Foi esse olhar para o futuro que possibilitou a Shorty conquistar admiradores como o trompetista Wynton Marsalis e o guitarrista The Edge, do U2. Ou o pianista Allen Toussaint, uma lenda viva do jazz, e o roqueiro Lenny Kravitz, em cuja banda Shorty tocou durante alguns anos. “Lenny me tirou da escola para tocar com ele. Um amigo nosso o convenceu a me colocar em um voo para Miami, eu toquei para ele e pronto. Foi incrível poder tocar naquela banda e ganhar tanto conhecimento.”
Não por acaso, tanto Toussaint quanto Kravitz fazem participações especiais em Backatown. Ao piano, Toussaint pontua a segunda das 14 faixas do disco, On your way down – um clássico do compositor que ganha releitura mais agitada com Shorty. “Estive com Allen em alguns shows no ano passado, e é sempre uma honra dividir o palco com ele. Graças a Deus, ele gostou de On your way down do jeito que fizemos. Construimos uma ponte entre o novo e o velho”, diz. Já Kravitz faz backing vocal e empresta certa pegada roqueira à suingada Something beautiful.
Right to complain é outro exemplo de como o rock está a serviço do som de Shorty. Mas é em Suburbia, Where Y’at e The cure que ele mostra todo o peso que sua música pode ter, com guitarra e sopros colaborando um com o outro. Para jazzófilos tradicionalistas, é “deixe-o”, mais do que “ame-o”. Hurricane season (referência ao furacão Katrina, que assolou Nova Orleans em 2005), Quiet as kept e In the 6thsão da mesma safra, caminhando pelo funk e privilegiando os sopros.
Seguindo por outra linha, Neph começa com um batuque percussivo abrindo caminho para o trompete de Shorty, ecoando os tempos do Dizzy Gillespie afrocubano. E, sem perder a unidade sonora, a mira de Shorty ainda pode apontar para a baba romântica mais rasgada, como em Fallin’. Ou para um pop como One night only (The march), radiofônico, mas com um insuspeito solo de trombone. Ou para as bandas de rua de Nova Orleans, como na faixa-título, e, principalmente, na curtíssima 928 Horn Jam – composição dele próprio com três dos seis integrantes do seu conjunto, o Orleans Avenue. Banda que também é responsável pelo som multifacetado de Shorty. “Temos gente de diferentes experiências culturais, que escuta música de vários estilos, e fazemos isso funcionar. O som do grupo se desenvolveu dos gostos de cada um, filtrados pelo som que eu queria.”
RAFAEL TEIXEIRA, jornalista.