McCartney faz show descontraído em Florianópolis
Apesar da tensão na cidade, o ex-beatle encerra nova fase da turnê no Brasil com quase três horas de música, no sábado (19)
TEXTO Marcelo Abreu
22 de Outubro de 2024
Paul McCartney com a banda que o acompanha há mais de 20 anos
Foto Marcos Hermes/Divulgação
Paul McCartney tem mais um episódio para acrescentar à sua longa lista de curiosidades nas turnês pelo mundo, colecionadas desde os tempos dos Beatles. Desta vez, na considerada pacata Florianópolis, uma guerra de facções criminosas bloqueou ruas no dia do show, provocou troca de tiros com a polícia e incendiou veículos nas rodovias que dão acesso à cidade. Uma viagem de Curitiba, que leva seis horas, por exemplo, chegou a tomar dez horas. Aparentemente, nada a ver com o show, mas a confusão trouxe tensão à cidade e atrasou o espetáculo em meia hora.
Mesmo assim, em geral, o clima no centro da capital catarinense era de expectativa nostálgica. A bandinha de música Amor à Arte, com 127 anos de existência, se apresentava de manhã, embaixo da enorme figueira da Praça 15 de Novembro, com seus 25 integrantes, tocando sucessos como “Yesterday” e “Here, there and everywhere”. Lojas no comércio da rua Felipe Schmidt procuravam atrair clientes ao som de “Blackbird” ou “All my loving”.
À noite, em cima do palco, McCartney tocou o repertório que vem utilizando na turnê Got Back, com pequenas variações, e mostrou-se mais aberto a improvisações, diante de um público estimado em 31 mil pessoas, que lotou o estádio da Ressacada. Aproveitando a deixa da plateia, que entoava cantos e gritos entre as músicas, por três vezes ele abandonou o roteiro e improvisou trechos de músicas ao piano ou no baixo, sendo acompanhado no improviso pelo resto da banda. Depois de tocar “Something” como homenagem a Harrison, acompanhou o público num improvisado “olê, olê, olê olá, Georgie, Georgie”. Ao ouvir o coro gritando “Paul, eu te amo”, ele parou, tentou entender, e acabou desistindo com esta tirada: “Eu não sei o que vocês estão dizendo, mas eu acho que gosto”.

No capítulo expressões regionais em português, foi a vez de dar à plateia um “boa noite, manezinhos” referindo-se aos nativos da cidade. Mais adiante, elogiando o público, “Floripa, dás um banho”. E repetiu essa que aprendeu em 2023 e é a preferida dos brasileiros, baseado nas gargalhadas que se escuta: “O pai tá on”.
Foi a segunda vez de Paul McCartney em Florianópolis. Em 2012, após os dois shows que fez no estádio do Arruda, no Recife, apresentou-se na Ressacada numa noite de chuva. Desta vez, musicalmente, foram duas horas e 36 minutos de show, 36 músicas apresentadas abrangendo mais de seis décadas, desde “In spite of all the danger” (a primeira gravação amadora dos Beatles, de 1960, ainda em Liverpool) até “Now and then”, cujos retoques finais e lançamento aconteceram somente em 2022.
McCartney segue agora sua turnê rumo ao norte da América do Sul, chegando ao México e depois cruzando para a Europa (Madri, Paris, Manchester e Londres). Em Florianópolis, no final do show, antes de desaparecer numa chuva de papel picado e colorido, ficou a promessa dita em português mesmo: “Até a próxima”.
MARCELO ABREU, jornalista e autor de livros de viagem.