Entrevista

“A música é a régua do mundo”

Pianista João Carlos Martins teve a carreira abreviada por lesões neurológicas e motoras, mas se transformou num regente comprometido com o ideal educativo de Villa-Lobos

TEXTO CARLOS EDUARDO AMARAL

03 de Janeiro de 2020

Pianista João Carlos Martins

Pianista João Carlos Martins

Foto Lia de Paula/Divulgação

[conteúdo na íntegra | ed. 230 | fevereiro de 2020]

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João Carlos Martin
s talvez seja o artista da música erudita brasileira mais exposto midiaticamente e mais cumprimentado ao caminhar pelas ruas. Menos por sua homérica e louvável gravação integral das obras de Johann Sebastian Bach para teclado, entre o final dos anos 1970 e 1990, do que pela trajetória de dramas e glórias acompanhada pela imprensa nas últimas cinco décadas.

Entre esses acontecimentos: a estreia no Carnegie Hall, aos 21 anos de idade; a lesão no cotovelo jogando futebol no Central Park; a volta às salas de concertos; a sucumbência às lesões por esforço repetitivo; os pensamentos (abandonados) de suicídio; o agenciamento do ex-campeão mundial de boxe Éder Jofre; a passagem pela secretaria de Cultura da cidade de São Paulo; a acusação – e a absolvição – por crimes contra a ordem tributária em uma campanha eleitoral para o ex-governador Paulo Maluf; a lesão neurológica por conta de uma pancada na cabeça durante um assalto na Bulgária; a gravação de um álbum para piano tocado apenas com a mão esquerda, já no trajeto de ocaso como intérprete; a perda definitiva dos movimentos das mãos; a transição ao ofício de regente; a fundação de projetos sociais, como a Bachiana Filarmônica etc., etc.

Impraticável resumir uma vida como a de João Carlos Martins – talvez o maior devoto de Bach no país (a palavra mais apropriada é esta, devoto) – na introdução de uma entrevista como esta. Então, não focamos no passado. Quisemos saber do presente e do futuro de um músico que, no dia 25 de julho de 2020, chega a oito décadas de vida com uma disposição ainda espantosa (sem contar o bom humor) para encarar uma maratona de ensaios e apresentações pelo país – como a que fez no Cais da Alfândega, no dia 6 de outubro de 2019, pelo projeto Orquestrando o Brasil, na qual reuniu músicos de quatro projetos musicais pernambucanos.

Quisemos saber também sobre questões relativas às políticas musicais no país, pertinentes a serem dirigidas a alguém que, embora evite falar da macropolítica nacional e internacional, conviveu com políticos de diversos matizes desde a juventude e que eventualmente busca apoio do poder público. Devido à agenda corrida no Recife, no início de outubro, a entrevista foi realizada dias mais tarde, por meio de duas ligações telefônicas, entremeadas pela gravação de outra entrevista, para uma equipe de TV que o aguardava em seu escritório, na capital paulista.


Concerto em outubro de 2019 no Recife, dentro do projeto Orquestrando
o Brasil. Foto: Andréia Vital/Divulgação


CONTINENTE A caminho de seus 80 anos de idade, como é sua rotina pessoal e de trabalho?
JOÃO CARLOS MARTINS Acordar às cinco e meia da manhã. Ler os jornais, para ver se meu nome não está nos obituários. Se não estou nos obituários, eu vou pra luta (risos). Aí, sim, começo minha rotina, que inclui: estudos de obras que vou reger; depois, o planejamento dos projetos Orquestrando São Paulo e Orquestrando o Brasil; depois, ensaios com jovens; no outro dia, ensaios com orquestra, a Bachiana (Filarmônica); e, nas sextas-feiras, jantar fora, quando não tem concerto. Mas é uma média de mais de 200 concertos por ano – e, de vez em quando, uma palestra.

