vez, mas senti o potencial da onda. Tinha, finalmente, feito uma grande descoberta”, lembra Malfitani. Três anos depois, estava de malas prontas para morar no paraíso. Por lá, instalou uma pousada e colocou as Ilhas Carolinas na rota do surf. Mais do que isso, na rota do turismo. Nas primeiras temporadas, o surfista guardou o local em segredo. Ao lado de um agente de viagens havaiano, organizava pacotes sem que os turistas soubessem o seu real paradeiro. A fase oculta ficou para trás. Em 2012, já é possível surfar em P-Pass, o pico de ondas perfeitas, descoberto por Malfitani há 12 anos. O único senão é a fila de espera. Pode-se levar até dois anos para desfrutar as belezas naturais do lugar.

Assim como as Ilhas Carolinas, entraram no mapa do turismo mundial, com a ajuda do estilo de vida dos surfistas, outros destinos internacionais. O esporte foi a espoleta para que emergissem do isolamento geográfico. A afluência pós-descoberta segue um roteiro semelhante: num primeiro momento, uma espécie de “segredo” é mantido em torno dos paraísos “particulares”. Logo depois, dependendo do potencial das ondas, as revistas segmentadas organizam trips e expõem matérias e imagens de tirar o fôlego. No passo seguinte, vem o investimento na infraestrutura. E o local passa a constar nos catálogos de viagem como uma ótima opção de lazer, não só para o surfe.


As Ilhas Carolinas entraram na rota do surf no início dos 2000. Foto: Divulgação

“Geralmente, fechamos pacotes com surfistas. Mas hoje o surf camp está preparado para oferecer aos hóspedes atividades prazerosas, caso faltem as ondas. Temos mergulhos, passeios, as pessoas podem conhecer como se relacionam as tribos locais... Trata-se de uma ilha tropical com grande riqueza natural e bela”, diz Malfitani.

Não foram poucos os destinos desbravados pelos surfistas, ou que se desenvolveram a partir do surf, que despontam como opções de diversão. Um dos mais famosos, sem dúvida, é o arquipélago havaiano. Procurado pelos viajantes mais exigentes, é referência no mundo pelo esporte e pelas suas belezas naturais. Uma máquina de fazer dinheiro, que atrai mais de um milhão de forasteiros, atletas ou não, a cada temporada – sendo o inverno a melhor época de ondas –, gerando mais de US$ 6 bilhões anuais.

Havaí e Ilhas Carolinas não estão sozinhos. A mexicana Puerto Escondido, até a metade da década de 1990, não despontava em listas de empresas de viagem. Com a chegada dos surfistas, tudo mudou. O que, nos tempos passados, era uma praia com potencial de onda e lazer com pouca infraestrutura, transformou-se, nos anos 2000, num local pronto para receber todo tipo de visitante, com seus hotéis, pousadas e restaurantes. Bali e suas milhares de ilhas não ficam atrás. “O mundo está aberto a qualquer um que queira explorar. Eu ‘achei’ uma ilha com boas ondas. Existem muitas ondas para serem surfadas, sozinho ou com poucas pessoas. É só ter paixão, querer explorar e ter tempo para isso”, afirma Malfitani. 

MARCELO SÁ BARRETO, repórter de esportes do Jornal do Commercio e editor do blog Surf is in the air.

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