Seletivas para a 7ª Batalha do Casarão instigam a cena hip-hop do Recife
Instituto Iputinga Sociocultural (ISC) promove disputas prévias em seis comunidades da Região Metropolitana do Recife, com inscrições gratuitas e final no dia 31 de agosto no Casarão do Barbalho
25 de Julho de 2025
Wedlon Claudio, presidente do Instituto Iputinga Sociocultural
Foto Instituto Iputinga Sociocultural/Divulgação
O Instituto Iputinga Sociocultural (ISC) está realizando as seletivas da 7ª edição da Batalha do Casarão, um dos eventos mais destacados da cena hip-hop recifense. As seletivas acontecem até o dia 7 de agosto em seis bairros da Região Metropolitana do Recife, em parceria com coletivos de batalhas locais. A participação é gratuita e as inscrições são feitas presencialmente, pouco antes do início das disputas. Em cada local, os MCs se enfrentam com rimas afiadas e criatividade, numa celebração da arte e da resistência cultural das periferias.
As primeiras disputas aconteceram em diversos bairros e já foram selecionadas as seguintes duplas: Batalha da Convenção (Ton & Street); Batalha Walhalla Rap (Ninja & Kog); Batalha do Bronx (Caio & Rick); Batalha Jangamaica (Matuto & Chama); Batalha da Saruê (Scar & Back). A Batalha IburaClan, na UR1, ocorre no dia 4 de agosto; e a Batalha da Várzea, na Praça da Várzea, em 14 de agosto.
Os dois melhores colocados de cada seletiva garantem vaga na Batalha de Rima Tradicional, uma das três categorias da Batalha do Casarão, que acontece no dia 31 de agosto, no Casarão do Barbalho, na Iputinga. Além da tradicional, o evento estreia duas categorias: a Batalha de Rima Feminina e a Batalha de Rima Kids, voltada para crianças de 8 a 13 anos. As inscrições para essas duas categorias serão feitas no próprio dia. Com prêmios que variam de R$ 300 a R$ 1 mil. O também realiza oficina de rima, live painting, um grande painel colaborativo com 15 artistas convidados, feira de empreendedores locais e shows, torneio de basquete 3x3.

Foto: Divulgação
IPUTINGA SOCIOCULTURAL
Com sede no bairro da Iputinga, o Instituto Iputinga Sociocultural (ISC) atua na transformação social de comunidades do Recife por meio da arte, cultura e educação. Inspirado pelo legado da Iputinga como “Bairro dos Artistas”, o ISC utiliza os quatro elementos do hip-hop (breaking, graffiti, DJ e MC) para desenvolver a formação de crianças e jovens da periferia. Suas ações, conduzidas por voluntários, incluem oficinas e aulas gratuitas, eventos culturais, estímulo à economia criativa e a construção de praças públicas. Anualmente, mais de 400 famílias recebem apoio com doações essenciais. O trabalho do Instituto já foi reconhecido com importantes premiações, como o Prêmio Nacional de Cultura Hip-Hop, o Prêmio Periferia Viva, além de homenagens na Assembleia Legislativa de Pernambuco e na Câmara de Vereadores do Recife.
"No Instituto Iputinga Sociocultural (ISC), por exemplo, a cultura hip-hop é instrumento de transformação social. Utilizamos os elementos da cultura hip-hop para desenvolver o protagonismo de crianças e jovens da periferia, por meio de oficinas, eventos, formações e ações voluntárias que fortalecem vínculos e despertam potências. Não existe espaço para rivalidade", afirma Wedlon Cláudio, organizador do evento e presidente do Instituto Iputinga Sociocultural, em entrevista ao site da Continente.
CONTINENTE Quando e ondem surgiram as batalhas de hip-hop?
WEDLON CLAUDIO O hip-hop, originário do Bronx, em Nova York, na década de 1970, é um movimento cultural que surgiu em meio às crises econômicas e sociais dessa época, que atingiam especialmente bairros predominantemente negros e latinos. Foi a partir desse contexto que a cultura hip-hop se tornou uma forma de expressão em resposta aos desafios enfrentados por jovens em comunidades marginalizadas, como pobreza, violência e exclusão social, permitindo que esses jovens encontrassem voz e identidade em meio a contextos adversos.
CONTINENTE Como é que se desenvolvem as batalhas?