CONTINENTE De seu livro João de A a Z (Editora Sextante), lançado em 2019, qual o momento mais glorioso e o mais dramático que você destacaria?
JCM Eu conto a cronologia. Nos anos 1990, teve um crítico americano que fez um bate-bola comigo sobre Bach (Conversas com João Carlos Martins, David Dubal). No começo dos anos 2000, teve um documentário alemão sobre minha vida (A paixão segundo Martins, Irene Langman, 2004). Depois teve um documentário belga sobre a minha vida (Sonho, Johan Kennivé e Tim Heirman, 2006). Depois, teve o Carnaval em que eu fui o enredo (da escola de samba paulistana Vai-Vai, em 2011). Depois, o filme João, o maestro (Mauro Lima, 2017). Ainda, um livro que o biógrafo que fez a biografia do D. Paulo Evaristo Arns escreveu (Maestro! Uma biografia – A volta por cima de João Carlos Martins e outras histórias…). E uma peça de teatro (Concerto para João, com texto de Sérgio Roveri e direção de Cassio Scapin). Então, na minha opinião, não preciso esperar mais nada – só depois de morrer, pra ver alguma coisa. Mas, aí, a Sextante veio com esse livro. Fiquei na dúvida, quando a ideia surgiu: escolher uma ideia pra cada letra do alfabeto. Eu achei que podia mostrar o que a vida me ensinou, e não eu querer ensinar a ninguém. E aí eu topei. Essa é a razão que me fez escrever o livro, depois de tantas coisas que aconteceram, aos 79 anos de idade. Os dois momentos mais importantes, eu acho que foram: a letra E, que é esperança, mostrando que jamais se deve desistir por causa de uma adversidade. E, evidentemente, a letra M, porque eu sempre digo, sempre, que a música acaba vencendo. Por isso que a minha frase é “A música venceu”.

CONTINENTE E algum momento dramático que você tenha mencionado (ou você quer apenas se lembrar das coisas boas)?
JCM O livro tem “altas montanhas e vales profundos”. E não é uma biografia, é realmente o que aquela letra significou pra mim. O que a palavra amor significou. B, evidentemente, tinha de ser Bach, o compositor que foi a inspiração, e assim por diante. E você chega à conclusão de que tudo é um mistério.

CONTINENTE Mesmo tendo você dito que está bem-realizado quanto à sua obra, quanto à sua vida, e que recebeu esse feedback em termos de livros, filmes, homenagens, você é uma pessoa nitidamente movida a sonhos e ideais. Então quais os sonhos e ideais que você ainda gostaria de realizar?
JCM Eu digo que os erros eu tentei corrigir e os acertos, aprimorar. E hoje eu falo nos seus olhos: minha vida é movida a ideais. Como pianista, minha vida foi muito maravilhosa, e, como regente, está sendo muito gratificante. Na formação de jovens, está sendo também. Mas chegou a hora de tentar chegar aos 100 anos. Meu pai chegou e eu posso tentar também. E tentar deixar um legado, que é realizar o sonho de Villa-Lobos, de deixar o Brasil em forma de coração através da música. É essa a minha luta, atualmente, e isso é baseado única e exclusivamente em ideais.

CONTINENTE Para você, maestro, por que a cultura se tornou um elemento de aversão, exibição ou excentricidade, em vez de uma preocupação central do ser humano?
JCM Em primeiro lugar, a cultura é o maior sentimento da alma de um povo. Então, a cultura é algo central. E as artes, na cultura, cada uma tem a sua importância. E, dentro das artes, temos a música. E a música é a régua do mundo, porque, se um governo vai bem, todo mundo diz que funciona como uma orquestra. E se tem uma manifestação na rua, contra um governo, o governo diz que é uma orquestração contra ele. Então eu digo que a música une gerações, povos e nações.

CONTINENTE No final do século XVIII, a burguesia, impulsionada pela Revolução Industrial, promoveu uma expansão das artes e do modo de produção das artes, antes capitaneada pelas igrejas cristãs e pela nobreza. No Brasil, a formação de uma burguesia derivada do progresso industrial veio a se consolidar apenas no século XX, mas, mesmo assim, essa burguesia investia no patrocínio das artes. Em que momento você julga que houve uma mudança de mentalidade na classe econômica dominante, de forma a se abdicar da consciência do fomento às artes?
JCM Acho que vivemos ciclos gregos e ciclos romanos em qualquer nação. Quando estamos vivendo no ciclo romano, é a hora em que a burguesia se esquece da cultura e das artes; quando estamos no ciclo grego, é a hora em que a chamada burguesia percebe que tem uma responsabilidade social com o país. Estamos passando por esses ciclos. Acredito que uma nação percebe que não vai sobreviver, se sua elite não estiver aliada a todos os segmentos da sociedade. Cada vez mais, as palavras responsabilidade social têm que fazer parte do objetivo de qualquer empresa.

