Agenda

Territórios e afetos indígenas

O Itaú Cultural realiza, de 1 a 5 de outubro (terça-feira a sábado), a 8ª edição do Mekukradjá – círculo de saberes, com shows, debates e exibição de filme

30 de Setembro de 2024

O músico indígena Gean Pankararu é um dos curadores da programação

O músico indígena Gean Pankararu é um dos curadores da programação

Foto Divulgação

O Itaú Cultural realiza, de terça-feira (1) a sábado (5), a 8ª edição do Mekukradjá – círculo de saberes, cuja proposta é refletir e trocar conhecimento sobre os diferentes povos originários. Com curadoria do músico indígena Gean Ramos Pankararu e a ativista, psicóloga e escritora Geni Núñez, o tema deste ano é "Territórios – chão e afeto". Durante cinco dias, o evento apresenta três shows com artistas indígenas de diferentes estilos musicais, quatro círculos de conversas e dois encontros abertos com a curadoria sobre ancestralidades indígenas e negras, diversidade e saúde. Faz parte da programação, também, a exibição presencial, e posterior disponibilização na Itaú Cultural Play, do documentário Mekukradjá: Territórios – chão e afeto, com registros da primeira parte desta edição realizada em 2023, em território Pankararu, em Pernambuco.

Conversas

No dia 1 de outubro (terça-feira), às 14h, o evento tem abertura com o primeiro Círculo de Conversas: O reflorestamento simbólico e na prática. Nele, Eronides Ramos Andrade Pankararu, técnico em agropecuária e responsável pelo viveiro de mudas nativas da caatinga, em Pernambuco, e Jerá Guarani, agricultora de sementes tradicionais e liderança comunitária da aldeia Kalipety, em São Paulo, conversam sobre a importância afetiva e prática das plantas, e sobre as estratégias do reflorestamento a partir de diferentes territórios. A mediação é de Clarice Pankararu, nascida na aldeia Brejos dos Padres (PE) e moradora e articuladora da comunidade Pankararu no Real Parque (SP).

Às 19h desse mesmo dia, será exibido o documentário Mekukradjá: Territórios – chão e afeto (2023), produzido por uma equipe Pankararu e Guarani, durante a primeira parte do encontro Mekukradjá. Após a exibição, Gean Pankararu e Geni Núñez conversam com a artista visual baiana Arissana Pataxó, sob mediação de Galiana Brasil, gerente de Curadorias e Programação Artística do Itaú Cultural, sobre as experiências de trocas entre afeto e território que marcam a discussão desta edição do Mekukradjá.

O encontro encerra com a apresentação do Ritual Buzzo Pankararu – dança realizada em momentos de celebração. O documentário que, no mesmo dia, entra em cartaz na plataforma Itaú Cultural Play, traz depoimentos de Geni, Gean e do escritor e líder quilombola Nego Bispo (1959-2023). O filme aborda manifestações artísticas e ritualísticas e apresenta a perspectiva de vida das comunidades indígenas da Aldeia Bem Querer de Cima, na Terra Indígena Pankararu (PE) e dos quilombolas. O registro aborda a importância do território como fonte de vida e como fruto da conexão entre a comunidade e a natureza.

Passado e futuro

Na quarta-feira (2), às 11h, ocorre o Encontro com Gean Ramos Pankararu. Nessa conversa, ele falará sobre sua trajetória, marcada pelas
ancestralidades indígenas e negras, e sobre suas experiências e ações voltadas à conservação e ao resgate das origens, com a proposta de estabelecer diálogos entre a tradição e as juventudes.

Esse olhar para as novas gerações também está presente no Círculo de Conversas Manutenção das tradições nos territórios – Quais os lugares das juventudes?, às 17h. Nele, Gean faz a mediação do bate-papo entre a ativista e artista Elisa Para Poty, do povo Guarani Mbya de Santa Catarina, moradora na Terra Indígena Jaraguá (SP), e o fotógrafo, videomaker e educador cultural Mateus Wera, desse mesmo povo em São Paulo e também Pankararu de Pernambuco, sobre desafios e renovações das tradições nos territórios a partir da passagem da liderança para figuras mais jovens.