WEDLON CLAUDIO A cultura hip-hop envolve quatro elementos principais: o breaking (dança de rua), MCs (mestres de cerimônias), DJs (criadores de bases musicais e peripécias sonoras), rap (ritmo e poesia) e graffiti. A partir disso, sugiram as batalhas de rima, em que os MCs se enfrentam com rimas afiadas e criatividade, como também as batalhas de breaking em que os dançarinhos competem individualmente ou em equipes, mostrando movimentos acrobáticos, estilo e musicalidade.
CONTINENTE Quando as batalhas começaram a ser realizadas no Recife?
WEDLON CLAUDIO Esse movimento chega no Brasil por volta da década de 1980, através de discos importados, programas de rádio, filmes com foco em dança, que gradualmente incorporaram elementos do hip-hop em sua narrativa. O pernambucano Nelson Triunfo é um dos principais nomes que ajudaram a difundir o estilo, juntando muitos dançarinos no centro de São Paulo e posteriormente na Estação São Bento. No Recife, o movimento surgiu na mesma época com locais de encontro no centro da cidade, como o Parque 13 de Maio, a Rua do Hospício e a Avenida Conde da Boa Vista. Figuras notáveis, como Chico Science e Jorge Du Peixe, participaram da primeira festa de hip-hop na cidade em 1989, dançando breaking.
CONTINENTE Quais são as principais batalhas que existem no Recife? Uma das mais famosas era ou é a da Escadaria?
WEDLON CLAUDIO Todas as batalhas têm sua importância dentro dos territórios onde atuam e merecem ser valorizadas por isso. O movimento hip-hop é união e um movimento de resistência. Reconhecendo essa força, estamos realizando as seletivas em parceria com coletivos locais que já são referência na cena recifense, como a Batalha da Convenção, em Beberibe; a Batalha Walhalla Rap, no Skate Park da Caxangá; a Batalha do Bronx, no IPSEP; a Batalha Jangamaica, no Janga; a Batalha IburaClan, na UR-1; para a nossa querida Batalha do Casarão, na Iputinga. O trabalho do Instituto, que tem como base a cultura hip-hop, já foi reconhecido nacionalmente, com prêmios como o Prêmio Nacional de Cultura hip-hop e o Prêmio Periferia Viva, além de homenagens na Assembleia Legislativa de Pernambuco e na Câmara Municipal do Recife.
CONTINENTE Existe rivalidade entre as batalhas ou grupos que participam delas?
WEDLON CLAUDIO A cena das batalhas é diversa e cada coletivo tem sua identidade, linguagem e trajetória. Mas o que buscamos destacar são os pontos de convergência, como a força criativa da juventude, o compromisso com a cultura hip-hop e o impacto positivo que essas iniciativas geram nos territórios. No Instituto Iputinga Sociocultural (ISC), por exemplo, a cultura hip-hop é instrumento de transformação social. Utilizamos os elementos da cultura hip-hop para desenvolver o protagonismo de crianças e jovens da periferia, por meio de oficinas, eventos, formações e ações voluntárias que fortalecem vínculos e despertam potências. Não existe espaço para rivalidade. O que nos move é a união, a visibilidade e o reconhecimento mútuo entre os grupos que fazem o hip-hop resistir e ganhar espaço. Nosso trabalho é somar, respeitar trajetórias e construir pontes para que a cultura continue sendo um caminho de liberdade e futuro para nossa juventude.
CONTINENTE É comum encontrar em locais públicos, como fachadas de edifícios, muros, pontes e viadutos pichações, principalmente de caligrafias e desenhos, feitos sem autorização, o que é considerado crime. Os gestores públicos e muitas pessoas criticam, alegando que suja a paisagem da cidade. Por outro lado, o próprio poder público contrata artistas para fazerem graffiti murais, o que seria uma incorporação ou assimilação da cultura da periferia pelo sistema. Como o movimento hip-hop se posiciona a esse respeito?
WEDLON CLAUDIO O hip-hop não condena a pichação, mas entende a diferença entre as linguagens. Ele critica a criminalização seletiva e a forma como o sistema valoriza a arte periférica só quando ela é ‘domesticada’. Ao mesmo tempo, muitos artistas usam o graffiti autorizado como ferramenta de transformação, educação e resgate da autoestima em seus territórios, esse é o caso do Iputinga Sociocultural.