CONTINENTE Por que ainda existe uma resistência, tão injustificada, de empresas emergentes neste século, à Lei de Incentivo à Cultura – se a dedução no imposto de renda delas é integral, quando este é direcionado a projetos que tenham a música instrumental e erudita como objeto? Essa lei, que conhecemos como Lei Rouanet, não veio justamente para possibilitar às empresas investir em cultura sem comprometer seu orçamento ordinário?
JCM Evidentemente, com a Lei Rouanet, todas as pessoas físicas e todas as pessoas jurídicas poderiam fazer a sua contribuição para a cultura. É um problema não só muito brasileiro, mas latino-americano. Por que digo isso? Porque, no final do século XIX, tinha uma família em Nova York que só pensava em dinheiro e que pouco se preocupava com responsabilidade social, com as artes e com a cultura: era a família Carnegie. Aí, o velho (Andrew) Carnegie resolveu construir um teatro em Nova York, chamado Carnegie Hall. Moral da história: ninguém mais sabe o que a família fez, mas o seu nome ficou preservado.


No Recife, o maestro assistiu à apresentação da Orquestra Criança Cidadã.
Foto: Leandro Lima

CONTINENTE O portal Orquestrando o Brasil, fundado por você, oferece cursos de capacitação para regentes e músicos e agora inaugura parceria com o Conservatório de Tatuí. Há um programa definido e uma duração para os cursos?
JCM Claro. Já temos mil maestros, dos quais 518 já se formaram. Os outros estão no curso, de 40 aulas online. Com o Conservatório de Tatuí, são aulas online de instrumentos. E, finalmente, estamos para firmar convênio com a Fundação Joaquim Nabuco, para então começarmos o Orquestrando o Nordeste, com 10 orquestras que vão subir muito mais degraus, fazendo um trabalho de iniciação musical com crianças da região.

CONTINENTE Quais projetos musicais longe das grandes capitais brasileiras você destacaria, em termos de desempenho artístico ou de transformação social?
JCM O que aconteceu no Brasil é que as cidades afastadas dos grandes centros culturais mantiveram pelo menos o seu coreto, porque a música está dentro do coração do povo brasileiro. O que estamos procurando fazer? Juntar bandas e músicos de cordas, fazendo com que a cidade tenha orgulho da própria orquestra.

CONTINENTE Em algum momento, para além da capacitação musical, o Orquestrando o Brasil oferecerá capacitação para a profissionalização de produtores e gestores, a fim de que possam desenvolver a capacidade de articulação com a população, o empresariado e o poder público?
JCM No nosso curso de maestros, tem a parte a respeito da função do maestro sobre o seu grupo, trabalhando na parte de captação de recursos no Estado de São Paulo e em cidades relativamente pequenas, onde a iniciativa privada e o governo local se unem por causa do maestro e da orquestra. Então, eu sempre digo que o maestro é tão importante quanto o prefeito da cidade.

CONTINENTE Um projeto social pode ressocializar plenamente sem ter como objetivo a profissionalização?
JCM Não, o nosso projeto é a formação de uma orquestra com uma luz no fundo do túnel, uma formação profissionalizante. Não adianta você querer formar um músico e esse músico não ter um conteúdo profissionalizante. Nossos cursos são para que o músico possa se tornar um profissional da música. Desde que ele tenha talento, evidentemente.

