Cobertura

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca na Berlinale Shorts

Novo curta da dupla, 'Terremoto santo', definido por eles como um documentário, trata do universo dos jovens que cantam e gravam músicas evangélicas

TEXTO LUCIANA VERAS, DE BERLIM*

17 de Fevereiro de 2018

 Bárbara Wagner e Benjamin de Burca participam pelo segundo ano consecutivo da Berlinale

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca participam pelo segundo ano consecutivo da Berlinale

Foto Divulgação

A cobertura de um evento do porte da Berlinale vai muito além do entrar e sair das salas de exibição. Começa, aliás, com a soma de tudo que vimos, lemos, conhecemos, do repertório adquirido desde quando pegamos aquele livro de Agatha Christie emprestado da vozinha ou fomos levados pelos pais para ver Indiana Jones e o Templo da Perdição no São Luiz. No caso específico da participação da Continente nesta 68a edição do Internationale Filmfestspiele Berlin, tivemos um pouco de sorte. Pois, já dentro do avião da Condor que faria o trecho Recife-Frankfurt, encontramos com a artista visual, fotógrafa e agora cada vez mais realizadora Bárbara Wagner, também a caminho da Berlinale.

Pelo segundo ano consecutivo, Bárbara e seu parceiro artístico, o holandês Benjamin de Burca, concorrem na Berlinale Shorts, a prestigiada competição oficial de curtas-metragens. Terremoto santo, o novo filme da dupla, está ao lado de outras 21 produções de 18 países. Em 2017, foi a vez de Estás vendo coisas, jornada que levou a dupla ao universo particular das gravações dos clipes de bandas bregas no Recife. Os dois filmes repetiram a trajetória: estrearam em uma grande exposição (Estás vendo coisas na Bienal de São Paulo de 2016, Terremoto santo na coletiva que abriu a sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo), passaram na Janela Internacional de Cinema do Recife e depois vieram a Berlim.

E, embora Terremoto santo sobressaia na experimentação da linguagem, ambos os curtas trazem em si muito em comum. “Percebo que fomos aprofundando naturalmente uma pesquisa sobre os corpos e como esses corpos se portam. Primeiro foi em Brasília Teimosa, depois na cultura popular, em seguida o brega e agora com os levitas, que são os rapazes e moças que cantam as músicas evangélicas. Levitas quer dizer ‘a serviço de Deus’. Fomos atrás dos grupos que estão gravando seus CDs e DVDs em uma gravadora em Palmares, na Mata Sul”, conta Bárbara.

Na capital alemã, Bárbara e Benjamin apresentaram seu filme pela primeira vez na tarde deste sábado, 17. Os dois não se importam com as definições comumente atribuídas aos trabalhos – é um filme ou uma videoinstalação? – e buscam aprimorar um modus operandi que torna ainda mais coletivo o jogo de construção do ‘real’ a ser documentado. “Quem faz nosso próprio trabalho de pesquisa somos nós mesmos, somos nós que vamos conversando com aquelas pessoas que queremos entrevistar, que vamos conhecendo-os ao mesmo tempo em que montamos nossa estratégia com a equipe. Tudo aquilo que aparece em cena vem dos personagens – o texto, a roupa, a encenação. Nosso filme é um documentário”, ratifica a diretora.

No avião que nos levaria a Berlinale, ela estava curiosa com relação à recepção de um público estrangeiro. Afinal, o fenômeno da proliferação das igrejas evangélicas é forte no Brasil. Mas defendia que era preciso ir além dessa estratificação no olhar. “O filme não faz apologia à evangelização, e sim mostra como esses jovens percebem a igreja como crença, como fé e como trabalho. Eles não são nossos inimigos”, observava. Além de Terremoto santo, existe um outro curta brasileiro na Berlinale ShortsAlma bandida, de Marco Antonio Pereira (MG). Ambos estão no páreo pelo Urso de Ouro e por uma premiação de 20  mil euros.

*A repórter especial viajou para cobrir o festival através de uma parceira entre a revista Continente e o Centro Cultural Brasil-Alemanha (CCBA).

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