Cobertura

Ao gosto do mercado fonográfico

Uma das maiores vitrines para novas apostas musicais moldarem suas carreiras internacionais, a edição latino-americana do Midem movimenta o Rio com shows, debates e trocas na área

TEXTO GUSTAVO LEITÃO, DO RIO DE JANEIRO*

27 de Novembro de 2018

Adango Salicia Zulu e Joyce Cândido cantaram juntas 'África raiz', uma canção em português e dialeto camaronês

Adango Salicia Zulu e Joyce Cândido cantaram juntas 'África raiz', uma canção em português e dialeto camaronês

Foto Marie-Charlotte/Divulgação

Depois do temporal da véspera, o Rio de Janeiro seguia em estado de atenção meteorológica enquanto as primeiras atrações subiam ao palco do Midem Latin America Forum, na Praça Tiradentes. A segunda-feira cinzenta (26/11), com pancadas espaçadas de chuva, estava bem distante do estereótipo cidade sol-e-bossa cantado por alguns dos artistas escolhidos para representar o país na primeira edição latina do conhecido fórum de música e negócios.

Criado na França, em 1967, o encontro é uma das maiores vitrines para novas apostas musicais moldarem suas carreiras internacionais. Este ano, começou a fincar pé em outros territórios. Fez quatro paradas em países africanos e chegou à América Latina via Brasil, para dois dias de discussões e networking em um casarão histórico do centro do Rio.

Doze atrações foram selecionadas pelo Sebrae/RJ, parceiro do fórum, para ocupar o palco montado na praça, em shows abertos ao público. É a porção mais extrovertida do evento, cuja programação é dominada por debates e intercâmbio de experiências entre produtores, agentes e executivos de gravadora credenciados. Artistas latinos como Gilberto Gil, Compay Segundo e Maná já se apresentaram nas edições de Cannes, a cidade-sede.

Por aqui, a integração dos hermanos não chegou a acontecer. No primeiro dia de shows, segunda (26), a única estrangeira a pisar na praça foi Adango Salicia, nascida no Gabão e radicada em Camarões. A cantora simboliza um dos propósitos do Midem, a colaboração internacional. Descoberta na rodada africana do fórum, ela dividiu coxia em Cannes com a brasileira Joyce Cândido e juntas cunharam África raiz, uma canção em português e dialeto camaronês que estreou na edição carioca. Sozinha, Adango se arriscou (e triunfou) com Você abusou, de Antonio Carlos e Jocafi, numa versão temperada com sotaque.


Fernanda Abreu e Jana Linhares. Foto: Marie-Charlotte/Divulgação

Além das duas artistas, esta segunda-feira na Praça Tiradentes foi tomada por variações sobre o universo do samba e da bossa nova, o que dá pistas do Brasil que o mercado fonográfico ainda valoriza como moeda internacional. A abertura se concentrou nos artistas do eixo Rio-São Paulo, sem grandes voos experimentais e sem perder de vista os jornalistas e empresários estrangeiros que se juntam ao público de fora naquela plataforma.

De voz polida, a carioca Flávia Dantas enfileirou clássicos inoxidáveis como Bonita e Ela é carioca. Em seguida, Jana Linhares passeou pelo repertório de Perto da lua, álbum que revisita a obra de Nelson Cavaquinho em embalagem eletrônica. Os arranjos são de Rodrigo Campello, veterano produtor de Fernanda Abreu, que também subiu ao palco para uma participação. A cantora elevou o tom com os graves profundos de Tambor, faixa do recente Amor geral, em colaboração com o mítico Afrika Bambaataa.

O acorde destoante da noite ficou por conta da banda Melim, o chamariz de boa parte do público jovem ali presente. Formado em Niterói (RJ), o grupo composto pelos irmãos Diogo, Rodrigo e Gabi é um investimento pesado da gravadora Universal. Vencedora do programa Superstar, da Rede Globo, a banda faz um pop acessível, com pitadas de reggae, o que levantou a plateia e um mar de smartphones. O trio tocou músicas próprias e covers como Uma brasileira (Paralamas), Vamos fugir (Gil) e Three little birds (Marley).


A banda Melim foi o chamariz de boa parte do público jovem do Midem.
Foto: Marie-Charlotte/Divulgação

Nesta terça (27/11), estão previstos shows dos brasileiros Marcos Suzano e Marcelo Vig, Leandro Fregonesi, Raquel Coutinho, e Far From Alaska, a banda de Natal que anda conquistando espaço no cenário do rock internacional, além da Mitú, duo de música eletrônica colombiano em ascensão no mundo dos festivais internacionais. A programação tem ainda outra rodada de debates sobre temas como direitos autorais e estratégias digitais.

GUSTAVO LEITÃO é repórter de cultura, com passagens por veículos como O Globo, Jornal do Brasil e O Dia. Também editou o site Filme B, especializado em mercado de cinema.

*O repórter está cobrindo o evento a convite da Continente, um dos veículos chamados pela assessoria do Midem para acompanhar o fórum de música e negócios no Rio. 

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