CONTINENTE Por que o meio musical no Brasil, salvo no universo acadêmico, carece de consciência de classe? À exceção da lei do ensino musical obrigatório nas escolas (Lei nº 11.769/2008), que nunca teve sua implantação regulamentada em escala nacional, não se tem notícia de alguma vitória política da categoria, neste século.
JCM Isso foi porque, durante 40, 50 anos, a Ordem dos Músicos do Brasil – eu tinha até vergonha de ter a carteira da Ordem – era baseada inclusive na corrupção. Hoje, existe esperança. Se houver uma auditoria para valer, da nova direção, uma auditoria com transparência, aí pode ser que a Ordem volte a ser o que era, o sonho do pierrô. Mas, infelizmente, ela não realizou a sua função em relação aos músicos e eu espero que, se Deus quiser, isso possa se reverter. Óbvio que vai acontecer.

CONTINENTE E por que a Lei nº 11.769/2008 não pegou? Falta de estudo de viabilidade?
JCM Porque essa Lei, que é do governo Lula, pegou todas as artes, e a música entrou como primo pobre. Não é como a música no tempo do canto orfeônico de Villa-Lobos. Simplesmente isso. Agora é aguardar a Secretaria da Cultura do Ministério da Educação. Talvez essa seja a solução. Vamos torcer para que isso aconteça. Eu espero que o governo entenda que a cultura é a base de nossa nação.

CONTINENTE Uma das grandes frustrações de estudantes de música no Brasil é a falta de opções de financiamento ou de obtenção de empréstimo para aquisição de um instrumento musical. Algum dia, é possível sonhar que um banco crie uma linha de crédito voltada à classe musical?
JCM Acho que há diversas ações, mais esporádicas, ligadas ao ensino musical. Geralmente, são conectadas à inclusão social. São Paulo tem um projeto chamado Guri, que custa mais de 90 milhões de reais por ano. Esse projeto, na capital, vai muito bem. No interior, salvo alguns casos esporádicos, funciona de uma forma, eu diria, quase que ridícula. Eu mesmo falei pro governador que, no Projeto Guri, nós temos na capital uma Coreia do Sul; no interior, uma Coreia do Norte. Com 90 milhões de reais por ano, é pra você ter o maior projeto musical de iniciação musical do mundo. Pra comparar, o meu projeto, o Orquestrando, custa cerca de 2% do Projeto Guri. Minha parte é praticamente voluntária, esperando que o projeto cresça para atrair a atenção da comunidade internacional. Quando uma instituição privada faz um projeto, é com pouco dinheiro, mas oficializando cada detalhe. Isso não é culpa do governo atual, isso faz quase 20 anos. A culpa é dos governos que antecederam… Quando a iniciativa privada toma conta, ela procura transparência. Cada centavo tem sua nota.

CONTINENTE Voltando à pergunta anterior: algum dia, é possível que haja uma linha de crédito voltada à classe musical?
JCM Em faculdades de música, existe. Mas, vamos supor: 70% ou 60% das pessoas que têm talento, num país como a Alemanha, vão ter oportunidade de encontrar um lugar ao sol. No Brasil, eu acho que não chega a 5% o número de pessoas que poderão ter oportunidade de encontrar um local onde possam desenvolver seu talento. É preciso haver uma mobilização dos músicos. O Arthur Moreira Lima saiu com um caminhão rodando pelo Brasil. O caso de Heliópolis (do Instituto Baccarelli), aqui numa favela, é uma realidade. O Neojiba, em Salvador, é uma realidade. No Recife, o Coque (Orquestra Criança Cidadã) é uma realidade. No Pará, com Glória Caputo (fundadora da Fundação Amazônica de Música), também. Mas são ilhas no deserto. Não existe uma mobilização em um país como o nosso, de tamanho continental. O nosso projeto Orquestrando o Brasil começou por São Paulo, voltando 200, 300 anos no tempo, ou seja, da mesma forma que os bandeirantes saíram de São Paulo para transformar o Brasil num país continental, o Orquestrando São Paulo ganhou dimensões nacionais. Começou com o Sesi SP. A Fundação Banco do Brasil adotou. Agora, a Fundação Joaquim Nabuco está adotando e estamos conseguindo essa mobilização. Na hora em que outros estados iniciarem esse processo, aí, sim, você pode ter a certeza de que nós vamos ter uma unidade no que diz respeito ao ensino de música no Brasil.