A programação do dia encerra às 20h, com Círculo de Conversas O asfalto vai derreter – Homenagem a Mestre Nego Bispo, reunindo as quilombolas Ana Mumbuca, do quilombo Mumbuca Jalapão, no Tocantins, e doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB), e Joana Maria, residente na comunidade Quilombola Saco Curtume, em São João do Piauí, e pós-graduada em Tecnologias da Educação e em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça. Nesse encontro, mediado por Geni Núñez, elas celebram a memória de Nego Bispo, ressaltando suas principais contribuições para a luta contracolonial e para a poesia de
outras formas de vida.

No dia 3 (quinta-feira), às 11h, a programação é retomada com mais um Encontro com curador, desta vez com Geni. Com o título Diversidade e saúde: a arte como caminho, a atividade se propõe a abrir espaços para novos conceitos vindos dos povos originários, como fé, sexualidade e pensamento, por meio de exercícios literários e musicais. Às 17h, o Círculo de Conversas aborda O nascimento originário, reunindo as parteiras Bárbara Maria Pankararu, Juliana Pankararu e Mãe Dora Pankararu, vindas de diferentes aldeias Pankararu de Pernambuco. Sob mediação de Mateus Wera, elas falam sobre suas experiências com a arte e o compromisso de facilitar o nascimento.

No palco

A série de shows da 8ª edição do Mekukradjá começa no dia 3 (quinta-feira), às 20h, quando a Sala Itaú Cultural recebe Gean Ramos Pankararu. Com participação do grupo de coral guarani Kyre’y Kuery, ele apresenta o show Se Orú Obaí, com o qual seguiu em uma série de apresentações iniciadas em 2023, como a 19ª edição do festival Aldeia do Velho Chico, em Petrolina (PE), na 10º Bienal Internacional do Livro de Maceio (AL).

Na sexta-feira, dia 4, também às 20h, é a vez de Edivan Fulni-ô, cantor, compositor, produtor, comunicador, performer, poeta, modelo e “artevista”. Artista que se autoqualifica indígena, preto e nordestino, originário tanto da aldeia quanto do quilombo, ele carrega no sangue e na música sua dupla ancestralidade, ocupando palcos e telas na reformação de sua identidade. Sua proposta é superar obstáculos do
racismo estrutural e demarca esses espaços com sua voz e originalidade. Sábado, dia 5, mesmo horário, os shows de Mekukradjá são encerrados com a apresentação da rapper Souto MC no show Flow Marginal, seu mais recente trabalho.

Ela iniciou sua trajetória musical em 2008 e traz, nesse novo show, uma mensagem sobre encontrar força interior, mesmo em meio ao caos do mundo exterior, destacando a importância de se apegar à própria essência como esperança para um futuro melhor.
Sobre o Mekukradjá A primeira edição do Mekukradjá – círculo de saberes aconteceu em 2016, com ciclos de conversas traçando diálogos com os diversos campos das artes – como a literatura, o cinema e as artes visuais – e nas áreas dos direitos, do território e das questões
sociais e econômicas. Palavra de origem caiapó – etnia que ocupa o Mato Grosso e o Pará –, Mekukradjá significa sabedoria, e transmissão de conhecimentos, o que dá base aos propósitos da programação do Itaú Cultural.

Todas as edições vêm dando luz à preservação da tradição, a demanda por políticas públicas e culturais, o papel da memória, a identidade e linguagem, questões de gênero e política cultural, entre outros assuntos, como língua, terra e território. Em 2024, a programação estreia um novo formato, realizado em dois momentos. Em agosto de 2023, a curadoria e uma equipe do Itaú Cultural participaram de uma
imersão na Aldeia Bem Querer de Cima, do povo Pankararu, no município de Jatobá, em Pernambuco. O evento deu base às atividades agora realizadas no IC, em São Paulo, presencialmente.

SERVIÇO

8ª edição do Mekukradjá – círculo de saberes
Territórios – chão e afeto
Onde: Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149, próximo à estação Brigadeiro do metrô)
Quando:
De terça-feira a sábado, das 11h às 20h. Domingos e feriados, das 11h às 19h
Informações: www.itaucultural.org.br As apresentações são gratuitas e acontecem de quinta-feira a sábado. As reservas dos ingressos devem ser feitas pela plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú Cultural

veja também

Chicão se apresenta em Maracaípe

Decoração do Carnaval em exposição no Paço do Frevo

Fernando Peres exibe seus registros audiovisuais em “Tempo Bruto”