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Morre Hermeto Pascoal, o bruxo da música universal, aos 89 anos

Artista alagoano faleceu neste sábado (13), aos 89 anos, no Hospital Samaritano Barra, no Rio de Janeiro, de falência múltipla de órgãos

14 de Setembro de 2025

Foto Gabriel Quintão/Divulgação

O mundo perdeu um de seus criadores mais originais e inventivos. O multi-instrumentista e compositor alagoano Hermeto Pascoal morreu neste sábado (13), aos 89 anos, no Hospital Samaritano Barra, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, de falência múltipla de órgãos, conforme informado pelo hospital. O anúncio foi feito pela família e pela equipe do músico em suas redes sociais.

A postagem, carregada de amor e respeito, refletiu o espírito livre de Hermeto: “Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”. A nota acrescentou um detalhe simbólico e poético que marcou sua partida: “No exato momento da passagem, seu grupo estava no palco, como ele gostaria: fazendo som e música”.

Nascido em Lagoa da Canoa (AL), Hermeto Pascoal era um gênio autodidata. Começou a tocar acordeão aos 10 anos e, com seu talento intuitivo, só veio a dominar a escrita de partituras após os 41. Sua música, inclassificável, é uma celebração da vida. Ele transformou objetos do cotidiano – como panelas, chaleiras, regadores e brinquedos – em instrumentos, comprovando sua crença na “música universal”.

Ao longo de sua carreira, Hermeto venceu por três vezes o Grammy Latino e deixou um vasto legado para a cultura brasileira e mundial. Ativo até seus últimos momentos, o artista encerrou sua jornada terrena em plena sintonia com a arte. No final de julho, completou uma turnê de nove shows por sete países europeus. Sua última apresentação no Brasil foi em junho, no Circo Voador, no Rio, em uma grande festa que celebrou seus 89 anos.

Em 2023, seu trabalho ganhou mais um reconhecimento acadêmico internacional quando recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Juilliard School, prestigiada instituição de Nova York que inclui suas obras em seu currículo. No ano passado, lançou o seu 26º álbum, Pra você, Ilza, uma homenagem à esposa já falecida, Ilza Souza Silva. Uma crítica do disco, feita por José Teles, que conversou com o músico, está disponível no site da Continente. E em janeiro deste ano, foi lançado o documentário, no Canal Brasil, O Menino d'Olho d'Água, de Lírio Ferreira e Carolina Sá.

Também em nosso site, está a entrevista que a editora-assistente Débora Nascimento realizou com o gênio em 2017. "A música, pra mim, é isso: tem que ter bom gosto mesmo. E o bom gosto não se aprende. Eu disse isso recentemente na Berklee (onde também recebeu o título de Doutor Honoris Causa). As escolas estão dizendo que estão ensinando composição. Elas reúnem, digamos, 10 alunos. Desses, você tira três, no máximo, que têm aptidão musical. Então, estão só engolindo o dinheiro dos pais e das crianças. Também tem produtor fajuto acabando com nossa música", afirmou o artista.

Hermeto Pascoal deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos. Mas seu maior legado, sua música universal, segue viva, ecoando em cada nota de liberdade e em cada som inusitado que lembra ao mundo que a arte não tem limites. Aconselha a nota publicada em suas redes sociais: "Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira. A música universal segue viva."

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