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Letícia Bastos exalta nordestinidade em “Meu Oxente”

Em EP, cantora pernambucana inspira-se na frase “Não troco meu oxente pelo ok de ninguém”, de Ariano Suassuna, para defender respeito à identidade regional na arte brasileira

17 de Dezembro de 2025

Foto Dara Nunes/Divulgação

“Não troco meu oxente pelo ok de ninguém”, costumava dizer Ariano Suassuna, em suas falas. A frase do autor de Auto da Compadecida foi inspiração para o título e a essência do novo EP da cantora pernambucana Letícia Bastos: Meu Oxente". O álbum da atista faz coro à valorização do universal a partir do local com músicas sobre língua, trejeitos, virtudes, características, afetos e paisagens dessa identidade sob as nuances de um pop com alma nordestina.

O EP Meu Oxente está disponível nas plataformas digitais com seis músicas assinadas pela cantora e compositora e uma releitura do clássico "Feira de Mangaio" (de Sivuca e Glorinha Gadelha), cujo clipe gravado na Feira de Caruaru bate meio milhão de visualizações no YouTube e coleciona outros milhares de acessos no TikTok. “É um manifesto de pertencimento. Um trabalho autoral que nasce da minha escrita, da minha voz, do meu sotaque e das histórias que carrego comigo desde sempre. Cada faixa revela uma camada da cultura nordestina: a força, a leveza, a saudade e o desejo. É olhar para dentro, com verdade, e cantar de onde venho, com orgulho”, resume a cantora.

O enaltecimento da diversidade artística e geográfica proposto pelo álbum se estende à defesa do empoderamento da voz feminina pelo direito de se expressar a partir de parâmetros próprios, únicos, sem adequação a medidas, regras, enquadramentos alheios. “Como mulher nordestina que carrega um sotaque forte e inegociável, quis levantar essa bandeira com orgulho e reafirmando que nossa forma de falar, sentir e existir não precisa ser suavizada para ser ouvida”, diz Letícia.

A faixa-título do álbum tem tons provocativos ao denunciar uma contradição (ou inveja) entre o menosprezo de conotações xenófobas e o desejo de pertencer ao espaço do outro. “Eu não troco meu oxente pelo ok de seu ninguém/Falam tanto do falar da gente/Mas querem ser daqui também”, dispara o refrão. A sonoridade aglutina elementos característicos da música feita no Nordeste - da marcação do triângulo aos acordes de sanfona e às batidas de maracatu, entrecortados por coro similar a toadas de lavadeiras.

“A canção nasce do desejo de afirmar a força do sotaque, da fala e das raízes, em contraposição à ideia de que é preciso suavizar ou ‘traduzir’ quem se é para ser ouvido”, resume. O clipe, disponibilizado no YouTube após o lançamento, tem locações em Olinda entre adereços da simbologia cultural pernambucana (La Ursa), no Grêmio Henrique Dias (pioneiro no ensino do frevo profissional), com caboclo de lança solitário de maracatu, na rua e em botecos, para fundir tradição e cotidiano, imaginário e realidade.

Os clipes das músicas do novo EP tem cronograma com lançamentos distribuídos nas semanas seguintes à disponibilização do álbum nas plataformas. Serão acessíveis ao público a cada sexta-feira, às 11h, no perfil da cantora no Instagram (@leticiabastos) e no canal do YouTube (youtube.com/leticiabastosoficial). 

TRAJETÓRIA
Letícia Bastos despontou para o cenário da música nacional com a participação no programa The Voice Brasil apresentado na Globo - ela figurou no time do sertanejo Michel Teló. A cantora lançou dois discos - Solteira de Vez (2017) e Let’s (2021) - e tem participado ativamente de ciclos da música pernambucana com shows e apresentações em períodos festivos, como carnaval e São João. Em 2025, a cantora empreendeu uma mudança na carreira e enveredou com mais incisividade pelo pop nordestino.

SERVIÇO
EP “Meu Oxente”, de Letícia Bastos
Onde: nas plataformas digitais 

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