Pelo segundo ano consecutivo, Bárbara e seu parceiro artístico, o holandês Benjamin de Burca, concorrem na Berlinale Shorts, a prestigiada competição oficial de curtas-metragens. Terremoto santo, o novo filme da dupla, está ao lado de outras 21 produções de 18 países. Em 2017, foi a vez de Estás vendo coisas, jornada que levou a dupla ao universo particular das gravações dos clipes de bandas bregas no Recife. Os dois filmes repetiram a trajetória: estrearam em uma grande exposição (Estás vendo coisas na Bienal de São Paulo de 2016, Terremoto santo na coletiva que abriu a sede do Instituto Moreira Salles em São Paulo), passaram na Janela Internacional de Cinema do Recife e depois vieram a Berlim.
E, embora Terremoto santo sobressaia na experimentação da linguagem, ambos os curtas trazem em si muito em comum. “Percebo que fomos aprofundando naturalmente uma pesquisa sobre os corpos e como esses corpos se portam. Primeiro foi em Brasília Teimosa, depois na cultura popular, em seguida o brega e agora com os levitas, que são os rapazes e moças que cantam as músicas evangélicas. Levitas quer dizer ‘a serviço de Deus’. Fomos atrás dos grupos que estão gravando seus CDs e DVDs em uma gravadora em Palmares, na Mata Sul”, conta Bárbara.
Na capital alemã, Bárbara e Benjamin apresentaram seu filme pela primeira vez na tarde deste sábado, 17. Os dois não se importam com as definições comumente atribuídas aos trabalhos – é um filme ou uma videoinstalação? – e buscam aprimorar um modus operandi que torna ainda mais coletivo o jogo de construção do ‘real’ a ser documentado. “Quem faz nosso próprio trabalho de pesquisa somos nós mesmos, somos nós que vamos conversando com aquelas pessoas que queremos entrevistar, que vamos conhecendo-os ao mesmo tempo em que montamos nossa estratégia com a equipe. Tudo aquilo que aparece em cena vem dos personagens – o texto, a roupa, a encenação. Nosso filme é um documentário”, ratifica a diretora.
No avião que nos levaria a Berlinale, ela estava curiosa com relação à recepção de um público estrangeiro. Afinal, o fenômeno da proliferação das igrejas evangélicas é forte no Brasil. Mas defendia que era preciso ir além dessa estratificação no olhar. “O filme não faz apologia à evangelização, e sim mostra como esses jovens percebem a igreja como crença, como fé e como trabalho. Eles não são nossos inimigos”, observava. Além de Terremoto santo, existe um outro curta brasileiro na Berlinale Shorts – Alma bandida, de Marco Antonio Pereira (MG). Ambos estão no páreo pelo Urso de Ouro e por uma premiação de 20 mil euros.