Na edição de número#5 da revista Zum, publicação semestral do Instituto Moreira Salles destinada à fotografia, um ensaio do coletivo Cia de Foto apresenta imagens capturadas em manifestações transcorridas em junho de 2013. Naquele mês, um ano antes da Copa do Mundo do Brasil, os movimentos que viriam a ser denominados de “Jornadas de Junho” tomavam a capital paulista como epicentro e irradiavam para o restante das urbes brasileiras. Em São Paulo, havia uma pauta cristalina: a reivindicação do Movimento Passe Livre/MPL por catracas abertas para que o ir e vir dos citadinos – quer se tratasse de trabalhadores, estudantes ou turistas – fosse gratuito. Nas outras cidades, demandas difusas seriam incorporadas aos pleitos de milhares de brasileiros. No texto impresso nas páginas da revista que circularia quatro meses após as passeatas, o jornalista e professor paulistano Eugênio Bucci resumia o assombro de muitos, talvez de todos: “o movimento do ar não tinha como ser flagrado pelas câmeras ou pelo discurso dos repórteres, dos políticos, dos analistas”.
O fotógrafo pernambucano, radicado em São Paulo, Pio Figueiroa, então um dos quatro vértices da Cia de Foto, era companheiro no curso de Filosofia de alguns dos integrantes do MPL. “Só que, na idade deles, eu estava procurando um software e não organizando alguma mobilização. Eles, por sua vez, eram moleques com uma causa que movimentava tudo. Como eu não podia ir sempre para a rua porque tinha que trabalhar, mas não aguentava ficar longe dos meninos, comecei a fotografá-los ainda em 2012. Nas manifestações de junho, fotografamos pela Cia de Foto e, com as imagens das pessoas nas ruas, eu acendia uma ou outra”, conta.
O resultado foi publicado na Zum sob o título Passe livre. Nas fotografias, o lusco-fusco espelha contornos nem sempre nítidos e as figuras iluminadas pelo tratamento da imagem parecem assumir um protagonismo ante outras ao redor. “Arte, para mim, é uma ciência social cujo resultado não prevê liturgias tão fixas. Deve-se permitir que ela saia contraditória. Ali, estávamos diante de um mundo inflamável”, recorda Pio.
Vídeo da Residência artística Cambridge, de Virgínia de Medeiros: