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Sebastião Salgado morre aos 91 anos

Considerado o maior fotógrafo brasileiro e um dos maiores do mundo, o mineiro morreu nesta sexta-feira (23), em Paris; a causa da morte ainda não foi divulgada

23 de Maio de 2025

Sebastião Salgado desenvolveu ensaios contundentes, como o registrado acima no garimpo em Serra Pelada, que resultou no seu primeiro grande livro de fotografias

Sebastião Salgado desenvolveu ensaios contundentes, como o registrado acima no garimpo em Serra Pelada, que resultou no seu primeiro grande livro de fotografias

Foto Sebastião Salgado/Divulgação

Considerado o maior fotógrafo brasileiro e um dos maiores do mundo, Sebastião Salgado morreu nesta sexta (23), aos 81 anos, em Paris. A causa da morte ainda não havia sido divulgada até o final da tarde, pelo horário da França. Mas, segundo amigos próximos, ele sofria com problemas decorrentes de uma malária que adquiriu nos anos 1990. Salgado deixa a mulher Lélia Wanick Salgado, com quem era casado desde 1967, e os filhos Rodrigo e Juliano.

Em nota publicada nas redes sociais, o Instituto Terra confirmou a morte do fundador do projeto. “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade”, diz um trecho do texto. Eles ressaltaram ainda que, através das lentes, o fotógrafo revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder de ação transformadora. “Seguiremos honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar. Nosso eterno Tião, presente! Hoje e sempre”, homenageou o Instituto.

Atualmente, Sebastião Salgado morava em Paris. Durante uma mostra recente na França, o fotógrafo já estava abatido. Segundo pessoas próximas, os remédios que ele tomava não estavam mais funcionando nos últimos anos. Ele tinha um distúrbio sanguíneo causado por malária, contraída na Indonésia e que não conseguiu tratar apropriadamente. Por isso, se aposentou do trabalho de campo em 2024, dizendo que seu corpo estava sentindo “os impactos de anos de trabalho em ambientes hostis e desafiadores”. Em 2024, o fotógrafo deu uma entrevista à revista GQ falando sobre a morte. Na ocasião, Salgado desmentiu boatos sobre aposentadoria depois de uma entrevista ao jornal The Guardian. "Não falei que pararia de trabalhar, só que, aos 80, você atinge uma liberdade inimaginável. O que vier pela frente é lucro", disse à revista.

Atualmente está em cartaz uma retrospectiva da obra de Salgado em Deauville, cidade do litoral norte da França. Na inauguração da exposição, em 1º de março, Salgado emocionou-se com a homenagem. "Algumas vezes as pessoas me dizem que sou um artista, eu digo que não, que sou um fotógrafo", afirmou. Nesse sábado (24), ele iria participar do vernissage de vitrais desenhados pelo filho Rodrigo, que tem síndrome de Down, para uma igreja na cidade de Reims. Na última quinta (22), havia cancelado um encontro com jornalistas, também em Reims, alegando problemas de saúde.

BIOGRAFIA

Considerado um dos fotógrafos mais importantes do mundo, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu na cidade de Aimorés (MG), em 1944. O mineiro foi mestre na arte de retratar a alma humana e do planeta em preto e branco. Suas lentes captaram momentos históricos e gente simples, as maiores belezas da natureza e sua degradação.

Ficou famoso por fazer registros documentais impressionantes, como o da Serra Pelada, na década de 1980, Trabalhadores, e o ensaio Êxodos mostrando povos migrantes pelo mundo. Ao todo, percorreu mais de 120 países.

Em 1996, as lentes de Salgado testemunharam uma das maiores ocupações na história do MST, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. O resultado foi o celebrado livro Terra, editado pela Companhia das Letras, que contou com prefácio do português José Saramago e músicas de Chico Buarque. Amazônia foi outro trabalho impressionante, mostrando em fotos em preto e branco a grandiosidade da floresta.

Salgado registrou a alma humana e do planeta em preto em branco. Ele também eternizou fatos históricos e gente simples, além das maiores belezas da natureza e de sua degradação. Para o editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, a morte de Salgado representa uma "grande perda". "Era um perfeccionista, realmente. Além da amplitude, era muito preocupado com aspectos gráficos."

A Academia de Belas Artes da França, da qual Salgado era membro, descreveu o fotógrafo como uma "grande testemunha da condição humana e do estado do planeta", em comunicado em que anunciou a sua morte.

Ele era formado em Economia, mas descobriu a fotografia em 1973. Desde então, nunca mais deixou essa paixão. Em 1998, ao lado da esposa Leila, fundou o Instituto Terra, em sua luta pelo reflorestamento da Mata Atlântica brasileira e do planeta em geral.

"A fotografia é o espelho da sociedade", declarou ao ser premiado pela Organização Mundial de Fotografia, com sede em Londres, em reconhecimento à sua carreira, em 2024. A frase resumiu o objetivo que buscou, em meio século de trabalho concentrado nos últimos anos na proteção da natureza. "É o prêmio pelo trabalho de uma vida".

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