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Luto no forró: morre Antônio Barros

Compositor paraibano é autor de músicas que viraram grandes sucessos na voz de artistas como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinês, Elba Ramalho, Jorge de Altinho e Ney Matogrosso

07 de Abril de 2025

Foto Reprodução/Instagram

Na manhã do domingo (6), o forró perdeu um de seus maiores compositores. O paraibano Antônio Barros, da dupla Antônio Barros & Cecéu, faleceu, aos 95 anos, em decorrência de Mal de Parkinson, em João Pessoa, na Paraíba.

O compositor assina alguns dos maiores sucessos do gênero musical nordestino, como "Procurando Tu", "É proibido cochilar", "Oia eu aqui de novo", "Por debaixo dos panos", "Forró do Poeirão", "Açúcar no café" e "Não lhe solto mais". Foi gravado por diversos artistas, como Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinês, Elba Ramalho, Jorge de Altinho e Ney Matogrosso, cujo hit "Homem com H", inclusive, intitula a cinebiografia do cantor, que vai estrear nos cinemas no dia 1 de maio. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o Antônio Barros deixa 355 obras musicais gravadas.

O artista sofria de Parkinson, doença degenerativa que, dentre os sintomas, provoca a dificuldade de engolir. Isso gerou uma bronco-aspiração, que levou à internação do paraibano no começo do ano. O velório do cantor e compositor aconteceu a partir das 13h, no Parque das Acácias. O enterro ocorreu às 17h.

Nascido em 1930 na cidade de Queimadas, na Paraíba, ainda criança, Antônio Barros já gostava de ouvir música e cantarolar com os amigos. Pegava uma lata de 20 litros, botava na cabeça e cantava sucessos como Amélia. Barros estudou no Grupo Escolar José Tavares, a primeira escola pública de Queimadas, fundada em 1937. Na infância, aprendeu a tocar violão e pandeiro com o pai de um primo. Aos 13 anos, mudou-se para Campina Grande. Com 17 anos, em uma ida a um cabaré para escutar cantores locais, encantou-se com uma música e ficou surpreso ao descobrir que ela tinha um compositor. "Eu não sabia nem que se fazia música, eu achava que música era como o vento, que chegava assim soprando. Eu não tinha ideia que se fazia música. Eu saí pelo meio da estrada, tangendo um jegue, e fui fazendo um samba. Quando cheguei no sítio, disse para meus primos 'Escuta isso aqui, já ouviram isso aqui? Não? Então, eu fiz uma música'". A partir daí, ele não parou mais.

De Campina Grande, Antônio Barros foi morar no Recife, na década de 1950, quando tocava pandeiro na Rádio Clube. Nessa década, conheceu Jackson do Pandeiro, que se tornou um amigo. Quando Jackson se mudou para o Rio de Janeiro, após a gravação de sucessos como "Sebastiana" e "Forró de Limoeiro", Antônio Barros foi à capital fluminense, onde morou na casa do colega e foi apresentado a diversos outros artistas. Em 1971, ao retornar a Campina Grande, conheceu Cecéu. “Estava escrito nas estrelas”, declarou a compositora, lembrando que já cantava músicas daquele que seria seu futuro marido e parceiro. Após meses de amizade, ele a convidou para formarem uma dupla, chegando a gravar um LP como Tony & Mary, com músicas românticas. Mas foi no forró que conquistaram o público.

Um dos primeiros sucessos, "Brincadeira na Fogueira", gravada pelo Trio Nordestino:

Depois, veio o hit "Procurando tu", que marcou a carreira do Trio Nordestino:

Dentre os artistas que gravaram Antônio Barros, Marinês, a Rainha do Forró:

"É proibido cochilar", sucesso com Os Três do Nordeste, se tornou um dos símbolos dos festejos juninos e uma das músicas mais tocadas na região. Quando João Pessoa fez 437 anos, em 2022, um levantamento do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) mostrou que essa foi a canção mais tocada em shows na capital paraibana nos cinco anos anteriores.

A repercussão da morte de Antônio Barros tomou as redes sociais. Uma de suas maiores intérpretes, Elba Ramalho agradeceu pelos "inúmeros forrós" que cantou. "A música brasileira perde muito no dia hoje. Lá se foi o nosso mestre do forró, Antônio Barros. Homem forte, obra consistente e verdadeira ao retratar nossos costumes, nossos ritmos e nosso jeitinho nordestino de ser e viver!", escreveu, em um post no Instagram. Enquanto a cantora, compositora, atriz e instrumentista Lucy Alves compartilhou, nos Stories, uma mensagem sobre a perda: "Seu nome ecoará eternamente nas festas de São João, nas radiolas das feiras e nos corações de quem vive e ama o forró de raíz".

Santanna, o Cantador, que gravou "Pra que Fogueira", prestou sua homenagem: "Partiu e vai deixar uma lacuna muito grande na nossa cultura popular. Eu sou um dos fazedores de cultura popular e tive o privilégio de gravar suas canções". Já o poeta e compositor Jessier Quirino afirmou: "O São João está de luto. Antônio Barros, pelos próprios a e b da assinatura Antônio Barros, abre solenemente a galeria dos grandes nomes da música regional nordestina, né? Uma vez que ele trafega todos os ritmos, xote, baião, arrastapé, xaxado e é dono de um colar de pérolas musicais do nosso forró, que até se confunde com a tradição".

Em uma das apresentações de Antônio Barros & Cecéu, a dupla, declarada Patrimônio Imaterial da Paraíba, cantou por cerca de 2h40. Sobre a recepção calorosa da plateia, que fez estender o show, o compositor observou: "Deve ser assim no céu. Não tem cansaço. Só energia boa".

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