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Alguns episódios da Revolução de 1817

Doze artistas de Pernambuco mostram suas criações que representam o espírito insurgente vivido no estado há 200 anos

01 de Janeiro de 2017

Desenho a carvão de Renato Valle retrata o suicídio do padre revolucionário João Ribeiro

Desenho a carvão de Renato Valle retrata o suicídio do padre revolucionário João Ribeiro

Imagem reprodução

[conteúdo na íntegra | ed. 193 janeiro 2017] 

Além da história, a arte possui também o seu poder de revisão em relação ao passado. Duzentos anos depois, 12 artistas de Pernambuco cumprem agora a tarefa de recontar os fatos da Revolução de 1817, um dos marcos do espírito insurgente do estado e do país à época do Brasil Colônia. Seja a pincel, a lápis, a carimbo, pintura, desenho, gravura, diferentes técnicas traduzem cada uma dessas perspectivas dos episódios históricos na exposição que entra em cartaz a partir do dia 11 deste mês na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife.

Na mostra, há artistas como Jeims Duarte, cujo trabalho costuma ser animado por um espírito crítico em relação ao espaço urbano; instigado, sobretudo, por estabelecer um diálogo contemporâneo entre a cidade e a sua história. Um dos seus desenhos marcantes nesse sentido aborda a polêmica construção das torres gêmeas da Moura Dubeux, em área antiga do Recife, a partir de uma paródia – as torres são reprojetadas em formato de glande no topo. Agora, nesta exposição, ele faz referência ao local de reunião dos maçons, responsáveis por planejar o levante emancipacionista de 1817.

“Na prática, reproduzi o prédio da antiga maçonaria que se encontra atualmente atrás da Habbib’s da Avenida Conde da Boa Vista, com uma indicação de reunião interna através de uma única janela iluminada. O edifício simboliza, assim, a Organização”, explica Jeims, sabendo que a Loja Maçônica Conciliação, à qual se refere, não foi o “real” lugar onde tudo se passou, mas o Areópago de Itambé, no interior pernambucano. “Desejei justamente ‘linkar’ com uma referência mais próxima das pessoas hoje. O processo se deu justamente nesta tensão entre um propósito didático e um propósito crítico”, justifica. “A ‘liberdade poética’ se mostra na forma ‘expressionista’ do retrato das esfinges, a indicar, basicamente, dúvidas em relação ao futuro, que são instadas a prever, e no cenário ao redor, indicativo de nossa época; ou seja, ligando as preocupações libertárias de 1817 às atuais. Há uma placa com a inscrição (cortada) onde se lê ‘PHORA’ (grafia antiga para“FORA” ). Sabemos bem qual o personagem que tem sido convidado ultimamente a ‘dar o fora’.

CALENDÁRIO
As obras da coletiva foram feitas a partir de uma encomenda da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) para o seu calendário de 2017, comemorativo dos 200 anos da Revolução Pernambucana. Os originais desses trabalhos são justamente aqueles com os quais o público irá se deparar na galeria. Além de Jeims Duarte, estão na lista os artistas Helder Santos, Daaniel Araújo, Bruno Vilela, Beto Viana, Plínio Palhano, Jessica Martins, Roberto Ploeg, George Barbosa, Renato Valle, Gio Simões e Rinaldo Silva. Pernambucanos ou de outras origens, mas tendo carreira artística consolidada no Estado, eles foram convidados para fazer um “registro objetivo” dos episódios mais marcantes da Revolução de 1817. Cada um imprimiu a sua leitura sobre os acontecimentos de um povo com ideais libertários republicanos que não queria mais se submeter aos abusos da coroa portuguesa.

Nesse arsenal de obras, há desde interpretações para a bênção da bandeira de Pernambuco, idealizada justamente em 1817 (mas oficializada quase 100 anos depois), a representações dos maracatus, que puderam desfilar livremente nas ruas, à época, pela primeira vez. Há ainda registros de episódios trágicos, como o suicídio do padre João Ribeiro, pelas mãos do exímio desenhista Renato Valle, e o fuzilamento do padre Roma, no início da revolução, por Gio Simões, artista conhecida por desenhar mulheres, às vezes com uma pegada mais pop. Como se sabe, os padres tiveram protagonismo nesta e em outras revoluções.

Ao reunir em sua pintura elementos-chave de 1817, é Rinaldo Silva quem resume o espírito que animou não apenas aquele momento, mas permaneceu entre os pernambucanos, mesmo com o massacre dos líderes da revolução em praça pública. 

 

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