Curtas

Teatro de bonecos

Mão Molenga comemora 30 anos com exposição

TEXTO Sofia Lucchesi

01 de Agosto de 2017

Fátima Caio, Marcondes Lima, Fábio Caio e Carla Denise, fundadores do Mão Molenga

Fátima Caio, Marcondes Lima, Fábio Caio e Carla Denise, fundadores do Mão Molenga

Sofia Lucchesi

[conteúdo na íntegra (degustação) | ed. 200 | agosto 2017]

Se fazer teatro, por si só, já é um ato de resistência, fazer teatro de bonecos é algo ainda mais potente. Demanda certa “artesanalidade” do tempo: só é possível ensaiar uma peça se houver bonecos ou um protótipo feitos. Há 30 anos, os jovens universitários Carla Denise, Fátima Caio, Marcondes Lima e Fábio Caio encenavam O retábulo da barafunda, primeiro espetáculo oficial do recém-formado grupo Mão Molenga, na antiga Galeria Metropolitana de Arte – atual Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam). A peça fez tanto sucesso, que se estendeu por uma temporada de quatro meses seguidos. De lá para cá, muito mudou, menos a vontade do grupo em persistir fazendo arte.

Nadando contra o fluxo de hiperestímulos do mundo contemporâneo, onde as realidades virtuais têm afastado cada vez mais o público dos teatros e das atividades manuais, estar corpo a corpo, matéria a matéria, com os bonecos do Mão Molenga causa o mesmo impacto em crianças, jovens e adultos que nos 1980. Em comemoração às três décadas de atividade ininterrupta – com a produção de 18 peças e participação em duas séries televisivas –, está em cartaz no Sesc Santo Amaro, desde maio, a exposição Mão Molenga: cenas de uma história. Com apoio do Funcultura e parceria do Sesc, a mostra traz o material produzido para a série Brasil 500 anos, exibida na TV Escola entre 1998 e 2003, o que exigiu um trabalho de restauração de dois anos. Neste mês, será lançado o catálogo virtual da exposição.

Os últimos três espetáculos do Mão Molenga (Babau, O fio mágico e Algodão doce) tratam de questões profundas e existencialistas. São abordagens que fogem ao lugar-comum, investindo no lúdico e cativando plateias de todas as idades. “Em Algodão doce, o plano de fundo são histórias de mal-assombro, mas que trazem as questões ecológicas, problemáticas sobre o preconceito racial e sobre a opressão do homem em relação ao meio ambiente no contexto brasileiro, coisas que permeiam o nosso imaginário”, conta o encenador Marcondes Lima sobre a peça, que tem apresentação marcada para o dia 26 de agosto, no Teatro Marco Camarotti.

Apesar de ser uma arte muito ligada às crianças, e, talvez por isso, pouco valorizada, o teatro de animação é uma forma de expressão que se diferencia do que é feito pelos meios de comunicação de massa. “Há uma ligação entre a infância e o boneco, apesar de ser uma representação milenar utilizada por adultos em rituais e tradições antigas. Existe uma tendência, do ponto de vista artístico e político, em colocar o que é atribuído à criança num patamar abaixo, de menor importância”, explica a encenadora Carla Denise. 

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