CONTINENTE E como um músico pode adquirir seu próprio instrumento sem ter crédito disponível?
JCM Eu conheço iniciativas privadas, como a Fundação Bachiana, que idealizei e da qual eu sou simplesmente um celetista. Ela compra muitos instrumentos pros seus projetos sociais. Mas você também é uma ilha no deserto. Se você pergunta pra mim: existe uma lei que ajuda diretamente para a compra de instrumentos, te digo: não sei. Uma vez eu discuti isso com o Aloizio Mercadante e pedi para a Funarte fazer um levantamento… Por exemplo, se uma orquestra é formada por 80 músicos, 50 são de cordas. Os outros são madeiras, metais e percussão. Então, a proporcionalidade para a compra de instrumentos e acessórios deveria ser a proporcionalidade de uma orquestra. Falei com o Aloizio Mercadante, então ministro da Educação: “Não sei quais os critérios que vocês estão adotando, mas”, se não me falha a memória, “são comprados 80% de instrumentos pra bandas”, então eu acho que deveria ser algo mais proporcional. Não podemos abrir mão de bandas, pelo contrário, a banda é igualmente necessária na formação musical de um país, mas não podemos manter numa formação desproporcional.

CONTINENTE Ainda falando de estudantes de música, até que ponto os concursos de jovens solistas são benéficos para o desenvolvimento artístico de um instrumentista em formação?
JCM Um concurso sempre é um caminho, mas eu não diria que o concurso é um caminho que resolve. A vitória em um concurso é, única e exclusivamente, mais um degrau. Mas, depois, o que vai valer é a disciplina… Se a pessoa ganhou um concurso, é porque tem um dom. Mas, se ela não tiver disciplina depois de ganhar o concurso, ela não chega a lugar nenhum. Além do fator disciplina, ainda há o fator sorte: estar no lugar certo, na hora certa. E tudo isso faz da evolução de um artista no que diz respeito à música.

CONTINENTE Quem você considera o maior injustiçado da memória da música brasileira, seja da música popular, seja da de concerto – aquele que deveria estar dentre os grandes artistas da história da nação, mas ainda não foi colocado nesse patamar?
JCM Quem passou uma época injustiçado em nosso país foi o próprio Villa-Lobos, mas o talento dele venceu a própria injustiça pela qual ele passou, nos anos 1930 e 1940. O talento acaba vencendo. Parece que vai ser feita justiça, em uma série de 70 capítulos (O selvagem da ópera) na Globo, a Carlos Gomes, que chegou a ter uma importância enorme na Europa e morreu em condições precárias em Belém do Pará. Eu o considero um dos injustiçados. Do Barroco, temos bons compositores – não geniais, mas bons compositores –, como o José Maurício Nunes Garcia, mas numa época em que a corte portuguesa, quando veio pro Brasil, não trouxe a cultura europeia. Ela veio pro Brasil numa situação bélica com a França, pelo apoio que Portugal tinha com a Inglaterra, mas não trouxe a cultura de Viena, da Alemanha, da França, da Rússia, trouxe compositores do período clássico português, pós-barrocos; bons, mas não geniais. Injustiçado, então, digo Carlos Gomes.

CONTINENTE Quais os compositores brasileiros que você mais gostava de interpretar?
JCM Toquei muito Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Lorenzo Fernandez, Osvaldo Lacerda, mas não sou um exemplo. Como morei muito tempo no exterior, tenho toda a humildade para falar que foi uma espécie de lacuna na minha carreira de pianista. E também pelos acidentes que eu tive e pelo fato de eu ter passado praticamente 80% de minha carreira na obra de Johann Sebastian Bach.

CONTINENTE Na Grande Sala Celestial de Concertos – aonde todos nós iremos, mais cedo ou mais tarde –, quem você gostaria de ver tocando?
JCM Depois do apagar das luzes? Acho que vou ser muito bem-recebido por Johann Sebastian Bach.

CARLOS EDUARDO AMARAL, jornalista, especializado em música erudita, e biógrafo.


EXTRAS

Documentário João, o maestro (Mauro Lima, 2017)

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